Invertebrados do solo são bioindicadores de recuperação

Estudo busca identificar invertebrados do solo que sirvam de indicadores de impacto e/ou regeneração em áreas utilizadas na exploração de petróleo e gás natural

Desenvolver um trabalho de monitoramento da fauna, a fim de detectar invertebrados do solo que sirvam de indicadores de impacto e/ou regeneração em áreas utilizadas na exploração de petróleo e gás natural na Base de Operações Geólogo Pedro de Moura (BOGPM), em Urucu (AM). Este é o objetivo do Grupo de Ecologia de Invertebrados do Solo e Vegetação, coordenado pela pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e integrante da Rede CTPetro Amazônia, Lucille Marilyn Kriger Antony.

Segundo ela, durante os estudos iniciados em 2003 e consolidados em meados de 2004, com o projeto "Invertebrados do Solo como Indicadores de Recuperação de Clareiras formadas em Áreas de Exploração Petrolífera", verificou-se que, a partir de análises feitas em amostragens do solo de diversas áreas (clareiras/jazidas) antes do início de operações de reflorestamento, "os invertebrados do solo eram os principais organismos afetados pelas frágeis condições edáficas (do solo), exibindo baixa diversidade e queda na densidade populacional de seus grupos em geral, quando comparados aos sistemas naturais".

Desde então, vários plantios vêm sendo monitorados em diferentes idades de crescimento - alguns destes desde o ano zero (fase pré-plantio) até o presente, perfazendo sete anos ininterruptos de observações. Ao longo destes anos, há dados sobre plantios com três, cinco, sete, nove, 12, 14 e 16 anos de idade - incluindo as áreas mais antigas reflorestadas pela Petrobras.

Quando o sítio que está em processo de reflorestamento começa a mostrar sinais de melhora, visível não só a olho nu em relação à vegetação, mas com solo mais rico em acúmulo de serrapilheira (líter), matéria orgânica, nutrientes etc., os invertebrados também apresentam comunidades mais ricas e populosas.

Se esta melhora for apenas aparente ou sazonal, a resposta dos invertebrados é imediata e refletida em suas populações, que também oscilam, mostrando pouca estabilidade. "Portanto, invertebrados do solo, particularmente certos grupos faunísticos, podem servir como organismos de monitoramento, como ferramentas práticas de diagnóstico de baixo custo", afirma a pesquisadora.

Desta maneira, estes estudos podem beneficiar tanto os pesquisadores envolvidos em trabalhos de regeneração de áreas degradadas pela ação do homem quanto agricultores envolvidos nas várias modalidades de sistemas de cultivo agrícola.

Os invertebrados mais comuns são formigas, besouros, aranhas, grilos e baratas. Entretanto, dependendo do estágio em que se encontra o plantio, pode ocorrer proliferação de determinado grupo faunístico.

"Por exemplo, na jazida 23 predominaram as aranhas nos estágios iniciais de crescimento do plantio. Nos primeiros dois e três anos era impressionante a quantidade destes animais que caíam nas armadilhas; esta abundância decresceu com a idade e desenvolvimento do plantio. E é por meio de monitoramentos de médio e longo prazos que se pode detectar estas ocorrências", diz a pesquisadora.

Paralelamente, entre outros estudos realizados pelo grupo está o de prospecção de viroses e injúrias causadas por ácaros do gênero Brevipalpus (Acari tenuipalpidae), na vegetação das jazidas de Urucu e também na região de Manaus.

Os estudos iniciados em 2004 constataram a ocorrência de sintomas locais em plantas. A estes sintomas estavam associadas partículas virais semelhantes às relatadas nos casos conhecidos de viroses associadas a estes ácaros. Há a possibilidade de em algum desses casos tratar-se de CiLV ou de vírus relacionados que podem constituir-se em limitações ao comércio de plantas ornamentais e cultivos agrícolas.

Também foram observados sintomas de viroses na vegetação ornamental da BOGPM. Os resultados desta pesquisa já estão disponíveis (Rodrigues, José Carlos V.; Antony, Lucille M. K.; Salaroli, Renato S. ; Kitajima, E. W. Brevipalpus-associated viruses in the central Amazon Basin. "Tropical Plant Pathology", v. 33, p. 12-19, 2008).

Metas para 2010

Este ano, em virtude da evolução das pesquisas, o novo projeto coordenado por Lucille, Uso de Invertebrados do Solo e da Vegetação como Medidores de Impacto e Evolução de Plantios em Áreas de Exploração Petrolífera, e como Ferramentas de Diagnóstico no Monitoramento da Restauração de Áreas Degradadas, ela pretende dar continuidade aos estudos de monitoramento da fauna edáfica nos diversos plantios à medida que evoluem.

Com isso, pretende-se detectar indicadores da recuperação dos sistemas, e intensificar os estudos sobre ácaros Tenuipalpidae (grupo fitófago de grande relevância como agente transmissor de viroses na vegetação), bem como dar início aos estudos de identificação taxonômica e molecular dos invertebrados (do solo e da vegetação), até aqui identificados como indicadores.

Uma vez completada a identificação taxonômica e molecular destes bioindicadores, será montado um banco de seqüências de rDNA de invertebrados de origem amazônica, com o objetivo de descrever e classificar novos organismos. "Esta variabilidade genética pode ganhar ainda mais valor quando devidamente organizada, classificada, documentada e disponível para acesso, sempre que houver demanda (quer seja para pesquisa básica ou aplicações tecnológicas), sendo um componente relevante na estratégia de desenvolvimento econômico de um país", frisa a pesquisadora.

(Sara Warghan, Assessoria de Comunicação da Rede CTPetro Amazônia)

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