Promovendo a união dos carbonos

Nobel de Químíca reconhece trabalhos de pesquisadores que desenvolveram reações capazes de produzir moléculas orgânicas complexas para a medicina, a eletrônica e outras áreas

© Universidades de Delaware, Purdue e Hok
Richard F. Heck, Ei-ichi Negishi e Akira Suzuki: trio desenvolveu as chamadas reações de acoplamento catalisadas por paládio, uma ferramenta fundamental para a síntese orgânica de moléculas complexas

Richard F. Heck, Ei-ichi Negishi e Akira Suzuki: trio desenvolveu as chamadas reações de acoplamento catalisadas por paládio, uma ferramenta fundamental para a síntese orgânica de moléculas complexas

Dois japoneses e um norte-americano foram os agraciados com o Nobel de Química de 2010 pelo desenvolvimento das chamadas reações de acoplamento catalisadas por paládio, uma ferramenta fundamental para a síntese orgânica de moléculas complexas, hoje amplamente usadas em áreas tão diversas como a medicina, a agricultura e a eletroeletrônica. Por estudos iniciados há mais de 40 anos nesse campo, Akira Suzuki, de 80 anos, professor emérito da Universidade de Hokkaido, Ei-ichi Negishi, de 75 anos, professor de química da Universidade Purdue, e Richard F. Heck, de 79 anos, professor emérito da Universidade de Delaware, dividirão em partes iguais o prêmio em dinheiro de US$ 1,5 milhão dado pela Real Academia de Ciências da Suécia.

“Estou muito contente”, disse Richard Heck, que está aposentado e hoje mora nas Filipinas, à agência de notícias Associated Press. Ele admitiu que, num primeiro momento, não tinha ideia de qual seria a importância de seus trabalhos na área. “Mas ela cresceu com o tempo”, afirmou. Ei-ichi Negishi confessou que a notícia do Nobel não o pegou totalmente de surpresa. “Havia algumas pessoas que andavam murmurando sobre isso”, afirmou Negishi. Segundo o comitê do Nobel, o impacto da adoção desse tipo de reação de acoplamento para a produção de moléculas na medicina é enorme: um quarto de todos os remédios sintetizados atualmente é fabricado com alguma variante da técnica. Na eletroeletrônica, os chamados OLEDs, ou LEDs orgânicos, diodos que emitem luz, também são criados com o auxílio desse tipo de reação.

Para fabricar compostos mais sofisticados ou reproduzir no laboratório grandes moléculas encontradas na natureza, os químicos precisam alterar uma característica do carbono, elemento-base da vida: seus átomos são estáveis e não se ligam facilmente entre si. Várias técnicas já foram concebidas para resolver o problema. Nenhuma delas, no entanto, mostrou-se tão eficiente e limpa (sem gerar tanto resíduos químicos) quanto as reações de acoplamento catalisadas por paládio. Como o nome indica, nessas reações o paládio é o elemento que inicia, que estimula, as ligações os carbonos. Com o empurrão dado pela presença desse elemento, os carbonos que normalmente não se ligariam tornam-se reativos e formam complexas moléculas orgânicas.

Heck foi o primeiro a usar, em 1968, o paládio como catalisador das ligações de carbono. No final dos anos 1070, Negishi introduziu compostos de zinco para facilitar a atuação do paládio e Suzuki adicionou o boro a esse tipo de reação, obtendo resultados ainda melhores.

Além do prêmio de 2010, o Nobel de Química foi dado em outras quatro ocasiões a cientistas que trabalharam com o tema das ligações de carbono, base de toda a vida: a reação de Grignard (1912), a reação de Diels-Alder (1950), a reação de Wittig (1979) e metátese de olefina (2005). É interessante ressaltar que o Nobel de Física deste ano foi para os descobridores do grafeno, um novo material composto exclusivamente de átomos de carbono. Pelo jeito, a Real Academia de Ciências da Suécia elegeu 2010 como o ano da ciência do carbono.

(Fasesp)

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