Aparelho projetado e feito no Brasil para identificar composição química e movimento de galáxias segue em junho para o telescópio nos Andes chilenos
Em meados de junho será enviado para o Chile o terceiro equipamento astronômico projetado e feito no Brasil para integrar o telescópio do Observatório Austral de Pesquisa Astrofísica (Soar), construído com financiamento de instituições brasileiras e norte-americanas. O novo aparelho, o filtro imageador ajustável brasileiro (BTFI), é um interferômetro de alta tecnologia que permitirá avaliar tanto a composição química como os movimentos relativos internos de galáxias.
Desenvolvido ao longo dos últimos três anos por uma equipe coordenada pela astrofísica Claudia Mendes de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP), e financiado pela FAPESP, o interferômetro de US$ 1,2 milhão deve ser acoplado ao telescópio do Soar no início de julho e fazer as primeiras observações do céu no final do mesmo mês.
Sua construção exigiu a criação de uma parceria entre universidades, institutos de pesquisa e empresas privadas e consumiu três anos de trabalho de pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e da Escola Politécnica (EP), ambos da USP, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) e de instituições da França e do Canadá. “Foi um trabalho verdadeiramente multidisciplinar, pois exigiu que se integrasse conhecimento de óptica, eletrônica e informática”, conta Claudia.
O resultado desse esforço é um aparelho bastante versátil, dotado de inovações tecnológicas que o tornam único no mundo. Usando um par de lentes móveis, o grupo brasileiro conseguiu criar um filtro de luz em geral feito com dezenas de lentes e capaz de identificar a composição química dos corpos celestes. Associado a esse filtro, há um interferômetro do tipo Fabry-Pérot, usado para medir a variação do movimento em diferentes pontos de uma galáxia.
Esse equipamento 2 em 1, na realidade, será acoplado a outro instrumento que corrige as perturbações que a turbulência da atmosfera terrestre provoca na luz. “Associada à qualidade de imagem do BTFI, essa correção permitirá obter imagens com nitidez inédita”, explica Claudia, que na terça-feira (18/05), apresentou o interferômetro montado a um grupo seleto da comunidade acadêmica, integrado por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP; Marco Antonio Zago, pró-reitor de pesquisa da USP; e José Roberto Cardoso e Ivan Falleiros, respectivamente, diretor e ex-diretor da Escola Politécnica da USP.
Depois de instalado, o BTFI deve passar por período de testes e ajustes conhecida como fase de comissionamento, antes que comece a operar a pleno potencial. “Essa é uma fase necessária e importante na instalação de aparelhos tecnologicamente sofisticados como esse”, afirma o astrofísico João Steiner, do IAG, que participa do projeto do telescópio desde sua concepção, em 1993. “Equipes de telescópios de nível mundial que não fizeram comissionamento bem feito, se arrependeram e, em alguns casos, tiveram de recomeçar do zero”.
O BTFI é o terceiro dos quatro equipamentos astronômicos que o Brasil se comprometeu a fabricar para o Soar, observatório que abriga um telescópio com espelho de 4,1 metros de diâmetro, instalado a 2.700 metros de altitude nos Andes chilenos. Dois outros aparelhos planejados e desenvolvidos com a participação de brasileiros já foram conectados ao telescópio no último ano: a câmera Spartan, especializada em captar imagens no infravermelho, forma de radiação eletromagnética capaz de atravessar as gigantescas nuvens de poeira que ocultam galáxias e berçários de estrelas; e o espectrógrafo Sifs, capaz de analisar a um só tempo a composição química de 1.300 pontos distintos de uma galáxia. O quarto e último equipamento dessa geração de aparelhos, prevista para estar completa em 2011, é o espectrógrafo Steles, atualmente em produção no LNA, em Minas Gerais.
Fasesp
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