Dezesseis horas, horário de Brasília. Ligo para Rafael Mambretti, 29 anos, que atende prontamente. Chove forte na capital paulista durante a tarde de 16 de fevereiro, e Rafael está no escritório, em pleno Hub, sede da Carbono Zero Courier. Durante a entrevista, o telefone toca duas vezes, ele pede licença e atende.
Danilo e Rafael Mambretti com a equipe da Carbono Zero Courier / Fotos: Divulgação
Na primeira, é uma cliente sensibilizada pelo mau tempo que pede para as entregas serem feitas no dia seguinte. Em seguida, o entregador pede orientações do que fazer debaixo de tanta chuva. Rafael diz para esperar o forte temporal diminuir e seguir o serviço. “É... sempre trabalhamos nestas situações, mas é fundamental pensar em preservar o biker e a qualidade do serviço”, diz.
O fato ocorrido nos 30 minutos de conversa pode transparecer o desejo dos irmãos Danilo, 33 anos, e Rafael Mambretti em criar um negócio onde podem contribuir, de forma efetiva, com o planeta e com a mudança de atitude no trânsito. A empresa Carbono Zero Courier foi fundada em novembro de 2010 com apenas três bikers. Hoje são oito funcionários que circulam pelas ruas de São Paulo.
Biker é o nome usado por Rafael para se referir aos entregadores, me corrigindo quando falei o termo “bikeboys”. Para ele, bikeboy está associado aos motoboys que hoje estão marginalizados pela sociedade, por causa dos fatos de violência e agressividade que tanto são vistos no trânsito.
“As atitudes que vemos nas ruas pelos motoboys não é culpa só deles, mas do sistema que ele foi inserido. Eles ganham por número de entregas, o que incentiva a velocidade, mas passando por cima de tudo, sem cuidados e respeito à vida.”, explica Rafael.
A solução que os irmãos encontraram para mudar este cenário foi fazer um trabalho de preparação dos entregadores, com instruções básicas e educação de cidadania. “A gente precisa respeitar a nossa vida, a dos outros, a de um cachorro e tudo o que estiver no caminho”, destaca Rafael. Também mudaram o sistema de pagamento dos bikers que, em vez de receber por número de entregas, o salário é fixo. “É um risco que corremos para garantir princípios de gestão que acreditamos”, defende.
Princípios estes que incentivaram a criação da empresa. Para Danilo e Rafael, é fundamental todos pensaram no meio ambiente. Reconhecem que não criaram nenhum serviço novo, mas sim estão usando uma ferramenta menos poluente para o planeta que executa o mesmo serviço. “São Paulo está saturada de motoboys. Por isso a cada entrega feita por um biker, estamos tirando uma moto das ruas. Isso é bom para a mobilidade da cidade, para diminuir a poluição e estamos valorizando a saúde”, diz.
Cada biker percorre em média 60 km por dia, distância, segundo Rafael, ideal para garantir os serviços e a saúde do funcionário para os dias seguintes. “A cidade de São Paulo é muito grande, mas as principais zonas são concentradas a um raio de 15 km. Nós não trabalhamos para fora da capital, optando em garantir nossos serviços dentro do maior fluxo de carros e motos, que é pelo centro e zonas comerciais.”
Rafael conta que todos os funcionários são amantes das bikes e que encontraram neste trabalho a oportunidade de se iniciar profissionalmente. “Nosso interesse é fornecer educação e formar cidadãos. É um modelo de gestão que presa pelo social e ambiental, ao gerar alternativas para empresas que buscam por esse tipo de serviço”.
Empresas como Fnac, Viva Condomínios, Talent Pro It, Milk Comunicação já aderiram às entregas feitas de bicicleta. O Instituto EcoD também já o adotou. Esse modelo de serviço começou nos Estados Unidos e Inglaterra e chegou ao Brasil em meados dos anos 90, em São Paulo. Hoje o serviço está no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, entre outras capitais do país.
(Ecod)
0 Comentários
Olá, agradecemos sua visita. Abraço.