Nova espécie de serpente é descoberta no Brasil

Ela é venenosa, mas não ataca o homem. Mede cerca de 30 centímetros, se alimenta de centopeias e vive sob a vegetação rasteira em trechos de restinga ainda preservados em torno da Lagoa de Araruama, na Região dos Lagos. Trata-se de uma nova espécie de serpente que ainda não tem nem nome científico escolhido. Sua descoberta é mais uma prova da riqueza da biodiversidade da fauna brasileira – e fluminense. E mostra que a preservação da natureza e de ecossistemas como o das restingas litorâneas do Estado do Rio de Janeiro é fundamental: a serpente, do gênero Tantilla, já surge para ciência como uma espécie ameaçada.

"Ela foi encontrada em três áreas remanescentes de restinga, que sofrem uma pressão muito grande da urbanização. Por isso, é provável que esta espécie esteja ameaçada de extinção", diz o zoológo Adriano Lima Silveira, do Museu Nacional. "A preservação deste ecossistema é importante não só por isso. A descoberta de uma nova espécie indica que a área pode ter outras espécies desconhecidas.

A descoberta é fruto do encontro de estudos do zoólogo, sobre o gênero de cobras denominado Tantilla, com o trabalho de campo feito por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense, que coletaram serpentes em armadilhas montadas numa reserva em Iguaba Grande. A coleta das serpentes foi feita durante pesquisa para monografia da estudante Angele Martins, de 21 anos, da UFF. O objetivo era fazer um levantamento da fauna do Núcleo Experimental de Iguaba Grande, uma área utilizada para estudos do meio ambiente.

A estudante da UFF faz estágio no Museu Nacional e lida com coleções de répteis conservados na instituição, que ainda não foram catalogados nem identificados cientificamente. Ela reparou que as serpentes encontradas em seu trabalho de campo eram muito semelhantes a amostras de cobras preservadas na coleção do museu. Então, levou para lá seis serpentes coletadas na natureza.

"A Angele trouxe mais espécimes e então pudemos estudar melhor sua morfologia. Para identificarmos uma nova espécie, é preciso ter um certo número de indivíduos", comenta o zoológo Adriano.

Angele fez o trabalho de campo entre julho de 2008 e agosto de 2009. Além das armadilhas montadas na natureza, ela fez o que se chama de “busca ativa”, com incursões noturnas e diurnas pelo ecossistema.

"É muito gratificante chegar a um resultado como esse. Afinal, é um trabalho árduo, temos que andar pela natureza, atrás dos bichos, além de pesquisar em livros. É bom colher o fruto deste esforço", diz a estudante.

Angele teve como orientador e parceiro o biólogo e professor da UFF Sávio Freire Bruno. Agora, os dois vão se juntar ao zoológo do Museu Nacional para produzir um artigo científico e publicá-lo numa revista especializada. Neste artigo, vão descrever as características e nomear a nova espécie, que ocorre também em Arraial do Cabo e São Pedro da Aldeia. A partir desta publicação, a espécie nasce oficialmente para a ciência.

"Se considerarmos que estamos em 2010, num mundo com crescente perda de biodiversidade, e encontramos uma espécie nova vivendo na natureza, isto tem uma importância muito grande", diz Sávio. "Além disso, a espécie tem importância por ser a revelação de uma nova expressão de vida."

(Fonte: JB Online)

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