Jovem brasileiro que veio de escola pública ganha Prêmio Voluntário 2014 na Austrália

Ainda bebê, Luiz Fernando Pereira Bispo foi adotado por uma família devido ao fato de seus pais biológicos não terem condições de criá-lo. 

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Luiz Fernando Bispo, aos 23 anos, ganhou o Prêmio Voluntário do Ano na Austrália
Foto: Divulgação

Ele não conheceu, portanto, sua família biológica, mas soube que a mãe catava latinhas na rua e que o pai falecera. "Tenho vários irmãos e irmãs aos quais também nunca vi. Sei que alguns morreram e outros estão presos ou foram presos", relata hoje ao EcoD o jovem de 23 anos.

O tempo passou e Luiz foi lutar pelos seus sonhos. Em maio de 2013, o então estudante do quinto semestre de graduação em Engenharia Florestal, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/Esalq), soube que fora contemplado com uma bolsa de estudos do Ciência sem Fronteiras, projeto do governo brasileiro que oferece bolsas de estudos para alunos das universidades brasileiras, de graduação, pós-graduação e pós-doutorado.

Em agosto do mesmo ano, Bispo, que aqui desenvolvia na Esalq pesquisas com aproveitamento de resíduos florestais, partiu rumo à Austrália para estudar um ano e meio na Universidade de New South Wales (UNSW).

O graduando participou, entre março e junho de 2014, da 19ª Bienal de Sydney: You Imagine What You Desire, festival internacional de arte contemporânea em Sydney (Austrália). Neste, que é considerado o maior evento de arte visual contemporânea do país, Bispo trabalhou como voluntário no atendimento à clientes e monitoramento das obras de arte e foi reconhecido pelo seu trabalho em equipe, além de sua postura solícita. Pelo desempenho, o graduando foi um dos dez ganhadores do Prêmio “Voluntários da Exibição”, que consiste em uma carta de recomendação para seguir carreira no setor cultural.

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O jovem Luiz Bispo na Esalq, antes de ir para a Austrália
Foto: Gerhard Waller/Ascom/Esalq

O estudante não parou por aí. Disposto a receber novos conceitos acadêmicos, práticos e de vivência social e a explorar todas as oportunidades que a vida oferece, Bispo conquistou, em 23 de outubro, mais um prêmio na Austrália. Como membro do Volunteer Army, grupo que coloca indivíduos em contato com a comunidade e oferece oportunidades nos setores ambiental, artístico, saúde, desenvolvimento social e outros, foi agraciado com o “Prêmio Voluntário do Ano 2014”.

Concedido pela ARC UNSW Student Life, o prêmio é destinado ao voluntário destaque do ano. “Fui homenageado com um recorde de mais de 350 horas de atividades voluntárias em diversos setores. De acordo com os coordenadores, é a primeira vez na história do programa que alguém consegue tal façanha em um ano”, declarou Bispo.

No período de um ano, o graduando de Engenharia Florestal da Esalq trabalhou como voluntário nas organizações United Nations Association Australia (UNAA), Sydney Children Hospital, Redkite, Heart Foundation, Conservation Volunteers of Australia, Biennale of Sydney onde já foi premiado, entre outras. Também a convite da United Nations Association Australia (ONU Austrália), Bispo participou, no mês de outubro, de um debate de planos para 2015 que envolveu assuntos relacionados à pobreza, doenças, terrorismo, discriminação e mudanças climáticas.



 “Sempre tive espírito sonhador e sede de desbravar o mundo. Por isso, com luta e fé vou atrás dos meus sonhos, porque tenho em mente um objetivo, de me tornar Ministro do Meio Ambiente. Pode parecer muita pretensão, mas todas as experiências pelas quais estou passando me fazem crer que posso construir um Brasil melhor”, projeta o aluno.

Confira uma breve entrevista que o jovem concedeu ao EcoD (por e-mail), da Austrália, nesta quinta-feira, 5 de novembro:

EcoD: Como você se sente com essa conquista?

Luiz Bispo: Perante está conquista, me sinto cada vez mais confiante para enfrentar novos desafios, conquistar alvos e lutar por um Brasil melhor em todos os setores de uma sociedade como, por exemplo, social, da saúde, de paz, ambiental e econômico. Fiquei muito feliz e me sinto muito emocionado com todas as mensagens de carinho e incentivo que estou recebendo.

Qual é a importância do programa Ciências sem Fronteiras (CsF) e da Esalq para esse reconhecimento?

A Esalq foi a chave que abriu as portas para um sonho que virou realidade. O Programa CsF foi o portal e meio ao qual pude desbravar um mundo de diferentes pessoas, culturas e hábitos.

Como foi a sua infância?

Não tenho nada à reclamar da minha infância. Ainda bebê fui adotado por uma ótima família. Meus pais biológicos não tinham condições de me criar e me sustentar. Não os conheço, mas sei que minha mãe biológica catava latinha na rua. Meu pai biológico faleceu e não o conheci, infelizmente. Tenho vários irmãos e irmãs aos quais também nunca vi. Sei que alguns morreram e outros estão presos ou foram presos.

Fui adotado por passoas que admiro muito. Meus pais adotivos sofreram muita dificuldade devido ao preconceito da sociedade para com eles. Eles são negros e eu super branco. Teve momentos que policiais já chegaram a bater nos meus pais pensando que eu fosse menino roubado.

No entanto, juntos superamos tudo. Cresci em uma "casa de família", onde minha mãe trabalhava como cozinheira e meu pai era pedreiro.

Estudei em escola pública [Escola Estadual Fernão Dias Paes]. Tinha o sonho de ser jogador de futebol e na minha infância eu me dedicava muito à isso. Falhei na missão futebolística e tinha que pensar em um plano B. Prestei vestibular assim que terminei o ensino médio, mas falhei. Concorri à uma bolsa de estudos no cursinho Etapa Frei Caneca e consegui um bom desconto nas mensalidades. Ao término do cursinho, prestei vestibular na Fuvest e entrei na USP/Esalq. Foi a maior surpresa para minha fámilia.

Enfim, tive uma vida abençoada devido à tudo o que aconteceu.

Qual mensagem você deixa para os jovens brasileiros?

Para os estudantes brasileiros eu deixo a mensagem de que sonhem e busquem seus sonhos com fé, dignidade e empenho.

(ECOD)