Durante 20 anos, engenheiro vem colecionando centenas de espécies dessa planta. Agora ele quer transformar essa longa paixão num jardim botânico
Vinte anos atrás, o engenheiro Gileno Machado plantou coqueiros, de 16 variedades, no jardim de sua casa de praia em Barra de Sirinhaém, Litoral Sul de Pernambuco, a 75 quilômetros do Recife. Começava ali o interesse dele por palmeiras.
Nessas duas décadas, comprou terrenos vizinhos, ingressou em redes virtuais de colecionadores, participou de expedições em busca de novas espécies, passou a dedicar dois dias da semana aos cuidados com as plantas e se tornou um leitor compulsivo de títulos sobre o tema.
Hoje, 3.500 plantas depois, Gileno quer transformar sua coleção, distribuída em vasos, num jardim botânico. Assim, as árvores poderão fincar raízes no solo, garantia de que serão preservadas.
As palmeiras da coleção compreendem mais de 600 espécies, cerca de 200 nativas do Brasil. Ele guarda raridades como a tucum-mirim. Também chamada de coquinho, tem folhas aveludadas, não chega a três metros de altura e praticamente desapareceu da Mata Atlântica de Pernambuco, onde viveu nos anos 20 e 30 o beneditino alemão Dom Bento Pickel (1890-1963), botânico e professor de agronomia homenageado no nome científico da planta: Bactris pickelli.
"É um dos 'tesouros botânicos' mais ameaçados das nossas matas. Por isso, pretendemos multiplicar em cultivo para futura reintrodução no hábitat", informa o colecionador. Gileno estima que existam menos de 10 indivíduos dessa espécie sendo cultivadas em coleções de todo o mundo. "E, que eu saiba, nenhum ainda frutificando."
A coleção ocupa um terreno de aproximadamente 1.000 metros quadrados. Um jardim botânico de palmeiras teria que ter, no mínimo, 10 hectares, ou seja, uma área 100 vezes maior. "O ideal é que seja mais afastada do mar e que tenha árvores para fornecer sombra às espécies de palmeiras que não se desenvolvem sob radiação solar direta", adianta Gileno. O que falta para o sonho se concretizar, revela, é a parceria com uma instituição.
Para o estudioso de palmeiras Judas Tadeu de Medeiros Costa, um jardim botânico dedicado exclusivamente a essas plantas, como existe no interior de Minas Gerais e em países como EUA (na Flórida) e Espanha (Ilhas Canárias), é importante para a conservação do patrimônio genético dessa família botânica. "Além de banco de germoplasma, funciona como um museu vivo." Na opinião de Gileno, a criação de um palmetum (jardim botânico de palmeiras) se presta ainda ao turismo e ao paisagismo.
Dos mais de 350 tipos de palmeiras nativas do Brasil, seis estão na lista de plantas em risco de extinção, mas os palmófilos garantem que o número é superior. Uma das principais ameaças é a expansão da fronteira agrícola no Cerrado, rico em espécies dessa família. É o caso da Attalea barreirensis ou coco-de-caroço-só. Restrita ao Piauí e Bahia, tem sucumbido ao desmatamento para plantio de soja.
O fato de serem comestíveis também tem contribuído para condenar palmeiras ao desaparecimento. "Praticamente o palmito, que fica no interior do caule, de todas as palmeiras é comestível, assim como os coquinhos", informa Tadeu.
Em um país de megabiodiversidade, diz o colecionador, e que ainda investe pouco em conhecimento científico sobre seu acervo botânico, é fácil constatar que a lista de palmeiras ameaçadas pode ser muito maior. "Existem várias espécies ainda a serem descobertas e descritas, com muita pesquisa nesse campo ainda por ser feita, inclusive na área de fármacos", considera Gileno.
(Verônica Falcão - Jornal do Commercio)
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