Célula do dente volta a fase “embrionária”

A partir de agora, pais e dentistas terão concorrência pelos dentes de leite das crianças. Cientistas brasileiros conseguiram usar a polpa desses dentes para criar células-tronco que podem dar origem a qualquer outra do corpo humano.

O grupo fez células-tronco adultas do dente regredirem até um estágio pluripotente induzido (ou iPS, em inglês), que tem propriedades semelhantes às das versáteis células-tronco embrionárias.

Grosso modo, é como se eles pegassem uma célula de árvore e a fizessem voltar ao estado que tinha na semente – capaz de originar qualquer parte da planta.

Como um dos principais objetivos do trabalho é tratar crianças com autismo, o fato de o método ser não invasivo é uma grande vantagem. Colher sangue ou fazer uma biópsia pode ser um processo muito traumático para os pequenos, além de trabalhoso para os médicos.

Muitos pesquisadores estudam iPS de células da pele. Como elas são mais expostas à luz, a contaminantes e outros causadores de mutações, sempre há riscos de que as células derivadas possam acabar comprometidas.

Com os dentes de leite, que ficam “escondidos” na boca, esse risco é menor.

Além disso, essas células dentárias chegam a um estágio pluripotente pelo menos na metade do tempo que a maioria das outras.

Isso faz com que os cientistas possam acelerar o trabalho e também reduzir o custo, uma vez que o meio de cultura é caro. Cerca de R$ 1.500 por 500 ml.

Para a líder do trabalho publicado na revista “Cell Transplantation”, Patrícia Beltrão Braga, da USP, o tempo menor tem a ver com as próprias características das células da polpa do dente.

“Essas células têm em sua superfície algumas proteínas que também estão nas células embrionárias. Isso nos fez levantar a hipótese de que a reprogramação poderia ser mais rápida e eficiente.”

Memória – Há indícios de que as células iPS, apesar de se tornarem versáteis, ainda guardam alguma “memória” de seu tecido original.

Isso pode se revelar inesperadamente útil no caso das células dentárias, porque elas têm semelhanças com as do sistema nervoso.

“Ainda é muito cedo para dizer se isso acontece mesmo. Mas já há indícios de células neurais, exatamente as que queremos”, conta ela.

Stevens Rehen, da UFRJ, que não participou do trabalho, acha que a redução do tempo pode dar mais competitividade ao grupo. “Também indica que, felizmente, vivemos um excelente momento para as pesquisas com iPS no Brasil.”

Ainda não há previsão de quando terapias com iPS poderão chegar ao público.

(Fonte: Giuliana Miranda/ Folha.com)

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