Um cientista da Universidade Harvard que tem se dedicado ao desenvolvimento de uma vacina que visa prevenir o surgimento de câncer resolveu ampliar sua área de atuação.
A partir de agora, vai buscar uma vacina capaz de funcionar como método contraceptivo permanente para cães e gatos. A ideia é que a estratégia possa substituir a cirurgia de castração, muito cara e invasiva.
O bioengenheiro David Mooney, professor da Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas e membro do Instituto Wyss de Engenharia Inspirada pela Biologia da Universidade Harvard, acaba de receber um financiamento de US$ 700 mil de uma organização não-governamental para trabalhar no projeto.
“Eu tenho cachorros e gostaria de ter uma alternativa à cirurgia para castrar os animais”, disse Mooney, em entrevista por e-mail. Mas, além de seu amor pelos bichos, o cientista tem uma outra motivação: o projeto também pode ajudá-lo no desenvolvimento da vacina contra câncer. “Também estamos interessados em explorar diferentes aplicações para nossas tecnologias de vacinas, e esta é uma aplicação muito interessante.”
Por que ainda não há contraceptivos caninos?
Mas, se os anticoncepcionais para humanos começaram a se popularizar em forma de pílulas já na década de 1960, por que ainda não há contraceptivos caninos ou felinos? Mooney esclarece que o princípio da contracepção em animais é bastante similar ao dos humanos. O problema é que, no caso dos animais, é preferível adotar um contraceptivo permanente, em vez dos métodos temporários geralmente adotados pelos humanos.
“Seria muito difícil dar contraceptivos orais temporários para animais, e praticamente impossível para animais de rua. Por isso, a abordagem humana para contracepção poderia funcionar para os animais em uma perspectiva científica, mas não é prática”, diz Mooney. “Por essa razão, a cirurgia é usada em animais, mas ela é muito difícil e cara para se fazer em cães e gatos de rua. Uma contracepção permanente obtida a partir de uma vacina seria muito mais viável.”
Anticorpos contra reprodução
A estratégia a ser adotada por Mooney e sua equipe envolve o hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), que regula a liberação de hormônios que controlam a reprodução, tanto em machos como em fêmeas. A ideia é usar a tecnologia das vacinas de imunoterapia – já em desenvolvimento contra o câncer – para estimular o sistema imunológico do animal a produzir anticorpos contra o GnRH, inibindo o processo reprodutivo.
Seu projeto para encontrar uma vacina contra o câncer ainda está em um estágio muito precoce, segundo ele. Mas o objetivo é estimular o sistema imunológico a atacar as células cancerígenas e fazer o indivíduo desenvolver uma resistência contra elas.
Ele enfatiza que a tecnologia usada para os dois projetos é bem parecida. “Nos dois casos, precisamos carregar o antígeno e ativar um grande número de células imunes chamadas ‘células apresentadoras de antígeno’ para gerar uma resposta imunológica efetiva.”
ONG quer fim de animais sacrificados
A iniciativa é financiada por uma ONG americana que busca reduzir o número de animais sacrificados em abrigos. A ONG Michelson Found Animals Foundation já destinou US$ 14 milhões em financiamento de pesquisas com o objetivo de criar um anticoncepcional para cães e gatos.
A organização também vai pagar US$ 25 milhões para a primeira instituição que conseguir um método anticoncepcional não invasivo, que seja permanente e que tenha baixo custo.
(Fonte: G1)