Restam apenas 3% das matas de araucárias no Sul do Brasil

Vegetação típica do Sul brasileiro, a mata de araucárias é um dos ecossistemas menos preservados no Brasil, uma vez que, atualmente, apenas 3% dele estão intactos.

Uma reportagem publicada nesta segunda-feira, 16 de maio, na Folha.com, mostra que os esforços de conservação têm esbarrado na resistência de proprietários rurais e na falta de estrutura do governo federal.

Das oito unidades de conservação planejadas pelo Ministério do Meio Ambiente a serem criadas no Paraná e em Santa Catarina, duas estão engavetadas por pressão de ruralistas e outras duas que já foram instaladas estão sendo questionadas na Justiça por produtores, segundo apurou a repórter Estelita Hass Carazzai. Das outras quatro reservas decretadas, três ainda enfrentam resistências de parte dos proprietários, que dificultam o andamento das ações de preservação.

Até agora, nenhum proprietário cujas terras foram incluídas nas reservas foi indenizado (só a partir disso a área é considerada pública). No Paraná, a região em que estão as reservas é uma das principais produtoras de soja e milho e até hoje há fazendeiros no local. Em outras unidades, há também criação de gado, exploração de pinus e cultivo de erva-mate.

Os produtores, que não precisam sair enquanto não forem indenizados, argumentam que as áreas atingidas estão antropizadas (ocupadas pelo homem) há décadas e que não faz sentido incluí-las nas unidades. Para eles, as reservas foram criadas para o governo "mostrar serviço", sem checar se de fato havia ou não o que preservar.

"Eles não vieram in loco. Pegaram uma foto [de satélite] e disseram: 'Aqui tem verdinho. Vamos fazer um parque aqui'", afirmou à Folha.com Gustavo Ribas Netto, 40, cuja propriedade foi integralmente incluída no Parque Nacional dos Campos Gerais (a 120 km de Curitiba). Sua fazenda, de mil hectares, produz aproximadamente 1.200 toneladas de soja, milho e feijão por ano. Lá também são criadas cerca de 900 cabeças de gado.

O Ministério do Meio Ambiente garante que seja possível e necessário recuperar as áreas degradadas, no sentido de viabilizar a preservação da mata de araucárias. "A pressão [sobre as áreas preservadas] é contínua e crescente", relatou João de Deus Medeiros, diretor do departamento de Florestas da pasta ambiental. "Temos que trabalhar com a perspectiva de recuperação."

Fazer "ginástica"

A reportagem também apurou que, apesar de terem sido decretadas entre 2005 e 2006, as seis unidades federais de conservação de araucárias passaram por dois anos de "limbo" antes de saírem efetivamente do papel. O motivo, segundo o próprio governo federal, foi a falta de estrutura para conseguir tocar as reservas em frente.

O Parque Nacional dos Campos Gerais, por exemplo, criado em 2006, só teve chefe nomeado em 2009. A Reserva Biológica das Araucárias (também no Paraná) até hoje não tem chefe - um só servidor é o responsável pela unidade. O mesmo é registrado no Parque Nacional das Araucárias, em Santa Catarina, onde também existe somente um funcionário.

Das seis unidades, apenas uma possui um plano de manejo, documento que detalha os tipos de atividades que podem ou não ser desenvolvidas na área. Em nenhuma das unidades de conservação houve indenização aos proprietários atingidos - embora três já tenham aberto processos para apurar o valor desses pagamentos.

O coordenador do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) na região Sul do Brasil, Ricardo Castelli Vieira, reconheceu as dificuldades, mas ressaltou que houve um "avanço inegável" na implementação das unidades de conservação nos últimos dois anos. "A gente tem que fazer ginástica", concluiu.

(Ecod)

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