Expedição busca a real cor do mar

Expedição busca a real cor do mar. Mudança da coloração do Atlântico é indicador de variações do clima.

Responda depressa: qual é a cor do Oceano Atlântico? O que parece uma pergunta simples (afinal, quase todos diriam azul) é um enigma investigado há 30 anos. Na semana passada, cientistas de quatro países - entre eles o Brasil - lançaram-se em um cruzeiro para dar fim à polêmica. Que, diga-se, envolve muito mais do que definir a tonalidade das águas.

A coloração do mar revela o estado do ecossistema, os riscos de acidificação e até a sua fragilidade às mudanças climáticas. O cruzeiro científico, organizado pelo Instituto Scripps de Oceanografia (EUA), contará com pesquisadores da instituição e representantes de centros de ensino de França, Argentina e Brasil. O navio deixou o Chile, foi à África do Sul e, daqui a duas semanas, volta ao país de partida.

Os cientistas querem saber qual é a concentração de CO² no mar - e por que eles ainda não conseguem reproduzir, em laboratório, os dados captados por satélites. O oceano absorve radiação solar e CO², amenizando o aumento da temperatura. A absorção é feita por algas marinhas microscópicas, ao realizar fotossíntese. Este processo deixa o mar mais esverdeado.

Carbono aumenta risco de acidificação do mar

A luz solar é fundamental para manter o ecossistema marinho. As algas estabelecem um fluxo de energia entre oceano e atmosfera. A intensidade da troca pode ser medida por satélites - e, assim, monitora-se a cor do mar.

- A medida da cor do oceano é feita por satélites de observação da Terra há pelo menos 30 anos, destaca o oceanógrafo Milton Kampel, representante do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no cruzeiro. Os resultados obtidos revolucionaram estudos, influenciando inclusive atividades pesqueiras e o gerenciamento costeiro. É uma atividade global, e a única disponível para acompanharmos o ecossistema do mar, caso consideremos grandes escalas de espaço e tempo.

As imagens de satélite têm indicado a presença de grandes quantidades de aerossóis (partículas suspensas) de carbono sobre o mar. A influência desses pequenos corpos de carbono sobre o clima ainda é pouco conhecida - embora certamente seja grande.

- Os aerossóis e as nuvens têm efeito sobre a formação e o brilho das nuvens. Assim, eles aumentariam a energia solar refletida, explica Kampel. O "escudo" formado pelas nuvens impediria que mais raios solares chegassem à superfície. Por um lado, é bom: afinal, o planeta ficaria menos sujeito à elevação da temperatura. Por outro, pode ser perigoso. Menos luz chegaria ao oceano, pondo em risco a sobrevivência de algas - base da cadeia alimentar marinha. A água perderia parte de seu tom esverdeado, diante da falta de nutrientes.

Um céu com poucas nuvens tampouco está livre de problemas. Como o aquecimento global segue acelerado, aumenta a quantidade de CO² pairando sobre (e dentro) do mar. E, assim, os oceanos poderiam sofrer um processo de acidificação. A concentração de carbono já é particularmente notável no Atlântico Sul, onde o cruzeiro científico cumpre sua jornada.

- Estimativas obtidas por satélites indicaram quantidades relativamente altas de aerossóis sobre o mar, revela Kampel. Mas este oceano é marcado por fortes ventos, de mais de 36 km/h, provocando a arrebentação de ondas e a formação de espumas e bolhas, que afetam os resultados do sensoriamento. Com a vigilância por satélite prejudicada, os cientistas têm errado outra estimativa: aquela que determinaria qual é a concentração de carbono sobre o mar. Por isso, não poderiam reproduzir a cor do oceano.

(O Globo)

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