Ministro de Minas e Energias diz que hipótese é muito provável, mas ainda não está definida. O rio São Francisco surge como o destino favorito do governo na região Nordeste para instalação de uma central com duas usinas nucleares, embora o Estado cortado pelo rio ainda não esteja definido. A informação foi confirmada pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. "O São Francisco é, de fato, uma hipótese muito provável, mas ainda não há nada definido", comentou.
O governo acelerou o ritmo dos estudos sobre as localidades que poderão receber as quatro usinas nucleares que serão construídas no país. A previsão inicial da Eletronuclear, estatal controlada pelo sistema Eletrobras, era entregar o relatório com as potenciais cidades até junho, mas o estudo feito em parceria com a consultoria da Coppe-UFRJ pode ser apresentado já no mês que vem. No Nordeste, diz Lobão, já há uma lista com algo entre 15 e 20 sítios selecionados.
Outra central com duas usinas será instalada na região Sudeste. O estudo feito para escolher as prováveis sedes é dividido em quatro etapas, nas quais chega-se a avaliar quase 60 critérios. Nas primeiras duas etapas são excluídas áreas que possuem falhas no solo que podem trazer riscos à estrutura da usina. A terceira e quarta etapas apontam locais com infraestrutura adequada e qual tecnologia se enquadraria bem na região. Já foram definidas 40 áreas como prováveis sedes de usinas, segundo o pesquisador da Coppe-UFRJ, Moacyr Duarte.
De acordo com o governo, há uma disputa pelos projetos. "Antes havia um certo receio dos Estados em receber as usinas nucleares, mas hoje a situação amadureceu", disse o ministro Edison Lobão, que já recebeu cartas de interesse enviadas pelos governos de Alagoas, Pernambuco e Bahia.
O Brasil tem hoje duas usinas em atividade em Angra dos Reis. Angra 1, que teve sua construção iniciada em 1971, iniciou sua operação comercial em 1985. A usina tem capacidade de 657 Megawatts (MW). A construção de Angra 2 teve início em 1976, tendo entrado em operação comercial em 2001, com capacidade instalada de 1.350 MW. Também em 1976 foram comprados equipamentos de Angra 3, que chegou a ter sua obras iniciadas, até a paralisação em 1986. Com as obras retomadas em 2007 e previsão de entrar em operação em 2015, Angra 3 terá potência de até 1.405 MW. Neste mês, a Eletronuclear pretende publicar o edital para contratação dos serviços de montagem eletromecânica da usina, um contrato estimado em R$ 1,5 bilhão.
"Há um momento de retomada desses projetos em todo o mundo. O Brasil, com o potencial que tem nas mãos, não pode desperdiçar essa oportunidade", disse Leonam dos Santos Guimarães, assistente da presidência da Eletronuclear e membro do grupo permanente de assessoria do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea).
A expectativa do governo é que sejam investidos cerca de R$ 30 bilhões na construção das quatro usinas. Cada uma delas terá capacidade de 1.000 MW, elevando a capacidade do parque nacional de usinas nucleares para 7.300 MW até 2030.
A meta é que, já no ano que vem, sejam iniciadas as obras da primeira central na região Nordeste. O crescimento da energia nuclear na matriz energética do país, no entanto, será modesto em comparação a outras técnicas de geração. Em 2009, a energia nuclear representava 1,8% do total da matriz energética brasileira, com 2 GW. A projeção é que salte para 3,4 GW, ou 1,9% do total em 2019. Enquanto isso, a participação das usinas eólicas e solares passará de 0,5% (0,6 GW) para 3,3% (6 GW) no mesmo período. Até 2019, prevê o governo, a capacidade total de geração do país deverá passar dos atuais 110 GW para 177,9 GW em 2019.
Atualmente, Estados Unidos, França e Japão produzem 63% da energia nuclear do mundo. Apesar da forte produção desses países, somente na França a energia gerada por meio da fissão nuclear representa bem mais da metade da matriz nacional. Atualmente, essa fonte de energia é responsável por 80% da energia consumida pelos franceses, ante 16% dos americanos.
(André Borges e Tarso Veloso - Valor Econômico)
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