Caracterizadas por suas copas em forma de cone, folhas pontiagudas e bastante escuras, as coníferas são consideradas espécies-chave para diferentes ecossistemas em todo o mundo e também na captura do carbono no planeta.
Apesar de presentes no hemisfério norte e em regiões frias ou temperadas, várias espécies apresentam crítico estado de conservação, conforme a Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), divulgada em julho.
De acordo com o levantamento internacional, 34% dos cedros, ciprestes, abetos e outras coníferas estão ameaçadas de extinção – aumento de 4% em comparação com a última avaliação, feita em 1998. Philip Thomas, coordenador do grupo especialista em coníferas da IUCN, salienta que 27 variedades no mundo aparecem como criticamente ameaçadas de extinção, entre elas, a Araucaria angustifolia, conhecida como pinheiro brasileiro ou pinheiro do Paraná. Ela ocorre principalmente em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, mas também pode ser encontrada em São Paulo e Minas Gerais, além de algumas regiões no Paraguai e na Argentina.
Encontrada em regiões com altitude a partir de 500 metros, a araucária pode atingir até 40 metros de altura. Ela é responsável por proteger plantas menores, que precisam de áreas de sombra, e serve como base para a alimentação de roedores e pássaros. No inverno, o pinhão (semente da araucária) é a única fonte de alimento para várias espécies e de renda de muitas famílias.
No total, nove espécies de coníferas brasileiras integram a Lista Vermelha da IUCN. Além da araucária, outras duas são citadas como ameaçadas: a Podocarpus sellowii e a Podocarpus transiens, popularmente conhecidos como pinheiros-bravos. Elas ocorrem na região Sul e Sudeste. A segunda também está presente na Bahia e Goiás, conforme Gustavo Martinelli, coordenador do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNC Flora).
As mudanças climáticas têm dificultado a sobrevivência das coníferas pelo mundo. “Pragas e doenças estão se tornando cada vez mais uma ameaça, especialmente em áreas que experimentam eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, ou em áreas onde as temperaturas médias estão subindo”, ressalta Thomas.
No Brasil, a principal causa do desmatamento no Brasil é a conversão das áreas de floresta em pastagens ou sua utilização para a agricultura ou plantio de florestas de pinus e eucaliptos para a indústria de papel e celulose, destaca Martinelli.
Segundo a IUCN, a araucária já perdeu 97% do seu ambiente original no Brasil. A cobertura destas árvores correspondia a cerca de 40% da floresta ombrófila mista, que compõe o bioma da mata atlântica, explica Yeda Maria Malheiros de Oliveira, engenheira florestal da Embrapa Florestas.
Ameaça às futuras gerações – Segundo especialistas, o processo de extinção às vezes pode ser difícil de se observar. “A vulnerabilidade tem muito mais a ver com a erosão genética do que com a quantidade de árvores. Na região onde a araucária vive, é difícil encontrar uma área com cerca de mil hectares. A maioria é entre cinco e dez”, diz Oliveira. Por causa da ação humana, a araucária fica ilhada em áreas fragmentadas, o que pode comprometer a variabilidade genética e o surgimento de novos exemplares.
A legislação ambiental brasileira proíbe o corte das araucárias, o que, segundo especialistas, ironicamente acaba prejudicando o desenvolvimento da espécie. “Muitos produtores rurais cortam as araucárias quando pequenas, porque acham que não poderão usar a área do entorno se existir uma planta desta espécie”, diz Oliveira.
Na opinião do engenheiro florestal Alexandre Vibrans, responsável pelo Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina, políticas públicas deveriam ser criadas para permitir a exploração sustentável e incentivar o plantio de araucárias, “com melhoramento genético e aumento da produtividade, para que seu reflorestamento possa ser competitivo com os plantios das espécies exóticas, como o pinus”.
(Fonte: Terra)