Borboleta-monarca se orienta apenas pelo Sol durante migração

Todos os anos no outono, milhões de borboletas-monarca (Danaus plexippus) se reúnem para sua estadia de inverno em uma região montanhosa do México.
Elas viajam até 4 mil quilômetros desde seu local de procriação no leste da América do Norte. Esses insetos realizam essa migração extraordinária sem saber sua distância em relação ao destino, afirma um estudo.

As monarcas podem usar sua posição em relação ao sol como uma bússola interna. Mas ao deslocá-las 2,5 quilômetros, o biólogo Henrik Mouritsen, da Universidade de Oldenburg, na Alemanha, descobriu que elas não corrigiram sua direção. “Os estudiosos pareciam supor que elas possuíam algum tipo de mapa, o qual permitiria que se aproximassem de um local a poucos quilômetros de distância após terem viajado milhares de quilômetros”, afirma. Agora, “está claro que elas não fazem isso”. Os resultados estão publicados no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Trabalhando em conjunto com amadores durante mais de cinco décadas, na colocação de etiquetas e no monitoramento das monarcas em liberdade, os cientistas criaram um banco de dados sobre as migrações desses animais. Ao analisar esses registros, Mouritsen notou que as monarcas estavam predispostas a se dispersarem ao longo de sua rota migratória. A distribuição desses animais se encaixava nas previsões de um modelo matemático que supunha que as monarcas voavam usando apenas uma bússola interna e não bússola e mapa.

Mouritsen também capturou 76 monarcas que viajavam na direção sudoeste, saídas de campos próximos de Ontário, no Canadá, levando-as até Calgary, província de Alberta, 2,5 quilômetros a oeste. Ele as colocou em um simulador de voo – um cilindro de plástico que não permitia a visualização de pontos de referência, com exceção do céu – e as prendeu a uma vareta, a qual permitia que tomassem qualquer direção sem escapar.

Embora precisassem voar na direção sul ou sudeste para ir de Calgary aos locais de invernagem, elas continuaram, de um modo geral, voando para o sudoeste. “Não existe qualquer sinal de uso de um mapa interno”, afirma Mouritsen.

A solução talvez esteja na geografia. As monarcas relutam em atravessar montanhas elevadas ou o mar aberto. Por isso, mesmo sem um mapa interno, as montanhas rochosas à oeste e o Golfo do México ao sul de sua rota migratória fazem com que convirjam para seu local de destino. Quando se aproximam da área comum correta, as monarcas possivelmente usam o olfato ou sinais de comunicação para orientá-las até o local exato de invernagem.

Karen Oberhauser, ecologista da Universidade de Minnesota, em St. Paul, questiona as duas linhas de evidência apresentadas no estudo de Mouritsen. Ela afirma que a equipe deveria ter comparado a distribuição das monarcas a previsões de um modelo que incluísse bússola e mapa e também de um modelo que incluísse apenas bússola. “A ciência opera rejeitando as hipóteses que não explicam os dados e não reforçando as hipóteses favoráveis”, afirma.

Além disso, a cientista afirma que Mouritsen transportou as monarcas para bem longe de sua rota normal e as colocou em uma situação à qual nunca seriam expostas de forma natural. “Essa não é uma investigação imparcial de uma estratégia de navegação real.”

Mouritsen responde afirmando que um modelo que incluísse bússola e mapa internos precisaria ter produzido um número muito grande de suposições sobre a capacidade desses insetos de corrigir sua direção e em que momento eles passariam a fazer isso. “Uma coisa é certa: caso usem um mapa interno para corrigir sua direção, elas devem ficar bem mais juntas do que se usarem apenas a orientação de uma bússola”, afirmou.

O neurobiólogo da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, em Worcester, Steven Reppert, está de acordo. Ele acredita que o experimento com o deslocamento dos insetos é interessante, mas inconclusivo. “É necessário que sejam realizados estudos que incluam deslocamentos de distâncias e locais variados para se afirmar com confiança que as monarcas do leste não são realmente navegadoras”, afirma.

 (Fonte: Portal iG)

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