Fortalecendo os professores

Existem inúmeros estudos, tanto governamentais quanto de organizações e fundações particulares, sobre como melhorar esta maravilhosa profissão que é ensinar.

O que os educadores pensam? De que eles necessitam para realizar um excelente trabalho? E quais são os obstáculos que eles normalmente precisam enfrentar?

Eri Hirsch, o entrevistado deste mês, é diretor de projetos especiais do New Teacher Center, da Universidade da Califórnia. Durante anos, ele se perguntou como fortalecer os professores e como descobrir as respostas para as perguntas acima. Em 2004, ele se comprometeu a fazer uma pesquisa com professores e diretores de escolas do Estado da Califórnia, para saber como eles encaram as condições de trabalho em suas instituições.

Atualmente, Hirsch está aprimorando suas investigações e visitando mais oito Estados americanos. Os resultados mostram o que os professores querem e precisam, e apresentam o ensino segundo a percepção dos mestres. Ou seja, os profissionais podem avaliar os vários aspectos de seu trabalho, principalmente no que se refere sobre as conquistas dos alunos e a capacidade deles aprenderem e assimilarem o conhecimento. O objetivo final do professor Hirsch é ajudar as escolas a criarem ambientes onde os professores possam se superar e se tornar mais bem-sucedidos. E, também, estimular os professores a buscar seus sonhos e metas por meio de uma maior participação nos estabelecimentos de ensino.

Embora a pesquisa de Hirsch se restrinja aos EUA, podemos ver, nesta entrevista, que ela possui um contexto universal. É de enorme utilidade para os professores que desejam progredir, que pretendem pedir mais oportunidades aos seus diretores e também para aqueles que planejam uma maior participação no estabelecimento no qual trabalham.

Teacher Magazine – De acordo com sua pesquisa, quais seriam os sinais de que uma escola funciona em condições de trabalho sofríveis, com os professores não sentindo que realizam algo?

Eric Hirsch – Existe uma questão na minha pesquisa que me faz ir direto ao centro da situação da escola. É aquela que questiona se os mestres acreditam que exista uma atmosfera de confiança e respeito mútuo na instituição. Esta pergunta correlaciona os objetivos dos estudantes e a motivação dos professores, que querem trabalhar em escolas onde possam se sair bem. Se sabem que não vão fazer sucesso, se não se sentirem confortáveis com seus colegas e com a liderança do estabelecimento, não vão se esforçar.

Nesse caso, é obrigação dos gestores criar uma clara e persuasiva visão sobre o aprendizado e mostrá-la aos professores. Os gestores devem criar um ambiente seguro, no qual os professores se sintam à vontade para tomar decisões significativas, que vão afetar positivamente a classe de aula e também toda a escola. E os professores devem pedir isso aos diretores.

 – Você pode dar exemplos de maneiras como os gestores podem criar um ambiente de confiança entre os professores?

EH – Claro que sim. Por exemplo, eu tenho visto diretores que supervisionam as aulas para se assegurar de que os professores tenham tempo para planejar. Também conheci diretores que estão sempre entrando em contato com os pais, para mostrar que as diversas decisões e atitudes dos professores são corretas em relação aos alunos. Falando de forma ampla, gestores eficientes criam estruturas que permitem maior liberdade e oferecem mais autoridade aos professores.

M – Por que você pensa que muitos gestores resistem a dar poder aos professores e, conseqüentemente, condições para que eles possam tomar decisões sobre os assuntos da instituição?

EH – Em alguns estados americanos, de acordo com as pesquisas que realizamos, apenas um terço dos professores acreditam que participam efetivamente das decisões da escola. Isso acontece um pouco porque a pressão sobre os diretores é muito grande. Eles precisam lidar com questões financeiras, prestação de contas, com os pais, com a comunidade, e no final, ainda é exigido deles uma grande performance em sua atuação como educadores. É difícil relaxar e delegar poderes a outros se você sabe que é o seu pescoço que está na mira na hora da cobrança. Claro, ele precisa se dar conta que no final é o esforço de toda equipe, além da capacidade do gestor de tirar o melhor de cada um, que vai gerar uma melhora sensível no estabelecimento de ensino. Por outro lado, a atuação dos diretores fica mais difícil se eles não tiverem um quadro de professores com um ambiente favorável. Muitos não estão preparados para servir como visionários, líderes instrucionais, uma exigência nos nossos dias. Eles recebem pouco apoio e, muitas vezes, não têm poderes para tomar decisões sérias sobre a escola por causa do conflito com as políticas das secretarias municipais ou estaduais. Para melhor entendermos as formas de dar mais poder aos professores, precisamos primeiro aprender a tornar os gestores mais fortes.

TM – Existe alguma coisa que os próprios professores podem fazer para ficarem mais satisfeitos com a carreira?

