Espécies de algas encontradas na costa brasileira são ricas em substâncias que podem ser usadas para fins alimentares, medicinais e cosméticos, aponta estudo da USP.
As algas são consideradas elementos fundamentais para o ciclo de vida do ambiente marinho, pois fazem parte do primeiro nível da cadeia alimentar do mar, sustentando todos os animais herbívoros que vivem no oceano. Um estudo brasileiro acaba de mostrar que quatro espécies desses vegetais muito comuns na costa brasileira podem beneficiar também o homem, sendo utilizadas para fins nutritivos, medicinais e cosméticos.
O estudo, realizado por pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista internacional Food Chemistry, descobriu que as algas vermelhas das espécies Laurencia filiformis, Laurencia intricata, Gracilaria domingensis e Gracilaria birdiae são verdadeiras fontes de proteínas, aminoácidos, lipídeos e ácidos graxos, essenciais para seres humanos e animais.
"As pesquisas revelaram baixas quantidades de gorduras, sendo que a pouca gordura encontrada é rica em ômega 3 e ômega 6, ou seja, ácidos graxos essenciais para o homem. O teor de proteínas encontrado foi relativamente alto e a composição de aminoácidos revelou que aproximadamente 50% são aminoácidos essenciais", destaca o professor Ernani Pinto, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas.
As amostras analisadas foram todas colhidas na praia de Ubu, em Anchieta (ES). Entre os principais compostos encontrados está o ágar, um tipo de polímero de açúcares que pode ser usado na indústria alimentar para a fabricação de sucos e balas, entre outros produtos. Já na indústria farmacêutica, a substância costuma ser empregada na fabricação de supositórios, cápsulas e laxantes.
Constatou-se ainda que as espécies estudadas pela USP produzem a carragenana, um agente espessante usado na composição de gelatinas. Ele também serve para consumo medicinal, pois apresenta potencial anticoagulante, antitumoral e antiviral.
"As algas ainda apresentam compostos fotoprotetores, como os aminoácidos tipo micosporinas (chinorina, palitina, asterina e palitinol), que podem ser aplicados na produção de bloqueadores solares, além de compostos antioxidantes", afirma a pesquisadora Vanessa Gressler.
As algas são conhecidas como alimentos altamente nutritivos, graças aos teores de vitaminas, proteínas, minerais e fibras, entre outros componentes. "Elas podem ser usadas em saladas, sopas, biscoitos e condimentos diversos. Em países como China, Japão e Coreia, as algas (principalmente as vermelhas e as pardas), são utilizadas tradicionalmente como alimento desde a antiguidade", destaca a pesquisadora.
Segundo Vanessa, a espécie Gracilaria verrucosa, também chamada de ogonori, é comestível e bastante conhecida no Japão, onde geralmente é misturada ao sashimi. "Considerando também o desenvolvimento econômico, cultural e científico da sociedade, os hábitos alimentares e estilos de vida têm mudado, requerendo cada vez mais a expansão da produção de alimentos. Esses dados estimularam os estudos com algas marinhas que habitam o litoral brasileiro", enfatiza a especialista.
De acordo com os pesquisadores, no Brasil há poucos grupos que se dedicam ao estudo de tais espécies. Os estudos realizados pelo departamento da USP, segundo o professor Ernani Pinto, foram executados com a autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama). "Há registros de ocorrências dessas algas desde o litoral do Ceará até o Espírito Santo. As espécies do gênero Laurencia, por exemplo, são abundantes também no estado de São Paulo", afirma Vanessa.
Diversidade
O Brasil é um país que possui uma grande diversidade de macroalgas marinhas. Segundo Mutue Toyota Fujii, especialista do Instituto de Botânica de São Paulo, existem hoje cerca de 700 espécies, incluindo alguns gêneros de importância econômica, como a Gracilaria, Gelidium, Hypnea, Porphyra, Pterocladiella e Sargassum.
"As algas destinadas à produção de ficocoloides (substâncias encontradas na parede celular das algas e empregadas por indústrias) devem receber tratamentos para retirada de impurezas e algas epífitas. Processos como o da clarificação (retirada de pigmentos) também costumam ser feitos", explica.
De acordo com ela, o Instituto de Botânica desenvolve pesquisas voltadas para a taxonomia e a filogenia molecular, além da ecologia de comunidades e da fisiologia das espécies de interesse comercial. "Isso quer dizer que desenvolvemos pesquisas para saber quais espécies ocorrem no Brasil, onde e de que forma elas se interrelacionam com a comunidade na qual compartilham o mesmo ambiente", explica Mutue.
(Gisela Cabral - Correio Braziliense)
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