Belas cerâmicas escondem perigo de contaminação

No verão passado, quando o Dr. Gerald F. O’Malley começou a trabalhar no setor de emergência do Jefferson Medical College, na cidade de Filadélfia, ele caminhou pelo bairro de Chinatown, ali perto, e notou a grande variedade de cerâmica adornada à venda.

Num trabalho anterior que desempenhou no Colorado, ele soube que as coloridas cerâmicas mexicanas eram uma fonte significativa de contaminação por chumbo. Ele se perguntou se o mesmo era verdade para as porcelanas vendidas em Chinatown.

Como ele e um grupo de pesquisadores descobriram, a resposta é sim. Embora as origens das cerâmicas não sejam conhecidas, nem a extensão de sua distribuição, a contaminação encontrada por O’Malley e sua equipe em utensílios de cozinha e mesa pareceu ser grave o suficiente para causar problemas de saúde.

“Demonstramos que existe um problema na Chinatown da Filadélfia”, disse O’Mailley. “Mostramos isso de forma conclusiva. Se isso ocorre na Filadélfia, está acontecendo em outras Chinatowns de outras cidades”.

Para realizar a pesquisa, O’Mailley, de 48 anos, convocou quatro estudantes de medicina e um colega, o Dr. Thomas J. Gilmore, residente do segundo ano da Jefferson, para comprar amostras de cerâmica e testá-las. Eles acabaram obtendo uma coleção vendida em 32 locais, com 87 peças compradas em Chinatown e 49, em bairros vizinhos.

Usando um dispositivo de varredura normalmente usado para pinturas, os pesquisadores examinaram cada peça, em busca de conteúdo de chumbo. Mais de um quarto das amostras teve resultado positivo.

A equipe de O’Mailley realizou testes laboratoriais adicionais em 25 das peças para confirmar as descobertas, estabelecer o grau de contaminação e determinar se o chumbo pode sofrer lixiviação – isto é, se pode ser ingerido com os alimentos. Descobriu-se que três pratos e duas colheres sofriam lixiviação de chumbo em quantidades que excediam, e muito, os limites estabelecidos pela Food and Drug Administration (FDA). Um dos pratos tinha chumbo lixiviado em mais de 145 partes por milhão. O limite da agência americana é de 2 partes por milhão.

O’Mailley e seu grupo enviaram os dados para a FDA e Michael E. Kashtock, do departamento de segurança ao consumidor da agência, confirmou ter recebido a informação.

“Nós coletamos nossas próprias amostras e fazemos nossos próprios testes”, disse Kashtock. “Devemos ter completa confiança de que os resultados de testes que temos são totalmente sustentáveis, se surgir qualquer tipo de processo administrativo. Estamos no processo de acompanhamento”.

Gilmore afirmou que a agência “estava muito aberta e prestativa, e espero que eles façam a coisa certa”. Ele enfatizou que a culpa não é das lojas.

“Os vendedores devem ter a garantia de que estão comprando de origens que estejam em conformidade”, disse ele. “As lojas estão ganhando má reputação aqui, mas queremos que sejam ajudadas, não prejudicadas, por isso. Espero que a FDA faça uma investigação formal e consiga rastrear esse problema até as origens”.

O’Mailley tem seus próprios planos para acompanhamento. Ele pedirá que os pacientes tragam seus próprios utensílios à clínica para testes. Se os resultados forem positivos para chumbo, ele testará os níveis de chumbo no sangue dos pacientes.

“Até onde eu sei”, afirmou, “não há estudos que tenham observado se existe uma correlação entre os utensílios de cozinha e mesa e níveis elevados de chumbo no sangue”.

A Academia Americana de Pediatria geralmente recomenda que crianças sejam testadas duas vezes para o chumbo, antes dos 2 anos de idade, com algumas variações dependendo das condições locais. O’Mailley disse estar preocupado, pois trabalha com uma população que não passa por exame algum.

“Se temos crianças de 4 ou 5 anos ou uma mulher grávida comendo com esses utensílios, elas estão ingerindo chumbo”, disse. “Ninguém está observando esses pacientes”.

(Fonte: Portal iG)

Postar um comentário

0 Comentários