Diferença entre formato de crânios seria explicada por origens distintas. Uma nova análise volta a dar peso à hipótese de que os primeiros humanos a chegar às Américas eram gente com aparência bem distinta da dos índios atuais, mas mais semelhante à de africanos e nativos australianos.
Os antropólogos brasileiros Mark Hubbe e Walter Neves, junto com Katerina Harvati, da Universidade de Tübingen (Alemanha), publicam os resultados na última edição da revista científica de acesso livre "PLoS One".
Após analisar os crânios dos primeiros americanos e compará-los com os dos indígenas mais recentes e com outras populações do passado e de hoje em dia, o trio buscou a melhor maneira de explicar as diferenças entre os índios atuais e os crânios mais antigos do continente.
Segundo eles, o mais provável é que tenha ocorrido a migração de dois grandes grupos, ambos vindos da Ásia em momentos diferentes do fim da Era do Gelo (há pelo menos 15 mil anos).
O grupo mais antigo, representado, por exemplo, por crânios de Lagoa Santa (MG), com idade entre 11 mil e 8.000 anos, tinha a aparência "africanizada", enquanto os indígenas atuais já teriam assumido traços mais típicos dos asiáticos de hoje.
"A gente sabe que houve uma mudança de morfologia na Ásia. Quero dizer, eles passaram de uma morfologia generalizada [como a dos americanos mais antigos] para a morfologia atual", afirmou Hubbe à Folha.
Além disso, ao simular as taxas de mudança no formato dos crânios com base no que se conhece sobre a evolução dessa característica, o trio mostrou que as diferenças seriam grandes demais para terem se originado dentro da mesma população.
Esse ponto é importante porque a tese das duas migrações andou sob fogo recente. Pesquisadores como Rolando González-José, do Centro Nacional Patagônico (Argentina), propõem que as diferenças de tipos de crânio são só indícios de que havia uma grande variabilidade natural entre os povoadores da América. Com o tempo, essa variação teria sumido.
Para o argentino, "o trabalho é interessante, mas não é uma prova determinante. Gostaria de tentar refazer a análise com amostras mais sólidas", diz ele, apontando que crânios de poucas populações indígenas modernas entraram na avaliação.
Além disso, o pouco DNA obtido dos americanos mais antigos ainda não se mostrou diferente do de índios atuais. "DNA é o nosso ponto fraco", diz Hubbe. "A discussão agora é tentar entender porque as coisas não batem."
(Reinaldo José Lopes - Folha de SP)
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