Espaço terá pesquisas semelhantes às da Nasa, que acaba de anunciar bactéria com bioquímica alternativa.
O país terá, no ano que vem, o seu primeiro centro de astrobiologia -área que estuda a origem, a evolução e a distribuição da vida no Universo, inclusive fora da Terra.
O espaço ficará em Valinhos, no interior de São Paulo, e aproveitará a infraestrutura do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.
Lá, num terreno com cerca de 1 milhão de m2, que inclui áreas com reserva florestal, está sendo reformado um prédio com aproximadamente 800 m2 para abrigar os laboratórios de astrobiologia.
Inicialmente, serão inauguradas apenas algumas máquinas. Uma delas é uma câmara de simulação. Nela, será possível testar a sobrevivência de organismos, como bactérias, em situações que imitam ambientes extraterrestres equivalentes à nossa Lua ou a Titã (lua de Saturno que, acredita-se, pode ter condições favoráveis à química necessária para a vida).
O dinheiro- cerca de R$ 1,5 milhão- é de instituições de apoio como o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Isso além do apoio do Inespaço, um dos INCTs (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia) criados recentemente pelo governo federal.
Com o centro em funcionamento, e com mais recursos entrando, serão comprados os equipamentos mais complexos. "Cada brinquedinho desses custa uns US$ 200 mil", conta Douglas Galante, astrobiólogo que está envolvido no projeto de Valinhos.
O Brasil já tem cientistas que trabalham com astrobiologia e com a correlata astroquímica, mas ainda não tem um lugar que reúna equipamentos para pesquisas, como acontecerá em Valinhos.
Na maioria das vezes, os pesquisadores têm de usar laboratórios de fora do país ou o acelerador de partículas do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), que fica em Campinas.
Talvez por isso, hoje só há dois grupos "oficiais" nessas duas áreas cadastradas no CNPq (numa base de dados com 26 mil grupos do país). Um deles- de astroquímica- é coordenado por André Silva Pimentel, na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
Lá, ele estuda as reações químicas que acontecem na atmosfera dos planetas e no meio interestelar. O outro grupo, de astrobiologia, do qual Galante faz parte na USP, inclui até análise de dados obtidos em Titã.
Em um dos seus trabalhos, Galante coleta organismos e os testa em condições similares às extraterrestres.
Foi mais ou menos isso que fizeram os pesquisadores da Nasa, cuja descoberta de uma bactéria que sobrevive sem fósforo foi anunciada na quinta-feira (2/12).
Na América Latina, só existe um centro de astrobiologia até hoje, que fica na Colômbia. Lá, pesquisadores estão estudando bactérias do rio Tinto capazes de sobreviver nas condições adversas do planeta vermelho.
Faltam alunos que se interessem pela área
De acordo com André Silva Pimentel, da PUC-RJ, há dificuldade para atrair alunos de química à astronomia.
"A astroquímica é uma área interdisciplinar e os alunos preferem pesquisa experimental", diz o cientista.
A falta de interesse se deve também à escassez de estrutura para pesquisa nessas áreas. "Parece que o estudo do Sistema Solar ainda não é foco do país", afirma ele.
"É mais fácil achar químicos interessados em problemas cotidianos, como poluição ambiental", completa.
A expectativa é que o anúncio da bactéria com DNA "ET" feito pela Nasa atraia mais estudantes- e recursos- para astroquímica e para a astrobiologia.
"Esse foi um dos objetivos da Nasa ao fazer barulho na divulgação da bactéria", diz Douglas Galante, da USP.
(Sabine Righetti - Folha de SP)
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