Elo precisa ser ampliado. É cada vez maior o número de multinacionais que instalam centros de pesquisa no Brasil, com o objetivo de incrementarem o desenvolvimento de produtos de alta tecnologia.
Entretanto, os fatores de atração de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ainda são limitados no Brasil, pois repercutem diferentemente em cada setor da indústria, sendo o mercado o elemento que mais atrai empresas no país. A análise é do professor Sérgio Robles Reis Queiroz, do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp e ex-secretário adjunto de Ciência, tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo.
De acordo com Queiroz, para aqueles setores ou empresas em que o mercado é um sinalizador e um fator de atração importante, o Brasil está bem, ao contrário do que ocorre em setores em que não é apenas o mercado que conta. "São os setores para os quais vale mais as competências estabelecidas, os clusters científicos e tecnológicos, e nisso o Brasil não está bem", explica o professor, que agora consolida os resultados de duas pesquisas que coordenou entre 2004 e 2009.
Setores automotivo e farmacêutico são exemplos utilizados por Queiroz para mostrar duas situações contrastantes: uma em que o mercado influencia fortemente a implantação de centros de pesquisa no país; e outra, em que o mercado exerce papel secundário. No primeiro caso, o Brasil consolida-se como o 4º país no mercado automotivo e, segundo o pesquisador, isso é elemento importante para a atração de atividades de engenharia automotiva no Brasil.
Com relação ao setor farmacêutico, a pesquisa depende mais das competências estabelecidas. Para entender bem a diferença, Queiroz dá outro exemplo, sobre um modelo de automóvel fabricado por uma multinacional no Japão e que foi comercializado no Brasil. "Nos primeiros 10 mil quilômetros, o freio ia embora, e quando foram ver o que acontecia, viram que o carro não havia sido projetado para ser dirigido no Brasil", cita.
A necessidade de solucionar o problema, por meio de outra tecnologia especifica para o mercado brasileiro, capaz de adaptar o carro às condições daqui (inclusive levando em conta o tipo de combustível usado no Brasil) é, como se percebe, estritamente ligada ao mercado.
Assim, o mesmo não acontece no setor farmacêutico, em que uma pílula que será vendida aqui será idêntica a que será fornecida ao mundo inteiro, sem a necessidade de adaptação do princípio ativo do produto. Neste caso, o que determina que um país possua um centro de pesquisa para desenvolver esta e novas outras pílulas de uma multinacional não é tanto o mercado, mas as capacidades científicas do país, que envolve um conjunto de fatores que vão da formação de mão de obra qualificada à integração de políticas científicas com a as universidades.
Segundo Queiroz, o Brasil não possui uma integração de políticas educacionais e de ciência e tecnologia como deveria ter, e isso limita mais o desenvolvimento de centros de pesquisa. "O número de doutores em engenharia é muito baixo. O Brasil forma 11 mil doutores por ano, e menos de 12% deles são engenheiros, sendo que quando se observa os números asiáticos, encontra-se mais de 30%", aponta o pesquisador.
Durante a pesquisa, conta Queiroz, ficou clara a necessidade de articulação das políticas científicas que, conforme indicaram algumas multinacionais ouvidas por ele, são muito precárias no Brasil. "As empresas tem uma dificuldade muito grande de ver políticas que vão além dos incentivos. De modo geral, quando o governo lança uma medida que dá ganho tributário, ou qualquer outro tipo de incentivo fiscal, elas imediatamente respondem a isso", argumenta Queiroz.
(Bruno de Pierro - Agência Dinheiro Vivo)
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