Nova classe de medicamento é eficaz conta o antraz, usado por terroristas em ataques biológicos.
Pesquisadores da Califórnia publicaram ontem detalhes sobre uma rara descoberta farmacêutica. Os cientistas conseguiram extrair de um micro-organismo marinho uma nova classe de antibióticos, a antrazimicina. Como o nome sugere, a substância foi capaz de matar a bactéria do antraz - já usada como arma biológica por terroristas - e a MRSA, uma espécie de estafilococo resistente a outros tipos de antibióticos.
A última descoberta de um antibiótico extraído do ambiente natural, e não por meio de manipulação em laboratórios, foi em 2003. O composto californiano, de acordo com os pesquisadores, tem uma estrutura química única e pode servir de base para criar uma série de novas drogas terapêuticas. O composto é derivado dos actinomicetos, bactérias aquáticas importantes na decomposição orgânica nos oceanos e conhecido por ser praga em plantas.
- A descoberta de um novo composto antibiótico de verdade é bastante rara - disse o líder da pesquisa, William Fenical, do Instituto Scripps de Oceanografia, ao site especializado Science Alert. - E não é uma descoberta solitária. Ela abre oportunidade para o desenvolvimento de (medicamentos) análogos, potencialmente centenas.
Arma contra o terrorismo
O cientista, professor de Oceanografia e Ciência Farmacêutica do Scripps, deu exemplo de Alexander Fleming, que descobriu a penicilina em 1928, substância que deu base para a formação de mais de 25 medicamentos.
De acordo com o trabalho, publicado na revista científica alemã "Angewandte Chemie", a antrazimicina foi capaz de neutralizar ou eliminar a infecção por MRSA em 85% dos testes. Já o antraz é menos resistente aos antibióticos que o MRSA, mas desde que se tornou uma conhecida arma biológica pós-atentados de 11 de setembro de 2001, há o temor de que cientistas mal-intencionados criem cepas resistentes aos tratamentos atuais. Os autores do estudo esperam que antrazimicina permitirá às agências governamentais criarem um novo antibiótico secreto que terroristas não consigam neutralizar por meio de manipulação biológica.
A descoberta surge como novo argumento para a preservação ecológica dos oceanos. O líder da pesquisa acrescentou que existem cerca seis medicamentos derivados de substâncias encontradas nos mares em circulação. Além dessas, há outros 26 compostos farmacêuticos em testes clínicos, entre eles drogas para o tratamento do câncer e o controle de dores crônicas e inflamações.
- O potencial de descobertas em oceanos é enorme. Os oceanos são, de longe, as maiores fontes de biodiversidade que temos. Mas farmacêuticas não tem especialização nem inclinação para fazer descobertas em oceanos - disse Fenical.
(O Globo)