EH – Essa é uma ótima pergunta e, de fato, pensamos muito sobre o tema. Por exemplo, você pode fortalecer seus professores se a liderança na sua escola não está realmente interessada em criar estruturas claras para torná-los seus parceiros? Eu acredito que sim, mas não é uma tarefa fácil. Eu penso que os professores precisam encontrar diferentes caminhos para advogar em causa própria, pela sua profissão e por seus estudantes. Existem oportunidades nas secretarias de Estado, existe voluntariado, trabalho com os pais e outros membros da comunidade. Essas são ótimas maneiras dos professores se engajarem num novo processo e tomar decisões mais ativas, mesmo quando não são encorajados pelos seus líderes em suas próprias escolas.

TM – Fale mais sobre esse tema, que realmente interessa aos professores.

EH – A melhor coisa que encontramos foram professores trabalhando em conjunto com os colegas, desenvolvendo suas próprias idéias, para criar um tipo de ambiente que eles mesmos aprovam. Um bom exemplo é criar comunidades de aprendizado dentro e/ou fora da escola e, claro, encontrar tempo para colaborar com elas. Outros profissionais, com o propósito de se aperfeiçoarem, procuram novos caminhos por sua própria conta. Eles se matriculam em cursos e, depois, transferem para a escola o que aprenderam – certamente algo muito útil para seus colegas. Ainda assim, insisto, para o professor agir dessa maneira é preciso que ele seja altruísta com os colegas e esteja comprometido com isso – e ele deve dispor de tempo, é claro.

TM – De acordo com os resultados da pesquisa, qual a função do desenvolvimento profissional no bem-estar do professor?

EH – O que descobrimos é muito interessante. Quando você pergunta aos professores o que é mais importante para os planos de carreira dele, “desenvolvimento profissional” é a última coisa que eles citam. Para mim, fica uma dúvida enorme, porque eu não acho que os professores não acreditem que eles precisam construir suas carreiras, de uma forma eficiente, em cima de conhecimento e aprendizado.

TM – Qual é a mensagem então?

EH – O que os professores tentam passar é que a responsabilidade desse desânimo no desenvolvimento profissional é da má oferta de treinamentos, workshops e seminários. Freqüentemente, para torná-los mais baratos e acessíveis, as empresas que os promovem oferecem apenas programas do tipo “o-mesmo-pacote-de-cursos-para-todos”. Em conseqüência, os professores – com razão – não acreditam que essa espécie de capacitação faça alguma diferença nas suas carreiras. De fato, em muitos estados americanos, pelo menos metade dos mestres afirmam que se esforçam muito pouco quando o assunto é capacitação e procura de melhores oportunidades na carreira.

TM – Você tem alguma idéia de qual tipo de treinamento os professores desejam?

EH – Nas pesquisas, nós não perguntamos a eles especificamente o que procuram, porque descobrimos logo no começo do trabalho que a preferência da maioria deles era por workshops. Inclusive, muitos professores não tinham feito nada além disso. Por outro lado, para dizer a verdade, o que mais apareceu na pesquisa é que eles procuram instrução diferenciada, para ajudá-los em suas diversas necessidades de aprendizado.

A maioria dos professores respondeu – e os diretores concordaram – que eles, na verdade, se sentem à vontade com o conhecimento que têm de suas disciplinas. Em seguida, eles revelaram que o que precisam mesmo é de estratégias que ajudem a lapidar aquele conhecimento e que os permita auxiliar estudantes que estão matriculados na educação especial. E há pouquíssimos cursos e workshops sobre os temas mencionados.

TM – Se você se tornasse diretor de uma escola, qual seria a primeira providência que tomaria para melhorar o bem-estar dos professores?

EH – Bem, em primeiro lugar eu sentaria com minha equipe, mostraria a pesquisa e perguntaria, numa conversa franca, o que eles precisam e o que eles querem. Cada escola é uma unidade diferente, um lugar específico, com um corpo docente único. Portanto, você precisa ter alguma habilidade para discutir e refletir sobre o que está acontecendo nesse mundo muito particular, e o que pode ser melhorado do ponto de vista dos professores. Felizmente, o que nossa pesquisa oferece como melhor conselho é que os professores podem levar toda essa informação para os diretores de uma maneira neutra, sem emoções. Por outro lado, os gestores precisam ouvir com cuidado e aceitar essas sugestões, na medida do possível.

TM – O que mais?

EH – Em segundo lugar, como gestor eu refletiria sobre os pedidos deles, identificaria as prioridades e procuraria administrá-las efetivamente, de uma maneira que priorizasse a aprendizagem dos estudantes. Nossas análises demonstram que confiança, visão comum, liderança e questões sobre como fortalecer os professores são as áreas em que eles mais estão interessados.

