Sob pressão, rato coopera como humano

Cientistas portugueses mostraram que ratos podem cooperar entre si. A descoberta ajuda a entender uma suposta contradição biológica, a evolução da cooperação e reciprocidade entre indivíduos que não são parentes. Essa capacidade é fundamental para a espécie humana, mas é difícil de conciliar com a seleção natural darwinista e sua ênfase na competição entre os seres vivos.
Há relatos de comportamento cooperativo em várias espécies animais, como macacos, pássaros e morcegos. Mas as evidências científicas disso são controversas, afirmam os pesquisadores de Portugal que assinam o estudo publicado na revista científica "PLoS One" (www.plosone.org).
Esse tipo de estudo de comportamento social é baseado na teoria dos jogos, que dá forma matemática às decisões de dois ou mais indivíduos interagindo. Para testar se os ratos cooperariam, montou-se um experimento baseado no famoso "dilema do prisioneiro". Nesse tipo de jogo, um indivíduo pode cooperar ou não com outro.
Tentação - Se os dois cooperam, recebem uma recompensa. Se não cooperam, recebem uma punição. Mas, se um coopera e o outro não, o que cooperou recebe punição ainda maior, e o que não cooperou recebe uma recompensa ainda mais severa. Ou seja, essa versão do jogo mescla tanto uma tentação quanto um custo, a punição."A razão pela qual escolhemos o rato prende-se ao fato de esse ser um modelo muito usado em neurociências, o que nos permitirá estudar os mecanismos neurais que estão subjacentes à tomada de decisão no contexto de um jogo como o dilema do prisioneiro", disse à Folha a pesquisadora Marta Moita, do Instituto Gulbenkian de Ciência, de Oeiras.
Eles colocaram os ratos em um labirinto duplo em forma de "T", com uma caixa de entrada e dois compartimentos anexos onde o rato pode escolher entrar, e outro labirinto igual acoplado. Os compartimentos têm furos e são transparentes, para que os ratos possam ver e cheirar uns aos outros.
Em seres humanos, se o jogo acontecer apenas uma vez, a tática mais válida é não cooperar. Mas, quando se joga repetidamente o dilema do prisioneiro, a estratégia para obter cooperação é a "toma lá dá cá" ou "olho por olho". A pessoa começa cooperando e depois copia a ação do oponente - se ele não coopera, recebe de troco uma traição; se cooperou, recebe de volta cooperação.
Os ratos foram primeiro familiarizados com o jogo, aprendendo a discriminar os resultados diferentes do seu comportamento. Como recompensa, recebiam grãos de comida, enquanto a punição era dada em beliscões com um fórceps na ponta da cauda. Um rato era o "demonstrador", enquanto o outro era o "alvo".O rato demonstrador era colocado em um compartimento definido como o de "cooperar". O rato alvo pode escolher entre esse compartimento e o outro, o de "não cooperar". A tentação para o rato alvo era não cooperar caso o demonstrador cooperasse, pois receberia mais comida.
Em uma primeira sessão, o rato demonstrador ficava sempre no compartimento de cooperação. Como resultado, não houve comportamento cooperativo por parte do rato alvo.Mas, na segunda sessão, o demonstrador era colocado em qualquer um dos compartimentos, de acordo com uma regra da estratégia "olho por olho". Dessa vez, os resultados mudaram: "níveis significativos de cooperação emergiram".
"Estou convencida de que outros animais terão comportamentos semelhantes ao rato - outras espécies irão compreender as regras do jogo. No entanto, penso que poderá haver algumas diferenças na propensão para cooperar que estão relacionadas com a vida social das diferentes espécies", afirma a pesquisadora. "É possível que espécies sociais tenham maior propensão para cooperar, como o rato de laboratório."
(Fonte: Folha Online)

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