Em dez anos, desistência em universidades de SP dispara. Abandono em instituições paulistas passou de 18% em 2000 para 27% em 2009. A proporção de alunos que abandonam o ensino superior em São Paulo subiu, em dez anos, de 18% para 27%, o maior patamar do período.
A constatação está presente em levantamento feito pelo pesquisador Oscar Hipólito (ex-diretor da USP-São Carlos e membro do Instituto Lobo), com base no censo do Ministério da Educação.
Em 2009, último dado divulgado, 315 mil estudantes de São Paulo abandonaram o curso. O Estado tem hoje 1,4 milhão de estudantes.
O volume de abandono cresceu na rede pública e na privada, mas nesta última a proporção foi maior.
Analistas e representantes de universidades privadas afirmam que o aumento da evasão está ligado à expansão de vagas, preenchidas por alunos carentes -faixa pouco atendida até o início dos anos 2000.
"A maior oferta de vagas fez cair as mensalidades e, com isso, as classes C e D entraram mais. Mas, além da mensalidade, há valores adicionais [transporte, material, alimentação] que acabam tornando o custo proibitivo", disse o consultor de universidades Carlos Monteiro.
O diretor-executivo do Semesp (sindicato das universidades privadas de São Paulo), Rodrigo Capelato, reconhece que as instituições particulares, num primeiro momento, tiveram dificuldades para atender esse novo público.
"São alunos que chegam com deficiência acadêmica, com dificuldade para acompanhar as aulas", diz.
Para atenuar o problema, afirma, as instituições passaram a oferecer reforço do conteúdo do ensino médio.
E para diminuir as perdas financeiras acarretadas pela evasão, as instituições passaram a matricular mais alunos nos primeiros anos, contando que a desistência será grande. O início do curso é o que tem mais evasão.
Para os próximos anos, a rede projeta que o abandono diminua, pois o atendimento aos alunos mais pobres está melhorando, com aulas de reforço e programas próprios de crédito.
Na média nacional, a evasão ficou quase estável entre 2000 e 2009. Para os analistas, os indicadores de São Paulo apontam que a evasão no Brasil também vai crescer.
Historicamente, dizem, os dados paulistas antecipam o que ocorrerá no restante do país. "Aqui houve primeiro a expansão de vagas e, agora, os efeitos desse movimento", afirmou Capelato.
Faculdade ficou cara demais, diz ex-aluna
Mesmo com 50% de bolsa, estudante afirma não ter conseguido continuar curso de direito após dois semestres
O caso de Rosiele de Azevedo, 29, que veio de Manaus no ano passado com dois filhos pequenos para estudar, é um dos exemplos de alunos das classes C e D que tiveram acesso à universidade.
Com o marido desempregado, ela sustenta a família com os R$ 650 que recebe do estágio. Depois de dois semestres em direito na Zumbi dos Palmares, os R$ 165 que pagava -tinha bolsa de 50%- pesaram no orçamento e ela não fez rematrícula.
"A faculdade ficou cara demais. Tinha o gasto com a mensalidade, com os trabalhos, com a passagem", diz.
Informada sobre o caso de Rosiele, a Zumbi dos Palmares disse que faz um trabalho individualizado de renegociação de dívidas.
Para Carlos Monteiro, consultor em ensino superior, outro fator que explica a maior evasão em São Paulo é o fato de o aluno ser mais exigente que a média.
Flávia Cristina da Silva, 29, abandonou o curso de direito da Uninove sem completar o primeiro semestre. Ela diz que não estava satisfeita com a qualidade das aulas e com o nível dos colegas.
"Achei que fosse melhorar com o passar dos meses, mas não melhorou", diz. Fez então as contas e decidiu que estava pagando caro. Cancelou a matrícula.
A Uninove disse que seu curso de direito é bem avaliado pelo MEC, tem corpo docente qualificado e infraestrutura de ponta.
Segundo o consultor Monteiro, a situação é agravada pelo fato de, proporcionalmente, haver menos vagas nas universidades públicas.
O MEC admite que SP tem menos vagas públicas proporcionalmente, mas disse que tem aumentado a oferta.
Analistas divergem sobre o impacto das bolsas do ProUni na evasão.
Para José Carlos Rothen, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos, uma possível explicação para o aumento da taxa é a dificuldade de os alunos se manterem no curso.
Já para o diretor executivo do Semesp (sindicato das universidades privadas de SP), Rodrigo Capelato, os alunos da classe C, sem ProUni, é que tendem a abandonar os cursos. "Para ser escolhido no programa, é preciso ter ido bem no Enem. São alunos preparados."
(Fabio Takasashi - Folha de SP)
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