O desmatado Cerrado é o maior responsável pelo abastecimento do país
Considerado por muitos, erroneamente, como um ambiente seco e sem vida, o Cerrado está longe de ser um estranho na celebração do Dia Mundial da Água.
Um dos maiores ecossistemas do país e também um dos mais agredidos - já teve 48,2% de sua vegetação original destruída - ele possui as nascentes de rios que percorrem estados das cinco regiões e abastecem as três maiores bacias do Brasil. Segundo especialistas, sua preservação é fundamental para garantir água para a vida nas cidades, a prosperidade da agricultura e o funcionamento das hidrelétricas.
- O Cerrado possui uma importância enorme para o abastecimento de água no país - garante Rubens Coelho, professor de Engenharia de Irrigação da USP. - Basta lembrarmos que o Rio São Francisco fica dentro dos seus limites.
De acordo com a ONG SOS Cerrado, 78% da água que abastece a Bacia Amazônica vem de rios que nascem no Cerrado e 50% das águas da bacia do São Francisco têm origem nas suas nascentes. Trata-se, portanto, da maior fonte geradora de água doce no país que tem a maior riqueza hídrica do planeta.
Tamanho tesouro, porém, não tem sido bem tratado: o Cerrado tem apenas 2,8% de seu território protegido de forma efetiva. O desmatamento corre acelerado, enquanto o governo só agora anuncia o lançamento de um plano para conter sua devastação.
- Trata-se de um ecossistema que, diferente da região amazônica, não possui muitas proteções naturais, favorecendo a ocupação desordenada. Isso tem causado, por exemplo, o assoreamento dos seus rios - afirma Leide Takahashi, gerente de projetos da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, que desde 2007 mantém uma unidade de conservação no local.
Especialista cobra política nacional
Quando o assunto é água, o Brasil poderia estar deitado em leito esplêndido. O país, onde vive apenas 3% da população mundial, detém cerca de 13% da água do planeta - 74% desse percentual, porém, está na pouco povoada região amazônica.
- Temos uma quantidade invejável de água, mas não em cada ponto do Brasil que dela precisa - conta Paulo Canedo, coordenador do laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ. - Na região amazônica, temos mais água do que precisamos. Já no semiárido, temos menos água do que é necessário. Além disso, tratamos muito mal essa nossa riqueza natural.
Uma das maiores causas de mortandade no país é a diarreia, que é o resultado da contaminação da água. O tratamento de esgoto no país é um caso de saúde pública.
De acordo com um relatório das Nações Unidas, divulgado esta semana, uma entre cada seis pessoas no planeta não tem acesso à água potável. Até 2025, a estimativa da ONU é que dois terços da população vão sofrer com a escassez de água.
- Poderíamos estar numa situação muito melhor se tivéssemos uma administração eficiente das nossas águas - afirma Canedo. - Falta uma política nacional desse recurso. Sem isso, seguiremos desperdiçando o que a natureza nos deu
(Carlos Albuquerque)
(O Globo)
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