Dezesseis anos depois da clonagem do primeiro mamífero, a ovelha Dolly, cientistas conseguiram, pela primeira vez, clonar um embrião humano em seus primeiros estágios de desenvolvimento.
Os protoembriões foram usados para produzir células-tronco embrionárias - capazes de se transformar em qualquer tecido do corpo -, num avanço bastante significativo e há muito tempo esperado para o tratamento de lesões e doenças graves como Parkinson, esclerose múltipla e problemas cardíacos. Especialistas envolvidos no processo garantem que o objetivo não é clonar seres humanos, mas, sim criar novas terapias personalizadas.
Tanto é assim que os embriões humanos clonados usados na pesquisa foram destruídos em estágios ainda muito iniciais de desenvolvimento, logo depois da extração das células-tronco, e não levados ao crescimento, como no caso da ovelha Dolly e de tantos outros animais clonados depois dela. A técnica usada, no entanto, foi bastante similar à que criou a ovelha. Células da pele de um indivíduo foram colocadas em um óvulo previamente esvaziado de seu material genético e estimuladas a se desenvolver. Quando atingiram a fase de blastocisto, as células-tronco embrionárias foram extraídas e os embriões destruídos. O estudo foi publicado na revista "Cell".
Conseguir gerar grande quantidade de células-tronco do próprio paciente era uma espécie de Santo Graal da atual ciência médica, como comparou o jornalista Steve Connor, no "Independent". Embora o procedimento tenha sido feito com animais, até agora nunca tinha sido obtido com material humano, a despeito de inúmeras tentativas. Aparentemente, a dificuldade viria da maior fragilidade do óvulo humano.
Em 2004, um grupo coordenado por Woo Suk Hwang, da Universidade Nacional de Seoul, anunciou ter produzido o primeiro embirão humano clonado e, em seguida, obtido células-tronco embionárias a partir dele. Menos de um ano depois, no entanto, o grupo, que já havia clonado um cachorro, foi acusado de fraude e desmentiu os resultados obtidos. Outros grupos tentaram, mas os embriões não passaram do estágio de 6 a 12 células.
A corrida pela obtenção das células-tronco embrionárias faz todo o sentido. Cultivadas em laboratório, essas células podem dar origem a qualquer tecido do corpo humano. Por isso, em tese ao menos, poderiam curar lesões na medula, recompor órgãos, tratar problemas graves de visão, oferecendo tratamentos inéditos para muitas doenças hoje incuráveis. Como os tecidos seriam feitos a partir do material genético do próprio paciente (que, no caso, cedeu as células de sua pele), não haveria risco algum de rejeição. A medicina personalizada alcançaria o seu ápice.
- Nossa descoberta oferece novas maneiras de gerar células-tronco embrionárias para pacientes com problemas em tecidos e órgãos - afirmou o coordenador do estudo, Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Ciência e Saúde do Oregon, nos EUA, em comunicado oficial sobre o estudo. - Essas células-tronco podem regenerar órgãos ou substituir tecidos danificados, levando à cura de doenças que hoje afetam milhões de pessoas.
O grupo também conseguiu observar a capacidade de diferenciação das células obtidas em tecidos específicos
- Um atento exame das células-tronco obtidas por meio desta técnica demonstrou sua capacidade de se converter, como qualquer célula-tronco embrionária normal, em diferentes tipos de células, entre elas, células nervosas, células do fígado e céluas cardíacas - disse Mitalipov, em entrevista ao "Independent".
No entanto, o estudo já levanta sérias preocupações éticas, sobretudo em relação à criação de clones humanos. Há o temor de que a técnica seja incorporada às oferecidas por clínicas de fertilização in vitro, como alternativa para casais estéreis, por exemplo. Outros grupos argumentam que é simplesmente antiético manipular embriões humanos.
- A pesquisa tem como único objetivo gerar células-tronco embrionárias para tratar doenças graves; e não aumentar as chances de produzir bebês clonados - garantiu Mitalipov. - Este não é o nosso foco e não acreditamos que nossas descobertas sejam usadas por outros grupos como um avanço na clonagem humana reprodutiva.
(Roberta Jansen / O Globo)
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