Soro produzido no Rio garante recuperação mais rápida em casos de picada de aranha

O tempo de internação de pacientes envenenados por picadas da aranha do gênero Latrodectus, conhecida como viúva-negra, pode ser reduzido em até um terço quando se aplica o soro específico, chamado de antilatrodéctico. A constatação faz parte de uma pesquisa divulgada pela Secretaria de Saúde da Bahia, um dos estados com maior incidência de aranhas desse tipo no país.

O estudo tomou como base os atendimentos registrados na secretaria de 2000 a 2007. Segundo o diretor em exercício do Centro de Informações Antiveneno da Bahia (Ciave), Daniel Rebouças, no período analisado, foram atendidos 825 casos de picada de aranha no estado, entre os quais pouco mais de 100 eram de viúva-negra. Rebouças disse que, embora a incidência não seja tão grande, os sintomas são muito severos.

“As picadas de viúva-negra representaram cerca de 15% do total de picadas de aranha na Bahia, mas, para os pacientes envenenados, o sofrimento é muito grande e qualquer avanço no tratamento é fundamental.” O veneno ataca o sistema nervoso central, provoca dores musculares intensas, náuseas, mal-estar generalizado, dor de cabeça e alterações cardiorrespitarórias que podem simular um infarto do miocárdio, explicou.

Rebouças ressaltou que, por isso, o soro específico é muito importante, pois, como comprovou o estudo, ele é capaz de reduzir a duração dos sintomas de 32 horas, o que exigiria uma internação de três dias, para até quatro horas, com permanência hospitalar de apenas um dia.

Em todo o Brasil, há três laboratórios que fornecem ao Ministério da Saúde soro contra animais peçonhentos, mas apenas um, o Instituto Vital Brasil, ligado à Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, produz a substância específica contra o envenenamento por picada de viúva-negra. O Vital Brasil fabrica o soro desde 2001, embora não saiba informar qual o volume produzido anualmente.

O biólogo Cláudio Maurício, do Vital Brasil, disse que o uso imediato do soro específico, além de acelerar o processo de recuperação, reduz os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS), já que o paciente fica menos tempo na unidade hospitalar. “É difícil calcular a economia, mas com certeza reduzem-se drasticamente os gastos governamentais e previne-se a letalidade.” O biólogo ressaltou, porém, que ainda não há dados precisos no país sobre as mortes causadas pelo veneno dessa aranha.

Segundo ele, sabe-se que existem essas mortes, mas os casos ainda são subnotificados. porque se trata de um animal muito pequeno, “menor do que uma moeda de R$ 1”. Então, acrescentou, as pessoas custam a atribuir à viúva-negra um quadro tão severo.

Ele afirmou que a viúva-negra aparece com mais frequência na região litorânea do Nordeste. No Rio de Janeiro, há relatos principalmente nas cidades da Região dos Lagos. As aranhas costumam ser encontradas em barrancos à beira de estradas, sob cascas de coco ou folhas secas e latas vazias. Nas restingas do litoral, são abundantes na vegetação conhecida como “salsa-da-praia”.

O Ministério da Saúde informou que não há levantamentos apontando redução dos gastos públicos com a diminuição do tempo de internação nos casos de envenenamento, porque essa estimativa envolve diversas variáveis, como o tipo de leito e os medicamentos utilizados, entre outras.

Além da viúva-negra, há registros de mais três tipos de aranhas peçonhentas no país: a armadeira e a da banana, ou macaca, encontrada em várias regiões do país, com predomínio no Sudeste e no Sul, e a marrom, muito comum no Sul, principalmente no Paraná. Em todos os casos, quando houver envenenamento, o local da picada deve ser lavado com água e sabão e vítima levada imediatamente ao serviço de saúde mais próximo para que possa receber tratamento.

(Fonte: Agência Brasil)

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