A comparação da atividade genética de humanos com a de chimpanzés sugere que o Homo sapiens está evoluindo de forma mais lenta que os macacos. A descoberta foi feita por cientistas que investigam por que o homem e seu primo mais próximo são tão diferentes, apesar de terem 98% do DNA idêntico.
O segredo das diferenças
físicas e comportamentais está em quais genes são de fato ativos em cada
espécie. Analisando células embrionárias, a brasileira Carolina Marchetto, do
Instituto Salk, de San Diego (EUA), descobriu mecanismos que freiam a taxa de
transformação genética da espécie humana.
A descoberta favorece a
hipótese de que o advento da cultura desacelerou a evolução biológica: uma vez
que humanos se adaptam a distintos ambientes usando o conhecimento, nossa
espécie não depende mais tanto de variação genética para evoluir e sobreviver a
mudanças.
Já os macacos, mamíferos de
cognição mais limitada, precisam que seu DNA evolua de forma rápida para
sobreviver a mudanças: eles não têm como compensar a falta de características
inatas necessárias usando apenas conhecimento e tecnologia.
Mas o DNA humano também não
carece de evoluir? “Não sabemos o que estamos pagando por isso em termos de
adaptação, mas por enquanto funciona de forma eficiente”, diz Marchetto.
O trabalho da cientista,
descrito hoje na revista “Nature”, ajuda a explicar o mistério da maior
diversidade do DNA símio. Um leigo pode achar que todos os chimpanzés são
iguais, mas uma só colônia selvagem desses macacos na África tem mais
variabilidade genética do que toda a humanidade.
O pulo do gene –
Segundo o estudo de Marcheto, a maior variabilidade genética dos macacos tem a
ver com os chamados transpósons, genes que saltam de um lugar para outro dos
cromossomos. Nesse processo, os transpósons reorganizam o genoma, ativando
alguns genes e desativando outros.
Esses “genes saltadores” são
bastante ativos em chimpanzés e bonobos (macacos igualmente próximos da
linhagem humana). Em humanos, o transpóson é suprimido por dois outros genes
que são ativados em abundância e inibem o “pulo” genético.
Chimpanzés, de certa forma,
precisam de transpósons. Com ferramentas rudimentares e sem linguagem para
transmitir conhecimento, eles têm de oferecer maior variabilidade genética à
seleção natural para que ela os torne mais bem adaptados, caso o ambiente se
altere.
A pesquisa de Marchetto só foi
possível porque seu o laboratório no Salk, liderado pelo biólogo Fred Gage,
domina a técnica de reverter células ao estágio embrionário.
O material usado na pesquisa
foi extraído da pele de macacos e pessoas, pois há uma série de limitações para
o uso de embriões em experimentos científicos.
Revertido ao estágio de
“células pluripotentes induzidas”, o tecido cutâneo se comporta como embrião, e
é possível investigar a biologia molecular dos estágios iniciais do
desenvolvimento, quando o surgimento de diversidade genética tem consequências
futuras.
“Uma das coisas especiais do
nosso estudo é que a reprogramação de células de chimpanzés e bonobos nos dá um
modelo para começar a estudar questões evolutivas que antes não tínhamos como
abordar”, diz Marchetto.
Rumo ao cérebro – As
diferenças de ativação de genes entre humanos e chimpanzés, explica, não se
restringem a células embrionárias. A ideia de Marcheto e de seus colegas agora
é transformar essas células em neurônios, por exemplo, para entender como a
biologia molecular de ambos se altera durante a formação do cérebro.
(Fonte:
Folha.com)