Vinte e cinco anos depois que o desastre nuclear de Chernobyl, na União Soviética, lançou uma nuvem de radiação sobre a Europa, os javalis da Alemanha ainda são radioativos o bastante para que as pessoas sejam aconselhadas a não comê-los. Os cogumelos de que os animais se alimentam também são inadequados para consumo.
Os javalis habitam uma floresta a cerca de 1.500 km de Chernobyl. Ainda assim, a quantidade de césio 137 em seus tecidos frequentemente se mostra dezenas de vezes superior ao limite recomendado para consumo, e milhares de vezes acima do normal.
“Ainda sentimos as consequências de Chernobyl aqui”, disse Christian Kueppers, especialista em radiação do Instituto de Ecologia Aplicada de Friburgo. “Essa contaminação não vai sumir no curto prazo. Com a meia-vida do césio sendo de aproximadamente 30 anos, ela só vai diminuir um pouco nos próximos anos”.
Meia-vida é o tempo necessário para que metade dos átomos de uma amostra de material radioativo se transforme em átomos outro elemento químico. No caso de uma meia-vida de 30 anos, isso significa que, mesmo três décadas após a contaminação original, ainda restará no ambiente 50% do césio 137. Após 60 anos, ainda haverá 25%, e assim por diante.
O césio pode se acumular no corpo, e acredita-se que níveis elevados sejam um fator de risco para vários tipos de câncer. A despeito disso, pesquisadores que estudaram Chernobyl não encontraram um aumento no número de casos de câncer que pudesse ser ligado ao césio.
O césio também se acumula no solo, o que faz com que os javalis sejam especialmente suscetíveis. Eles vasculham o solo da floresta com seus focinhos, e se alimentam dos cogumelos que tendem a estocar radiação, disse um porta-voz do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, Thomas Hagbeck.
O problema tornou-se tão comum que todos os javalis silvestres mortos por caçadores, nas regiões afetadas, têm de passar por uma triagem para radiação. A compensação paga pelo governo para os caçadores cujas presas têm de ser destruídas chega a US$ 650.000 nos últimos 12 meses, disse Hagbeck.
“É muito triste quando se tem de jogar fora carne que normalmente é tão gostosa”, disse Joachim Reddermann, diretor administrativo da associação de caça do estado da Baviera.
Milhares de javalis silvestres mortos no sul da Alemanha, a cada ano, registram níveis inaceitáveis de radiação. Esse nível é calculado em becquereis, uma medida da radiação emitida. Qualquer coisa acima de 600 becquereis por quilo não é recomendável, diz o Escritório Federal de Proteção contra Radiação da Alemanha.
A carne normal tem uma contaminação média de 0,5 becquerel por quilo, e um alemão normalmente consome 100 becquereis ao ano em sua alimentação, de acordo com a agência.
Cerca de 2% dos 50.000 javalis caçados estão acima do nível legal de radiação, disse Reddemann.
(Fonte: Portal iG)
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