Há uma boa chance de que a Microsoft decida matar o desktop no Windows 9. Nada mais de Gerenciador de Tarefas, Windows Explorer ou compatibilidade com aplicativos legados (escritos para versões anteriores do sistema). Teremos 100% blocos dinâmicos, em 100% do tempo.
Este dia ainda parece distante no horizonte, mas está chegando. De fato se o Windows Blue, a atualização do Windows 8 que vazou há alguns dias na internet, nos mostra algo, é que a Microsoft está disposta a desenfatizar o desktop em favor da nova Modern UI (Interface Moderna).
Feito para o toque
Todos já sabem que o Windows 8 (e seu primo simplificado, o Windows RT) é a resposta da Microsoft ao estrondoso sucesso dos smartphones e tablets. Interface feita para o toque! Loja de Apps! Bing Maps! Tem até um modo avião! Mais “mobile” impossível.
A própria introdução da Tela Iniciar foi um mau sinal para os fãs do desktop, mas as nuvens escurecem pra valer quando você começa a notar quanto da funcionalidade básica do Windows está sendo retirada da boa e velha área de trabalho.
Com a exceção do Windows Media Player, não há um único programa essencial da Microsoft no Windows 8 que resida no desktop (e até mesmo o Windows Media Player foi parcialmente substituído pelos apps Música e Filmes). Calendário, Internet Explorer, Email, Mensagens, Pessoas, até mesmo o visualizador de PDFs do sistema adotaram a interface moderna e vivem na Tela Iniciar, e se juntam a apps auxiliares como Finanças, Notícias, Viagens e os já mencionados Música e Vídeo. O Windows 8 foi projetado para que você nunca tenha de acessar o desktop, a não ser que tenha de rodar um programa legado ou fazer algum ajuste mais específico no Painel de Controle.
A Tela Iniciar é a pedra fundamental da interface do Windows 8
Mas mesmo esse nível de engajamento com o desktop parece estar com os dias contados. O Windows 8 ainda exige um “mergulho” no desktop mesmo para funções básicas como mudar o relógio do sistema ou a resolução da tela, mas o Windows Blue traz uma reforma geral da tela Configurações, trazendo muitos dos ajustes que ficavam no painel de controle para uma interface mais amigável ao toque.
E não vamos nos esquecer de como o Menu Iniciar foi chutado do Windows 8 e substituído pela funcionalmente similar (porém melhor) tela Todos os Aplicativos (All Apps). Nem devemos nos esquecer de que é impossível iniciar o Windows 8 diretamente no desktop sem recorrer a apps de terceiros ou truques. Está entendendo o recado?
Mas por quê?
Não é vaidade. A Microsoft tem muito a ganhar com uma mudança para um Windows puramente “moderno”. Em primeiro lugar, as vendas de PCs estão paradas ou vem caindo (em número de unidades entregues pelos fabricantes às lojas) ao longo dos últimos dois anos, com cerca de 350 milhões de unidades em 2012. Não é pouco, mas os smartphones por si só vendem muito mais que os PCs. Foram208 milhões de unidades apenas no quarto trimestre de 2012. E o IDC (parte do grupo que inclui a PCWorld) espera que as vendas de tablets cheguem a 350 milhões de unidades em 2017.
A Interface Moderna no Windows 8 brilha nos dispositivos móveis, até você ser levado de volta ao desktop por um ou outro motivo. Acabar com ele tornaria o Windows mais palatável a estes explosivos segmentos do mercado, e permitiria que a Microsoft focasse seus recursos em uma só interface unificada.
A interface do Windows agora é a mesma no smartphone, tablet ou PC
Além disso, não haveria uma forma mais fácil de silenciar as reclamações sobre o comportamento “bipolar” do Windows 8 do que se livrar de uma das interfaces. E se o desktop (e a compatibilidade com os apps legados) for abandonado, quase todo software para Windows terá de ser distribuído através da Windows Store. Isso não só permitiria que a Microsoft tivesse mais controle sobre a segurança (apps maliciosos são extremamente raros na App Store da Apple, por exemplo) mas também daria à Microsoft um percentual de 30% sobre o preço de todo e qualquer software para Windows. Do ponto de vista dos negócios, uma plataforma “fechada” traz várias vantagens.
