Brasileiro é responsável pela descrição dos répteis voadores do Canadá. Dividir os dinossauros em grupos biológicos costuma ser uma tarefa complicada - afinal, eles foram varridos do planeta há 65 milhões de anos.
Classificar os pterossauros, então, nem se fala. Os répteis voadores, sempre confundidos errôneamente com os dinos, dão trabalho constante aos taxonomistas. Prova disso são os pterodáctilos Pteranodon.
Inicialmente o grupo desse tipo específico de pterossauro concentrava 11 espécies. Essas, depois, foram reduzidas a apenas duas. Agora, após nova revisão, o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional, bateu o martelo: quatro espécies estão concentradas ali.
Kellner baseou seu estudo, publicado na revista "Anais da Academia Brasileira de Ciências", na análise de fósseis a que teve acesso dois anos atrás, no Museu de Geologia da Universidade de Alberta, no Canadá.
- Trata-se de um grupo de pterodáctilos que já foi revisto várias vezes - lembra Kellner.
- Na última, os pesquisadores concluíram que, ali, só havia duas espécies, e, em ambas, o macho tem morfologia diferente da fêmea. Mas conferi que, apesar disso, havia animais naquele material que não se encaixavam em nenhuma das descrições existentes.
As principais diferenças entre os pterodáctilos do grupo, segundo Kellner, são a direção e extensão da crista formada pelo frontal e a proporção do rosto. As fêmeas, que botam os ovos, têm canal pelviano maior do que os machos.
A histórica indefinição do número de espécies de pterodáctilos não surpreende Kellner. O paleontólogo ressalta que, na maioria das vezes, os cientistas têm às mãos um número muito limitado de fósseis, cuja preservação é quase sempre restrita às partes duras do organismo. E é na anatomia dos tecidos moles - como tamanho e cores de penas e pelos - que se encontra as maiores variações entre as espécies.
O estudo dos répteis voadores ainda conta com obstáculos peculiares. Um deles é a grande mobilidade dos animais, muito maior do que a registrada em dinossauros. Boa parte do material já encontrado de pterodáctilos consiste em vestígios isolados.
Esqueletos completos ainda são extremamente raros.
- Não raro os pterossauros, por poderem voar, estão longe das áreas onde há maior probabilidade de fossilização. Assim, sua chance de preservação
diminui muito - lamenta Kellner.
- Outro aspecto importante é a fragilidade de seu esqueleto. Os ossos são particularmente finos. Se quebrarem, dependendo do tamanho do estrago, a morfologia original pode ser resgatada. Mas há o risco de sofrerem uma deformação plástica. Nesse caso, não conseguimos recuperar a sua configuração original.
Os pterodáctilos também não contam com representantes contemporâneos - ou seja, qualquer outra espécie a que possam ser comparados. Se deixassem "sucessores", seus herdeiros poderiam ser usados para que os paleontólogos tivessem ao menos alguma noção, por exemplo, da composição de seu esqueleto.
(O Globo)
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