O cometa Halley é um velho conhecido da humanidade – há milênios vemos ele passar periodicamente pelos céus do nosso planeta.
Em 1910, mais uma passagem estava prevista e os jornais anunciavam que a pedra de gelo e gás poderia resultar em um espetáculo nos céus do planeta. Mas, então, cientistas calcularam que poderíamos passar pela cauda do cometa. E o pânico começou quando descobriram que a cauda do Halley tinha um gás mortífero: o cianogênio. E a passagem da Terra pelo gás venenoso ocorreria no dia 18 de maio daquele ano.
“Cometa pode matar toda a vida na Terra, diz cientista”. Foi assim que o jornal San Francisco Call anunciou a opinião do astrônomo francês Camille Flammarion, em fevereiro de 1910. Nem mesmo o grande The New York Times escapou. O jornal escreveu em uma de suas edições que o professor “é da opinião de que o gás cianogênio poderia impregnar a atmosfera e possivelmente extinguir toda a vida do planeta”.
A publicação nova-iorquina, contudo, alertava que outros cientistas discordavam do francês, já que os gases de um cometa são muito rarefeitos e que o cianogênio poderia, ao entrar em contato com o nitrogênio e dióxido de carbono da atmosfera terrestre, se desfazer. Além disso, o jornal dizia que o planeta já havia passado pela cauda de um cometa anteriormente e nada de anormal foi notado, exceto uma abundante chuva de meteoros.
Além disso, como todo bom apocalipse, aquele também teve gente que lucrou com o medo dos outros. Apareceram nas ruas “pílulas anticometa”, máscaras de gás e até guarda-chuvas de proteção contra cometa. Crianças em Chicago pediam para ficar em casa com medo do gás. Fazendeiros do Wisconsin tiraram o para-raios de seus celeiros com medo de atrair a pedra. Organizações distribuíam panfletos que orientavam as pessoas a fecharem suas janelas para que o cianogênio não entrasse.
Em um caso curioso, relatado pelo Los Angeles Herald, um homem do Estado americano do Arizona entrou em pânico porque a cauda do cometa estaria “sufocando” ele. O homem teve que ser trancado na prisão da cidade de Carter. Segundo o jornal, o americano dizia que a cauda perseguia ele.
Apesar disso, cientistas tentaram acalmar a população ao garantir que não havia nenhum risco e a passagem seria, no máximo, um belo espetáculo. Para os não apocalípticos, o Halley foi sim um grande espetáculo. A venda de telescópios disparou. Hotéis lançaram pacotes especiais nas grandes cidades para quem quisesse ver de suas coberturas. O presidente americano William Howard Taft foi ao observatório da Marinha para dar uma espiada, e saiu de lá impressionado com o que viu.
O Halley passou e ninguém morreu por causa dele. E o espetáculo foi atrapalhado pela Lua, mas, por outro lado, o New York Times relata que no dia 18 de maio, entre 22h30 e 23h30, no horário local, até uma chuva de meteoros foi vista, quando diversos “flashes” cortaram o céu.
A pedra de gelo e gás – O cometa Halley é visto há eras pela humanidade. Em 1066, ele passou cinco meses antes de Harold II, o último rei anglo-saxão da Grã-Bretanha, perder o controle do país para os normandos. Em 1301, Giotto viu o cometa e se inspirou nele para pintar a estrela de Belém da Cappella degli Scrovegni, na Itália. Ao longo da história, chineses, babilônios, japoneses e islâmicos também relataram vistas do Halley.
Foi um matemático de Oxford que calculou que ele passaria em ciclos fixos pela Terra e, por isso, deu nome ao cometa: Edmond Halley (1646-1742).
(Fonte: Terra)
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