Solução tropical

Lagarto e esquilo lidam de modo diferente com as variações de oxigênio da hibernação. Estranho no ninho: teiú sobrevive ao retorno da hibernação sem produzir antioxidantes

Os invernos brasileiros são re­lativamente amenos, mas isso não impede que um dos lagartos mais comuns do país, o teiú, hiberne de quatro a cin­co meses por ano, normalmente a partir do fim do outono. Estudada em laboratório, a hibernação do réptil tropical está dando aos pesquisadores novas pistas sobre como muitos animais lidam com a volta à vida normal após longos períodos, em geral associados ao frio ou ao calor intensos, em que o organismo mantém o nível de funcionamento mais baixo possível. No retorno desse estado de animação suspensa – chamado hibernação quando ocorre durante o frio e estivação no calor –, o organismo enfrenta um intenso estresse oxidativo, provocado pela produção de grande quantidade de moléculas altamente reativas de oxigênio (os radicais livres) que danificam as células.

Alexis Fonseca Welker, biólogo da Universidade Federal de Goiás (UFG) em Catalão, mostrou em seu trabalho de doutorado que o teiú (Tupinambis merianae) é uma espécie de estranho no ninho entre os animais que congelam seu metabolismo. Comum no Brasil e no norte da Argentina, esse lagarto de até 1,4 metro de comprimento e quase 5 quilos parece não se preparar para o retorno à vida normal produzindo substâncias antioxidantes, que ajudam a evitar os piores efeitos dos radicais livres sobre o organismo. Em outro estudo, o biólogo Marcelo Hermes-Lima, da Universidade de Brasília (UnB), orientador do doutorado de Welker, analisou o que acontece com um animal bem mais próximo do estereótipo das criaturas que hibernam: o esquilo-do-ártico (Spermophilus parryii), roedor de orelhas pequenas e pelagem marrom salpicada de pontos brancos, encontrado no Canadá e no Alasca. Com pouco menos de 1 quilo e 40 centímetros de comprimento, esses esquilos combatem com eficiência os danos oxidativos em seus tecidos ao sair da hibernação – a exceção é o tecido adiposo marrom, principal responsável pela produção da energia que ajuda os membros da espécie a despertar.

Hermes-Lima, que se define como um caçador de estresse, já estudou os efeitos bioquímicos do estresse oxidativo em quase todo tipo de alteração metabólica por que passam os animais: hibernação, estivação, variações elevadas de salinidade, redução parcial e total do nível de oxigênio (hipóxia e anóxia, respectivamente) e diapausa, parada prolongada no desenvolvimento de certos insetos. O aparecimento de radicais livres é uma consequência inevitável do fato de os seres vivos utilizarem o oxigênio como base de seu metabolismo para a produção de energia. Com o tempo, surgem as chamadas espécies reativas de oxigênio – uma das mais comuns é o peróxido de hidrogênio, a água oxigenada –, que alteram quimicamente moléculas importantes para o organismo, como o DNA, as proteínas e os lipídios.

Matéria completa:  http://www.revistapesquisa.fapesp.br/index.php?art=3927&bd=1&pg=1&lg 

(Reinaldo José Lopes - Fasesp)

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