População do tubarão branco sofre declínio
Injustamente aprisionados no inconsciente coletivo como máquinas de matar, os tubarões vivem uma realidade bem diferente. Há dois anos, um estudo da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) estimou que um terço das 64 espécies de tubarão em todos os oceanos estava ameaçada de extinção.
Agora, um novo estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Stanford, revela que o Grande Tubarão Branco, o vilão dos filmes de Steven Spielberg, é uma das espécies mais ameaçadas do mundo, tendo atualmente uma população estimada em apenas 3.500 indivíduos - 90% menos que há 20 anos. Contra esses animais, pesam a sobrepesca, e também a antipatia da população, como ressalta uma pesquisa feita no Brasil sobre o consumo de sua carne e iguarias.
Imagem impede solidariedade
No estudo feito em Stanford, divulgado durante a reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), em San Diego, os pesquisadores analisaram um grupo de 150 tubarões brancos, marcados e monitorados por satélite. Durante muito tempo, acreditava-se que esses animais eram raros, mas ainda não ameaçados de extinção, já que diversos grupos eram vistos em várias regiões do planeta.
- A marcação mostrou que, na verdade, os grupos que estavam sendo avistados eram os mesmos grupos marcados - afirmou Ronald O'Dor, um dos pesquisadores envolvidos no Censo da Vida Marinha, estudo internacional para mapear a biodiversidade dos oceanos.
A partir dessa constatação, e usando estimativas sobre populações, os pesquisadores chegaram ao número, aproximado, dos tubarões brancos existentes.
Tais animais são ameaçados pela sobrepesca, quando não ficam presos em redes de arrasto ou batem em navios de grande porte ou barcos pesqueiros.
- O fato é essa população estimada de tubarões brancos é menor do que a de tigres existente na Terra - disse O'Dor. - Ouvimos muito falar do perigo de extinção enfrentado pelos tigres, mas esses tubarões estão em situação semelhante.
A pesquisa também confirmou que boa parte desses animais se reunem, durante 100 dias do ano, numa área entre a costa da Califórnia e o Havaí, apelidada pelos cientistas de "Café do Tubarão Branco".
- Através da marcação dos tubarões, aprendemos que eles se movimentam mais intensamente do que pensávamos. Tudo isso lembra de que se trata de um animal tão raro quando especial, e que tem que ser preservado. Só que as pessoas parecem não se preocupar com os tubarões, tomando-os como assassinos dos mares, mas essa não é a realidade - garantiu O'Dor.
Essa mesma percepção levou o Instituto Aqualung a realizar uma pesquisa nacional sobre o comportamento do consumidor brasileiro e sua percepção desses animais.
- O problema de fazer campanhas em defesa do tubarão é que ele não é um panda - garante o biólogo marinho Marcelo Szpilman, do Instituto Aqualung. - Embora esteja no topo da cadeia alimentar e seja muito importante para o equilíbrio do ecossistema marinho, as pessoas, em geral, não se solidarizam com ele, como o fazem com os golfinhos e os pandas.
Barbatanas são valorizadas
Conduzida com 1.400 entrevistas feitas no ano passado, a pesquisa mostra que 6% dos cariocas consomem carne de cação, contra 69% dos paulistas. Questionados sobre o consumo de barbatanas de tubarão (nadadeiras, na verdade), nenhum carioca afirmou fazê-lo, contra 17% dos paulistas que admitiram o consumo.
Para os realizadores da pesquisa, o fato de São Paulo ter uma grande população oriental talvez explique a diferença.
- Na China, há milênios, as barbatanas servem para fazer sopas, são símbolos de status, como o caviar - diz Szpilman. - Só que de vinte anos para cá, a classe média chinesa aumentou em 300 milhões de pessoas. E elas também querem consumir sopa de barbatana. E aí criou-se uma demanda que acabou gerando um mercado internacional de barbatana, que muitas vezes funciona na ilegalidade.
O estudo ressalta a diferença - nenhuma - entre cação e tubarão, usada, segundo os pesquisadores, para justificar o consumo.
- Muitas pessoas dizem que consomem cação, mas não tubarão. Mas é tudo a mesma coisa. No Brasil, se diz que cação é o tubarão menor e tubarão é o animal maior - garante Szpilman. - A sabedoria popular traz a melhor explicação. Como dizem os pescadores, "quando a gente come, é cação. Quando ele come a gente, é tubarão".
