Animal é o segundo maior mamífero da América do Sul e pesa cerca de 100kg. Índios e comunidades ribeirinhas contribuíram com o estudo.
Ela está na Amazônia há séculos, tem seus crânios empilhados em reservas indígenas e já foi caçada em frente a um presidente americano, mas a comunidade científica ainda não havia estudado aquela anta. Nesta semana um estudo publicado pelo "Journal of Mammalogy" revelou que trata-se de uma nova espécie, batizada de Tapirus kabomani. É o segundo maior mamífero da América do Sul, perdendo apenas para aTapirus terrestris, a anta brasileira.
A T. kabomani é a primeira anta revelada em 150 anos. Encontrada na divisa dos estados de Amazonas e Rondônia, ela é conhecida pela comunidade ribeirinha como anta pretinha, já que sua coloração é mais escura do que a anta brasileira. A pretinha pesa cerca de 100kg (três vezes menos do que a T. terrestris), tem patas mais curtas e crina menos proeminente.
Os estudos da anta pretinha começaram dez anos atrás, em escavações paleontológicas no Acre. Lá, uma equipe da Universidade Federal de Rondônia (Unir) encontrou crânios de antas diferentes da espécie já conhecida.
Nos anos seguintes, pesquisadores da Unir e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) visitaram uma reserva indígena próxima a Porto Velho (RO). A tribo karitiana, que habita aquela região amazônica, empilha crânios de animais caçados - uma forma dos homens mostrarem "status" e atraírem mulheres. Lá, os crânios das antas brasileiras e pretinhas já eram separados. Os índios, então, já sabiam que havia uma diferença entre as espécies.
- Vimos que alguns hábitos são diferentes - revela Fabrício Rodrigues dos Santos, coautor do estudo e professor de Evolução do Departamento de Biologia Rural da UFMG. - A anta pretinha vive em campos abertos. A brasileira prefere a floresta fechada.
Até agora, os pesquisadores só flagraram a anta pretinha com câmeras de armadilha fotográfica, que registram seu deslocamento à noite, período em que se alimenta.
A anta foi alvo caçadores que acompanhava o sertanista Marechal Rondon e o presidente americano Theodore Roosevelt.
- Entre 1912 e 1913, eles participavam de uma expedição em busca de um rio no Amazonas, que era conhecido como Rio da Dúvida - conta. - Quatro caçadores, que os acompanharam, mataram quatro antas. Uma delas é a pretinha e está exposta no Museu Americano de História Natural, em Nova York. Tentamos trazê-la para estudar o DNA de sua pele, mas a transferência não foi autorizada nos EUA.
A próxima etapa do estudo é identificar a distribuição na Amazônia da nova espécie e seu status de conservação. Estima-se que a existência da anta pretinha esteja ameaçada, já que a brasileira, que seria mais comum, é considerada vulnerável a extinção.
(Renato Grandelle/O Globo)