Abrindo caminho
Mas nem mesmo a Microsoft pode se livrar de uma “instituição” como o desktop do Windows de uma hora para a outra. É aqui que entra a genialidade do Windows Blue e o suposto ciclo anual de atualizações. Versões anuais do sistema permitirão à Microsoft iterar e apresentar novos recursos mais rapidamente, mas também permitem que a empresa afaste os usuarios do desktop um pouquinho de cada vez, ano após ano, até que sua “morte” seja relativamente indolor. Seria como perder aquele primo de terceiro grau que você só vê em reuniões de família uma vez a cada década.
E, de fato, o desktop já está com um pé na cova.
O Windows Blue e uma rodada de atualizações dos apps do Windows 8 são mais um passo na transição do desktop para a Interface Moderna. A Microsoft está migrando ainda mais funções essenciais do Windows para ela, e implementando melhorias como o novo recurso de tela dividida que facilita a multitarefa, melhor suporte a toque no Email e a habilidade de sincronizar documentos com a nuvem no app do Skydrive para levar os devotos do desktop para o outro da força.
A irrelevância do Painel de Controle é apenas o começo. O site Ars Technica encontrou indícios de uma versão moderna de um gerenciador de arquivos, ainda inacessível, na versão do Windows Blue que vazou na internet.
Mas aparar as arestas do Windows não é a única coisa que a Microsoft precisa fazer antes de matar o desktop. A Interface Moderna é baseda nos blocos dinâmicos, que são parte dos apps “Modernos” feitos sob medida para o Windows 8, e a Windows Store precisa de um “gás” antes que a nova interface possa realmente dominar o Windows. Embora a loja já tenha vários apps de destaque (incluindo, finalmente, um app do Twitter) ela ainda está atrás do Android e iOS tanto em qualidade quanto em quantidade, e a sua velocidade de crescimento caiu vertiginosamente em meses recentes.
A Microsoft está encarando este problema com um novo programa de incentivo aos desenvolvedores, mas eles certamente adotarão a plataforma à medida em que mais e mais usuários migrarem para o Windows 8. Mesmo que as vendas de PC estejam estagnadas, 350 milhões de unidades por ano não é algo de se jogar fora, e a vasta maioria desses computadores novinhos em folha virão com o Windows 8 pré-instalado.
A loja no Windows 8 é uma grande oportunidade para a Microsoft
À medida em que as pessoas fizerem o upgrade para o Windows 8, irão encontrar as já mencionadas melhorias - entregues através da Microsoft Store - que aumentam a utilidade a Tela Iniciar e reduzem a do desktop. Você pode até se apegar aos seus preciosos aplicativos no desktop, mas será que o usuário comum se importa se dá duplo clique em um ícone ou um clique em bloco dinâmico, especialmente se as funções básicas do sistema e aplicativos como o Email já lhe ensinaram o jeito “moderno” de ser? Creio que não.
E conforme as pessoas passam uma quantidade maior de tempo com apps feitos sob medida para o Windows 8, os desenvolvedores irão responder com ainda mais apps para o Windows 8. O número de aplicativos disponíveis irá aumentar com o tempo, e isso não precisa acontecer rapidamente. A Microsoft sempre pensa a longo prazo.
Todas as peças se encaixam. E predizem o fim do desktop no Windows 9, seja lá quando ele for lançado.
Barata digital
Não chore pelo desktop (você chorou quando as interfaces gráficas varreram a linha de comando do mapa?). Seu fim irá marcar o início de uma nova era, uma era de computação ubíqua onde tudo é sensível ao toque. Já assistiu a Minority Report?
Aproveite o desktop... enquanto pode
Além disso, o desktop não irá realmente morrer no Windows 9. Como uma barata ele irá sobreviver em cantos escuros, na forma de edições especializadas ou ferramentas projetadas para que desenvolvedores possam criar seus programas e usuários corporativos possam rodar os aplicativos da era do Windows XP dos quais suas empresas ainda dependem. E quando a Microsoft finalmente puxar a tomada, pode ter certeza de que todas as empresas que ainda não tiverem lançado um app para o Windows 8 o farão rapidamente. Um Windows inteiramente baseado na interface moderna será diferente, mas não algo devastador.
E não será amanhã. Aproveite seu tempo com seus preciosos aplicativos legados enquanto pode, caro entusiasta. Todas as lágrimas do mundo não mudam o fato de que o desktop já morreu, só ainda não foi avisado disso.
(PCWORLD)
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