Nas Ășltimas semanas tem corrido livre pela internet emails, com o assunto AJUDEM A DIVULGAR ESTE ABSURDO, contendo fotos de pessoas coletando ovos de tartarugas marinhas e os carregando em grandes sacos. O e-mail termina solicitando “FAVOR DIFUNDIR. ROUBAM OS OVOS DAS TARTARUGAS PARA VENDER AOS GOURMETS SOFISTICADOS. REPASSEM, O PLANETA AGRADECE”.
Por orientação do Projeto Tamar – ICMBio / Fundação PrĂł-Tamar, Ă© importante esclarecer os fatos e estabelecer a verdade, pois o que sugerem o texto e as imagens nĂŁo Ă© exatamente o que parece. Ă mais uma “pegadinha” da Internet.
A VERDADE
A Costa Rica tem enorme tradição de conservação das tartarugas marinhas. O pesquisador americano Archier Car, pioneiro na conservação de tartarugas marinhas, hĂĄ 50 anos jĂĄ trabalhava para preservar a espĂ©cie Lepidochelys olivacea (tartaruga oliva) em Tortugueiro, Costa Rica, hoje um dos maiores sĂtios de desovas dessa espĂ©cie no mundo.
E uma das caracterĂsticas mais impressionante dessa espĂ©cie Ă© que ela produz as Arribadas, um fenĂŽmeno que ocorre exclusivamente na Costa Rica. As tartarugas saem juntas da ĂĄgua em direção Ă praia para desovar, aos milhares, por varias noites seguidas. SĂŁo mil na primeira noite, cinco mil na segunda noite e assim por diante. Em cinco noites, cerca de 100 mil tartarugas desovam em pequenas praias, com cerca de 300 metros, em um verdadeiro engarrafamento na areia. Os ninhos das primeiras fĂȘmeas sĂŁo revirados pelas outras, expondo-os ao tempo e aos predadores (aves, onças, crocodilos e gambĂĄs), o que muitas vezes inviabiliza o sucesso reprodutivo.
Na Praia de Ostional, na Costa Rica, onde esse fenĂŽmeno tambĂ©m acontece, e que estĂĄ retratado nas imagens, os moradores locais, baseados em dados biolĂłgicos, sĂŁo autorizados a fazer o aproveitamento dos ovos que sĂŁo depositados nos dois primeiros dias da arribada e que seriam destruĂdos pelas fĂȘmeas que desovam nas noites seguintes. Ou seja, os moradores locais coletam os ovos depositados somente nas duas primeiras noites e deixam os ovos desovados nas trĂȘs noites seguintes.
Como tudo na vida hĂĄ prĂłs e contras, crĂticas e elogios. PorĂ©m, os conservacionistas da Costa Rica acompanham, atravĂ©s das analises cientificas, o desenrolar dessa experiĂȘncia que hĂĄ dezenas de anos mobiliza milhares de pessoas e tartarugas. Como estratĂ©gia de conservação, busca-se fazer um manejo sustentado equilibrando os interesses. Assim nĂŁo se perdem milhares de ovos, a comunidade local tem uma fonte de renda e as tartarugas fĂȘmeas nĂŁo sĂŁo capturadas e continuam se reproduzindo.
30 Anos de Projeto Tamar – Um Fato Curioso
No Brasil não hå arribadas e as tartarugas oliva concentram suas desovas no Estado de Sergipe e no litoral norte do Estado da Bahia, apresentando a maior recuperação populacional entre as cinco espécies que ocorrem no Brasil.
Esse ano o Projeto Tamar comemora 30 anos de excelentes serviços prestados na proteção e monitoramento das tartarugas marinhas. Como elas podem levar até 30 anos para se tornarem adultas e aptas a se reproduzirem, estamos recebendo nas praias brasileiras a primeira geração de tartarugas protegidas pelo Projeto Tamar. Começaram protegendo cerca de duzentos ninhos da tartaruga oliva e hoje jå são mais de seis mil ninhos por ano.
Por Marcelo Szpilman*
Instituto EcolĂłgico Aqualung

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