No final, o importante é que professores e líderes trabalhem juntos e tomem decisões importantes, que façam a diferença. Não se trata de uma batalha. Eles devem se unir e refletir sobre o que precisa ser colocado no lugar, ou de um ajuste fino e, finalmente, as necessidades gerais para que todos sejam bem-sucedidos em suas tarefas e se sintam felizes e à vontade com o que estão fazendo.

TM – Existem grupos ou tipos de professores que parecem estar satisfeitos com o seu trabalho ou que apreciem a maneira como a escola os valoriza?

EH – Esse é um ponto interessante. Nós descobrimos que, normalmente, embora não por uma larga margem, os recém-chegados na profissão e os mais veteranos são aqueles com mentalidade mais positiva e satisfeitos com suas condições de trabalho, com a atmosfera de confiança da escola e, principalmente, contentes com sua participação em temas que envolvem todo o estabelecimento.

TM – Na sua opinião, por que os professores no meio da carreira são os com atitude mais negativa?

EH – Os novatos estão entusiasmados com o novo emprego e estão excitados com a oportunidade de ensinar. Os mestres no meio da carreira já viram de tudo e estiveram, durante anos, expostos aos diversos problemas e limitações. De uma certa maneira, eles ainda não se ajustaram à profissão como os veteranos. Eles já conhecem o trabalho, sabem o que precisam e o que querem, mas não como os veteranos. Estes já sabem os truques para conseguir o que buscam. Além disso, os veteranos são sempre escolhidos para este ou aquele cargo de liderança, são os mais ouvidos pelos diretores, se tornam satisfeitos com as tarefas e usufruem o sentimento de estarem envolvidos com o estabelecimento do qual fazem parte.

TM – Isso significa que ajudar os professores que estão no meio da carreira é algo importante, que as escolas devem colocar em pauta?

EH – Certamente. Como as minhas fontes são diretores, esse grupo de professores deve ser um foco importante. Meu conselho é: procure oportunidades de liderança para essa turma que demonstra insatisfação. Os veteranos podem ser um trunfo a fim de ajudá-los. E tente tirar o máximo deles, de suas experiências, pois, fazendo assim, eles vão conseguir entender como funcionam as coisas, perceber melhor os lados positivos da profissão e deixar a negatividade de lado.

TM – Quais as mudanças que você prevê na profissão para os próximos anos?

EH – Por várias razões, ensinar é uma profissão que vai tomar a vida toda. Durante muito tempo, nossa expectativa era: o professor começa a ministrar aulas aqui e termina lá na frente, trinta anos depois, dando aula do mesmo jeito. As coisas mudaram. Hoje em dia, os novos mestres olham a situação de uma maneira diferente. Estudantes que pretendem entrar no magistério pensam mais a curto prazo, para ganhar experiência e depois procurar o engajamento em algo com significado, mas ainda lecionando. Essa é a realidade, e as escolas estão começando a perceber isso e encontrar maneiras para solucionar o problema ou se adaptar a essa nova tendência, o que envolve trabalhar numa relação mais próxima com os professores e, assim, atingir suas expectativas. Ou seja, usá-los de diferentes maneiras.

TM – Isso revela que os professores querem variações?

EH – Isso mesmo. Ainda existe uma série de objetivos que os professores procuram o tempo todo. A importante questão é como oferecer, a esses profissionais do ensino, escolas com ambientes agradáveis para que eles tenham a flexibilidade para liderar e opinar, fazendo a diferença. Repito: os professores procuram novos caminhos para avançar em suas carreiras, eles precisam participar das decisões nas escolas, almejam mais responsabilidades. Então, se os gestores permitirem, nós veremos num futuro próximo uma grande diversificação das atividades dos professores.

TM – Você é a favor de salários mais altos para esses professores comprometidos?

EH – Com certeza. Mas, cito mais uma vez nossa pesquisa. O que a maioria dos professores nos disseram é que, embora eles adorem salários altos, não vão permanecer numa escola onde não gostem do que estão fazendo. É importante pagar os professores conforme os diferentes trabalhos realizados. E, para isso, eles precisam de um bom ambiente, sentirem-se confortáveis na escola e vislumbrar uma carreira repleta de realizações. Enfim, tudo isso faz parte do fortalecimento do professor. As escolas precisam oferecer esse pacote, e os professores devem exigi-lo quando não o encontrarem. Se assim for feito, muitos professores que estão pensando em desistir vão permanecer na profissão.

Anthony Rebora é diretor assistente da Teacher Magazine. Reprodução, apenas com permissão da Education Week. Copyright 2008 da Educational Projects in Education, Inc. Visite o site: www.edweek.org.

Tradução: Alex Gutenberg

Anthony Rebora
Revista Profissão Mestre

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