A força dos ventos

Potencial eólico brasileiro movimenta pesquisa para o desenvolvimento de geradores de pequeno porte


Dinorah Ereno

© Renato de Aguiar
Praia de Formosa em Camocim, no Ceará

Moinhos de vento de cerca de 110 metros de altura transformam em energia os ventos alísios que sopram constantemente durante todo o ano nas costas e no interior do Nordeste brasileiro, assegurando aos parques eólicos instalados na região uma produtividade bem acima da média mundial. “Os parques eólicos de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte produzem bem mais do que os da Europa, China ou Estados Unidos”, diz o engenheiro aeronáutico Odilon Camargo, um dos donos da empresa Camargo Schubert, de Curitiba, no Paraná, responsável pelo Atlas do potencial eólico do território brasileiro, lançado em 2001 pelo Ministério das Minas e Energia e Eletrobrás. O atlas apontou um potencial eólico para o Brasil da ordem de 143 gigawatts, ou seja, 10 vezes a capacidade de Itaipu. “O potencial estimado naquela época já era maior do que tudo o que se tem hoje instalado em termos de geração de eletricidade, que é da ordem de 100 gigawatts”, diz Camargo, que antes de se tornar empresário era pesquisador do Centro de Tecnologia Aeroespacial (CTA) do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, no interior paulista.

Esses ventos excepcionais, aliados a projetos de grande escala em extensões de área com baixa ocupação demográfica e à crise do crédito mundial em 2009, que fez a oferta de máquinas ser maior em relação à procura, levaram as empresas nacionais e algumas multinacionais a investir no promissor mercado brasileiro. O resultado disso é que o preço médio da energia eólica baixou consideravelmente nos dois leilões de energia renovável promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica em dezembro de 2009 e agosto de 2010, tornando-a altamente competitiva. Em dezembro do ano passado, com a contratação de 1.808 megawatts (MW) para entrega até julho de 2012, o megawatt-hora ficou em R$ 148,30. Já em agosto, com a encomenda de 70 novas usinas que somam 2.047 MW para entrega em outubro de 2013 – capacidade que corresponde a mais de uma vez e meia a usina nuclear de Angra 2 –, o megawatt-hora caiu para R$ 130,86, bem mais baixo que o valor ofertado pelas usinas movidas a queima de bagaço de cana (R$144,20) e pelas pequenas centrais hidrelétricas (R$141,93).

Alternativa energética – Matéria publicada no caderno de Negócios do jornal O Estado de S.Paulo no dia 25 de outubro relata que é recente a efervescência no setor. “Tem pouco mais de um ano. Antes disso, o preço da energia eólica era inviável para a realidade brasileira. Mas os ventos mudaram e os projetos deixaram de fazer parte da ideologia dos ambientalistas para virar alternativa de abastecimento energético do país.” A mudança dos ventos trouxe em seu rastro empresas de todas as partes do mundo, como a argentina Impsa e a norte-americana General Electric, que já estão produzindo. Na disputa pelo mercado brasileiro estão ainda a espanhola Gamesa, a indiana Suzlon, a dinamarquesa Vestas e a alemã Siemens, além da francesa Alstom. Pioneira no Brasil, a Wobben de Sorocaba, com a tecnologia da alemã Enercon, continua a se manter entre as líderes de nosso mercado.

Embora tenha o maior parque eólico da América Latina e a sua capacidade instalada atual de 835 MW tenha aumentado em 15 vezes nos últimos 10 anos, os ventos ainda correspondem a menos de 1% da energia produzida no Brasil. No ranking dos países produtores, os Estados Unidos lideram com 35 gigawatts (GW) – ou 35 mil MW – de capacidade instalada. Na sequência vêm a China, com 26 GW, e a Alemanha, com 25,8 GW, segundo a Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, na sigla em inglês). Enquanto as fabricantes multinacionais dominam o fornecimento de máquinas para os projetos ganhadores dos leilões e respondem pelos maiores investimentos no país, nas universidades e centros de pesquisa brasileiros o foco de interesse é o desenvolvimento de aerogeradores ou geradores eólicos – equipamentos que formam um conjunto com as pás feitas normalmente de fibra de vidro e um gerador elétrico – de pequeno porte, apropriados para uso em comunidades isoladas, fazendas ou áreas sem acesso à energia convencional. Eles seguem a trilha aberta pelo engenheiro aeronáutico Bento Koike, da empresa Tecsis, de Sorocaba, no interior paulista, que também trabalhou no CTA e, ao sair, dedicou-se ao desenvolvimento de uma tecnologia própria para fabricação das pás dos aerogeradores, que hoje são um sucesso de mercado. Sua empresa chegou a fabricar cerca de 7 mil pás sob encomenda por ano, com comprimento de 40 a 50 metros, e tem contrato de fornecimento com a GE e outros fabricantes de peso do mercado mundial de aerogeradores.

Pequenos no mercado – Um dos projetos realizados por pequenas empresas iniciado em 2003 pela Eletrovento, que na época estava abrigada na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), resultou em dois geradores eólicos de baixa potência, um de 0,5 e outro de 2 quilowatts (kW), que estão prontos para serem comercializados. Máquinas capazes de transformar a energia cinética dos ventos em energia elétrica, os aerogeradores são dotados de sensores que identificam a direção e a intensidade do vento e se ajustam para aproveitar o maior potencial em cada momento.

Os modelos mais populares são os horizontais de três pás, por apresentarem maior eficiência energética em decorrência da melhor distribuição das tensões diante das mudanças da direção do vento. A energia obtida pode ser transferida diretamente para a rede elétrica convencional ou utilizada em sistemas isolados. Coordenado pelo engenheiro eletrônico Cassiano Nucci Paes Cruz, o projeto apoiado pela FAPESP na modalidade Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) tinha como objetivo inicial o desenvolvimento de um aerogerador com capacidade instalada de 5 kW.

(Fasesp - Dinorah Ereno)

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