No país mais pobre da América Latina a situação ainda permanece calamitosa 2 anos após o terremoto que devastou o país, em Janeiro de 2010.
Durante uma visita de reconhecimento ao centro da cidade, acompanhado de militares brasileiros, a atmosfera é de estagnação e impotência frente a escassez de recursos. Mulheres caminham para cima e para baixo com baldes de água potável coletados a quilômetros de distância da moradia. O exército brasileiro é uma das instituições que distribui água para a população usando caminhões pipa. O Sargento que me acomapanha lamenta: "Não conseguimos alcançar todo mundo".
Cólera devasta
A ameaça de doenças transmitidas pela água como o Cólera é iminente e assombra os trabalhos de prevenção e conscientização realizado pelas ONGs. A falta de noções de higiene é um dos problemas sérios a ser enfrentado pelos haitianos. Caminhando pelas ruas é comum encontrar pessoas urinando e defecando em locais públicos ou até em pequenos córregos. Animais de todos os tipos são vistos revirando os lixos em busca de restos de alimento, ao mesmo tempo que dividem os mesmos espaços com a população. Transmitida por dejetos fecais ingeridos oralmente, o Cólera já afetou cerca de 500 mil pessoas, matando aproximadamente 6.500 segundo dados oficiais da ONU.
Há uma possibilidade de que boa parte dos locais já tenha adquirido resistência à bactéria, mas nada foi comprovado por estudos. A adaptação do ser humano a situações extremas é um traço vívido nos haitianos.
Alimento e lixo
Uma das únicas maneiras encontradas para reduzir as bactérias presentes na água é fervê-la antes de cozinhar os alimentos. A terra é pobre em nutrientes devido à seca e apenas alimentos rústicos como cana de açucar, batata e cenoura são cultivados. Supermercado é raridade e os poucos existentes se concentram na parte alta da cidade, próximos as mansões. Pequenas feiras ao ar livre tomam conta das calçadas e são responsáveis pela maior parte do comércio de comida.
Em um passeio no mais famoso mercado de Porto Príncipe, conhecido pelo sugestivo apelido de Cozinha do Diabo, encontramos porções de frango vendidas a 50 gourdes (moeda local), cerca de R$ 2,25, e peixes pela metade deste valor. O esgoto passa ao lado de uma barraca de frutas. Em rápida troca com um cabo do exército brasileiro inquiro a razão do nome assustador do lugar. Com caretas ele me responde que até gatos são mortos e vendidos ali.
Cruzo o Cozinha do Diabo, atravesso uma barraca repleta de sacos de carvão e me deparo com um matadouro nos fundos. Ali, cabras e porcos são abatidos com facas sem esterilização e comercializados por 50 dólares.
No avião, de volta ao Brasil, penso sobre a situação do Brasil e a comparo ao que vi no Haiti. Apesar da vida dura, poucos brasileiros morrem de fome. Temos razoáveis redes de apoio, que vão de restaurantes a igrejas, de ONGs a programas oficiais, que apóiam moradores de rua e pessoas carentes. Lá, eles não têm a quem recorrer, onde se agarrar. Antes do terremoto, o Haiti já estava entre os países mais pobres do mundo.
Sem qualquer infraestrutura, o país depende exclusivamente de ajuda externa para melhorar e superar sobre as suas bases já precárias o drama do terremoto. A dúvida é se neste país miserável, à míngua, a ajuda externa permanecerá após o encerramento da MINUSTAH (Missão de Paz da ONU), previsto para o início de 2013.
((oeco))
0 Comentários
Olá, agradecemos sua visita. Abraço.