RIO - O uso de óculos 3D, um acessório que está se tornando indispensável em salas de cinema, aumenta em até dez vezes o cansaço visual; muito mais do que passar algum tempo em frente à tela do computador. É o que afirma o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, em Campinas, e autor de três estudos sobre os efeitos do computador na visão. O desconforto ocorre porque a tecnologia 3D prejudica a acomodação visual (responsável pela focalização das imagens) e a convergência (os movimentos oculares que permitem a percepção de profundidade). Há casos de pessoas que após dez minutos assistindo a um filme em 3D já se queixam de desconforto visual e dor de cabeça; sintomas que só aparecem depois de duas horas na frente do computador.
A visualização 3D nas telas é formada por duas imagens deslocadas horizontalmente que são captadas separadamente por cada olho, através das lentes polarizadas dos óculos especiais. Como todas as imagens estão no mesmo plano, para conseguir a visão de profundidade nossos olhos são submetidos a um maior esforço acomodativo e de convergência que exigem um trabalho extra do cérebro. Isto produz o que o médico chama de fobia 3D, que atinge inclusive pessoas com boa visão, devido à dificuldade de focar com nitidez as imagens de fundo e as mais próximas que saltam das telas. O resultado são sintomas de dor de cabeça, náusea, olho seco, irritação ocular e cansaço visual.
Para evitar esses problemas, o oftalmologista diz que a pessoa deve concentrar o foco no ponto principal da imagem e, se possível, fazer pausas de cinco minutos a cada meia hora de exposição. Outra dica é evitar as poltronas próximas à tela. E ainda se posicionar no nível da tela de TV ou videogame, mantendo uma distância três vezes maior que a altura da tela.
- O desconforto é temporário para a maioria das pessoas, mas é maior para metade da população brasileira, que usa óculos de grau. Isso porque os óculos 3D são colocados sobre as lentes corretivas e podem alterar a distância e prejudicar o foco. As lentes de contato são mais indicadas com esse tipo de acessório, mas nem todas estão adaptadas à nova tecnologia - explica Queiroz Neto.
Se o desconforto com esse tipo de óculos for prolongado, é melhor consultar um oftalmologista para afastar a hipótese de glaucoma em estágio inicial ou ao estrabismo latente, também conhecido como foria, que provoca o desvio dos olhos em situações de grande esforço visual. Entre adultos, a catarata e as alterações na retina são as principais doenças que impossibilitam a visualização das telas 3D.
Também crianças com problemas visuais, como estrabismo, têm dificuldade para ver bem com óculos 3D. O problema - que atinge de 5% a 10% da população e pode ser diagnosticado nos primeiros meses de vida - impossibilita a fusão das imagens captadas por cada olho na retina e isso faz o cérebro anular uma delas, explica Queiroz Neto:
- Em muitas crianças o desvio dos olhos não é constante e isso faz com que os pais deixem de levá-las ao oftalmologista por acreditarem que o problema está desaparecendo. É um erro porque o estrabismo não regride sem tratamento e depois dos 5 anos é um mal para o resto da vida, dificultando várias atividades.
Os pais devem ficar atentos para perceber se criança se aproxima muito os objetos do rosto, espreme ou coça os olhos com frequência. As principais causas do estrabismo são excesso de força ou fraqueza dos músculos que sustentam os olhos, a miopia e a hipermetropia. A recomendação é que a doença seja tratada antes dos 5 anos com o uso de óculos, exercícios visuais, colírio ou cirurgia. Caso contrário, não só a criança terá dificuldades para usar tecnologia 3D como corre risco de apresentar diferença grande de refração entre os olhos e ambliopia ou olho preguiçoso, a maior causa de cegueira monocular entre crianças.
Fonte: Portal do Jornal O Globo
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