O número de espécies ameaçadas de extinção aumentou 75% no Brasil na última década. Na região de São Carlos e Araraquara, oito espécies de peixes estão desaparecendo dos rios. Junto com os invertebrados, os peixes lideram o ranking de extinção. Pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (Cepta) lutam para reverter o quadro.
De acordo com a bióloga Carla Polaz, ao contrário dos peixes do mar, ameaçados pela pesca predatória, as espécies de água doce sofrem com outro tipo de ação humana. “Uma espécie migradora precisa de água com características rápidas de correnteza. Quando se faz uma barragem, transforma-se um ambiente encachoeirado em um de reservatório, com águas calmas e paradas. Isso altera completamente a possibilidade de essas espécies completarem seu ciclo de vida”, explicou.
Duzentos exemplares do peixe Pirancajuba são criados nos viveiros do laboratório de genética. Os pesquisadores fazem cruzamentos para manter a população, mas o coordenador do Cepta, José Senhorini, afirma que outras medidas são necessárias para recuperar os animais. “Recuperação das águas e toda a área marginal. Promover rios livres de barragens para diversos fins. Com isso melhoramos a qualidade de água e o ambiente. Se as espécies não começarem a se reproduzir, através de nosso trabalho em laboratório podemos fazer a reintrodução”, falou.
A ciência busca caminhos para evitar a extinção. No departamento de genética da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pesquisadores buscam vestígios dos animais, coletam pêlos e fezes na natureza. No laboratório, o DNA do animal é extraído e a análise permite saber se a população de uma espécie está diminuindo para, então, propor soluções.
“As onças, por exemplo, se forem todas aparentadas, quando maior o grau de parentesco maior o grau de consanguinidade entre elas, o que não é bom para o animal, já que começa a perder, inclusive, a capacidade reprodutiva” , disse o professor do departamento de genética Pedro Galetti.
Para Galetti, pode ser difícil, mas não é impossível diminuir o risco de extinção. “Translocações dos animais, ou a criação de corredores entre áreas para que animais consigam ir para outros lugares e melhorarem as condições genéticas daquela área por meio da reprodução. Efetivamente, ações que venham em benefício do ambiente para que possamos ter uma vida melhor”, afirmou.
Espécies – Um levantamento feito pelo Ministério do Meio Ambiente avaliou mais de 12 mil espécies em todo o país. O estudo apontou que 395 entraram para o grupo de animais em risco de extinção, que agora conta com 698 espécies ameaçadas. Um exemplo é a onça pintada, maior carnívoro do Brasil que já não existe mais em matas da região.
O biólogo Rogério Paschoal explica por que a quantidade de animais ameaçados cresceu tanto. “Foram feitas mais pesquisas e, como se aumentou o conhecimento, muitas espécies entraram na lista. Esse aumento se deve mais a isso do que ao impacto da ocupação, pois ela já tem sido feita há muito tempo na maior parte do Brasil”, comentou.
(Fonte: G1)