Uma proteína extraída de uma lagarta por pesquisadores brasileiros se mostrou eficaz para combater o vírus do sarampo e o da gripe A (H1N1), informaram fontes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Os cientistas do Instituto
Butantã identificaram na hemolinfa (sangue dos insetos) da lagarta substâncias
com alta potencialidade para combater os vírus, segundo comunicado da Fapesp,
que financiou o estudo.
“Ainda não sabemos exatamente a
composição química dessa substância, mas ela já demonstrou ter um grande
potencial: reduziu em duas mil vezes a replicação do picornavírus (um parente
do vírus da poliomielite) e em 750 vezes a do vírus do sarampo, além de ter
neutralizado o H1N1″, garantiu o virólogo Ronaldo Zucatelli Mendonça, citado na
nota da Fapesp.
O pesquisador admitiu que os
dados são preliminares e que no final do trabalho será possível descobrir um
poder de combate ainda maior.
A proteína identificada pelos
cientistas foi extraída de uma lagarta da família Megalopygidae. Segundo o
especialista, diferentes estudos demonstraram que as substâncias presentes na
hemolinfa dos insetos têm ação efetiva contra micro-organismos como vírus,
bactérias e fungos.
Os profissionais do Instituto
Butantan já tinham identificado uma proteína da Lonomia obliqua, uma lagarta da
família Saturniidae, que, em testes de laboratório, mostrou ser capaz de
reduzir em um milhão de vezes a replicação do vírus da herpes e em dez mil
vezes a do vírus da rubéola.
A potencialidade da proteína da
Lonomia obliqua foi destacada em um artigo científico publicado em 2012 na
revista internacional “Antiviral Research” pelos próprios pesquisadores do
Butantã.
Ambas as proteínas, segundo a
pesquisa, demonstraram ter uma ação efetiva contra os vírus e serem capazes de
promover a apoptose (morte celular programada) de células invasoras ou
danificadas.
Esta última propriedade também
as transforma em candidatas a matéria-prima para remédios contra o câncer, de acordo
com a Fapesp.
Os pesquisadores já
desenvolveram métodos para obter as proteínas em laboratório mediante técnicas
genéticas que aumentam a escala de produção e simplificam o processo.
“O aproveitamento das
substâncias na indústria ainda exige testes em animais e clínicos (com humanos)
para verificar se as substâncias são seguras e eficazes e se o processo é
viável economicamente”, garantiu o pesquisador.
As lagartas estudadas pelo
Instituto Butantã estão entre as urticantes, que representam ameaça para a
saúde humana devido à presença de cerdas em seu corpo que produzem um veneno
que pode até levar à morte.
A instituição as utiliza,
principalmente, para obter o veneno a partir do qual se produz um soro contra
queimaduras.
(Fonte: Terra)