Injustamente aprisionados no inconsciente coletivo como máquinas de matar, os tubarões vivem uma realidade bem diferente. Há dois anos, um estudo da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) estimou que um terço das 64 espécies de tubarão em todos os oceanos estava ameaçada de extinção.
Agora, um novo estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Stanford, revela que o Grande Tubarão Branco, o vilão dos filmes de Steven Spielberg, é uma das espécies mais ameaçadas do mundo, tendo atualmente uma população estimada em apenas 3.500 indivíduos - 90% menos que há 20 anos. Contra esses animais, pesam a sobrepesca, e também a antipatia da população, como ressalta uma pesquisa feita no Brasil sobre o consumo de sua carne e iguarias.
Imagem impede solidariedade
No estudo feito em Stanford, divulgado durante a reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), em San Diego, os pesquisadores analisaram um grupo de 150 tubarões brancos, marcados e monitorados por satélite. Durante muito tempo, acreditava-se que esses animais eram raros, mas ainda não ameaçados de extinção, já que diversos grupos eram vistos em várias regiões do planeta.
- A marcação mostrou que, na verdade, os grupos que estavam sendo avistados eram os mesmos grupos marcados - afirmou Ronald O'Dor, um dos pesquisadores envolvidos no Censo da Vida Marinha, estudo internacional para mapear a biodiversidade dos oceanos.
A partir dessa constatação, e usando estimativas sobre populações, os pesquisadores chegaram ao número, aproximado, dos tubarões brancos existentes.
Tais animais são ameaçados pela sobrepesca, quando não ficam presos em redes de arrasto ou batem em navios de grande porte ou barcos pesqueiros.
- O fato é essa população estimada de tubarões brancos é menor do que a de tigres existente na Terra - disse O'Dor. - Ouvimos muito falar do perigo de extinção enfrentado pelos tigres, mas esses tubarões estão em situação semelhante.
A pesquisa também confirmou que boa parte desses animais se reunem, durante 100 dias do ano, numa área entre a costa da Califórnia e o Havaí, apelidada pelos cientistas de "Café do Tubarão Branco".
- Através da marcação dos tubarões, aprendemos que eles se movimentam mais intensamente do que pensávamos. Tudo isso lembra de que se trata de um animal tão raro quando especial, e que tem que ser preservado. Só que as pessoas parecem não se preocupar com os tubarões, tomando-os como assassinos dos mares, mas essa não é a realidade - garantiu O'Dor.
Essa mesma percepção levou o Instituto Aqualung a realizar uma pesquisa nacional sobre o comportamento do consumidor brasileiro e sua percepção desses animais.
- O problema de fazer campanhas em defesa do tubarão é que ele não é um panda - garante o biólogo marinho Marcelo Szpilman, do Instituto Aqualung. - Embora esteja no topo da cadeia alimentar e seja muito importante para o equilíbrio do ecossistema marinho, as pessoas, em geral, não se solidarizam com ele, como o fazem com os golfinhos e os pandas.
Barbatanas são valorizadas
Conduzida com 1.400 entrevistas feitas no ano passado, a pesquisa mostra que 6% dos cariocas consomem carne de cação, contra 69% dos paulistas. Questionados sobre o consumo de barbatanas de tubarão (nadadeiras, na verdade), nenhum carioca afirmou fazê-lo, contra 17% dos paulistas que admitiram o consumo.
Para os realizadores da pesquisa, o fato de São Paulo ter uma grande população oriental talvez explique a diferença.
- Na China, há milênios, as barbatanas servem para fazer sopas, são símbolos de status, como o caviar - diz Szpilman. - Só que de vinte anos para cá, a classe média chinesa aumentou em 300 milhões de pessoas. E elas também querem consumir sopa de barbatana. E aí criou-se uma demanda que acabou gerando um mercado internacional de barbatana, que muitas vezes funciona na ilegalidade.
O estudo ressalta a diferença - nenhuma - entre cação e tubarão, usada, segundo os pesquisadores, para justificar o consumo.
- Muitas pessoas dizem que consomem cação, mas não tubarão. Mas é tudo a mesma coisa. No Brasil, se diz que cação é o tubarão menor e tubarão é o animal maior - garante Szpilman. - A sabedoria popular traz a melhor explicação. Como dizem os pescadores, "quando a gente come, é cação. Quando ele come a gente, é tubarão".
(Carlos Albuquerque)
(O Globo, 24/2)

 
 
 
 
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