Laboratório armazena células de espécies em risco, mas o assunto é polêmico. Para um rinoceronte branco do norte da África, Angalifu tem uma vida muito boa. O animal de duas toneladas pode percorrer livremente um habitat de 862 quilômetros quadrados que se parece com as savanas africanas. Mesmo assim, Angalifu e sua companheira Nola, uma moradora mais antiga do zoológico, são dois dos oito rinocerontes brancos do norte que se acredita restarem no planeta.
"Esses animais maravilhosos estão à beira da extinção", diz Oliver Ryder, principal geneticista do Instituto de Pesquisas para a Conservação do Zoológico de San Diego, na Califórnia: "Restaram alguns deles, mas ainda não se sabe se poderão se reproduzir."
Ryder supervisiona o Frozen Zoo, um laboratório onde células de pele e DNA de 12 rinocerontes brancos e 8,4 mil outros animais - num total de cerca de 800 espécies - estão armazenadas a 155 graus centígrados negativos. A esperança é que cientistas possam usar as células para criar animais clonados e salvar espécies ameaçadas de extinção.
O laboratório foi fundado em 1972, mas a tecnologia necessária para fazer uso das células só agora está sendo desenvolvida. No primeiro trimestre deste ano, pesquisadores do Scripps Research Institute usaram amostras de pele do Frozen Zoo para criar células-tronco do mandril de crina prateada, o macaco mais ameaçado de extinção da África. Em 1º de junho as células-tronco se transformaram em células cerebrais. "Pensei: conseguimos", diz Jeanne Loring, que liderou a pesquisa. "Isso me dá esperanças de que possamos ajudar a salvar espécies da extinção."
O próximo passo será usar as células-tronco em alguma variação do método usado para clonar a ovelha Dolly. Em 1996, cientistas escoceses "fizeram" Dolly transferindo o núcleo de uma célula de ovelha adulta para um óvulo em desenvolvimento que teve seu núcleo removido. Os cientistas usaram células-tronco embrionárias nesse processo; Jeanne usaria as células-tronco que desenvolveu a partir das células de pele do mandril, pois é difícil conseguir embriões desses animais ameaçados.
A pesquisadora e sua equipe também poderão tentar misturar células do mandril com embriões de três a quatro dias de um animal parecido que proporcione uma grande oferta, como um babuíno. O filhote resultante dessa mistura poderia ser acasalado de forma seletiva para eliminar os genes que não são do mandril, criando, em tese, um mandril puro.
A técnica de transformação de células, desenvolvida há três anos por Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, no Japão, usa um vírus inócuo para transportar os genes para as células de pele e transformá-las em células-tronco. Embora a técnica tenha funcionado para o mandril, não deu certo quando usada em células do rinoceronte branco, de modo que Jeanne espera mapear o genoma do rinoceronte para obter pistas sobre quais de seus genes podem reprogramar células.
Cientistas vêm colhendo células-tronco de embriões há mais de uma década, mas a tecnologia de Yamanaka é importante porque os embriões nem sempre estão disponíveis no caso de espécies ameaçadas. No entanto, tentativas de clonar animais ameaçados de extinção até agora levaram a gestações abortadas e crias deformadas.
Em 2000, células do Frozen Zoo foram usadas para clonar dois tipos ameaçados de gado, um gaur e um banteng -, usando-se o mesmo método da ovelha Dolly. Dois dos três bezerros morreram logo após o nascimento. O terceiro banteng viveu durante sete anos no zoológico de San Diego, menos da metade de um período de vida normal, e morreu em abril deste ano.
Alguns cientistas afirmam que esses exemplos mostram a complexidade moral da clonagem. Os benefícios podem ser limitados se apenas um punhado de animais for criado para viver em zoológicos, afirma Autumn M. Fiester, pesquisador do Centro de Bioética da Universidade da Pensilvânia. "Tem havido muito sofrimento com essas mortes prematuras e deformações", diz Fiester.
Ryder, do Instituto de Pesquisas para a Conservação do Zoológico, admite os problemas: "Vamos nos engajar nesses esforços apenas se não houver outra maneira de impedir a extinção."
Para Ryder, a única justificativa para a clonagem é criar novos animais que possam se acasalar com outros já existentes, aumentando suas populações e diversidade genética. Com o rinoceronte branco, porém, ele e a pesquisadora Jeanne correm contra o tempo: Angalify está chegando aos 40 anos, e rinocerontes normalmente não vivem mais que 50.
(Rob Waters, Bloomberg Businessweek - Valor Econômico)
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