
Em conjunto, especialistas do Pará e de São Paulo investigam toxinas de animais da Amazônia
Habitante da Amazônia: cascavel (Crotalus durissus)
Em dezembro, Hipócrates Chalkidis começou a ir com frequência à Floresta Nacional do Tapajós, próxima à cidade paraense de Santarém, às margens do Tapajós, um dos mais largos afluentes do Amazonas. Chalkidis e um grupo de estudantes de biologia das Faculdades Integradas do Tapajós (FIT) vão enterrar dezenas de baldes para coletar serpentes durante um ano e meio. Os escorpiões e aranhas que caírem nas armadilhas não servirão apenas para ampliar o conhecimento sobre a riqueza biológica da região. Denise Cândido, bióloga do Instituto Butantan, entregou em dezembro para Chalkidis um aparelho portátil de extração de venenos construído por estudantes de engenharia elétrica e professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Os venenos alimentarão pesquisas de novas toxinas, em uma das vertentes de um amplo programa de trabalho que há quatro anos tem aproximado especialistas do instituto paulista e os de centros científicos e médicos do Pará.
Habitante da Amazônia: cascavel (Crotalus durissus)
Em dezembro, Hipócrates Chalkidis começou a ir com frequência à Floresta Nacional do Tapajós, próxima à cidade paraense de Santarém, às margens do Tapajós, um dos mais largos afluentes do Amazonas. Chalkidis e um grupo de estudantes de biologia das Faculdades Integradas do Tapajós (FIT) vão enterrar dezenas de baldes para coletar serpentes durante um ano e meio. Os escorpiões e aranhas que caírem nas armadilhas não servirão apenas para ampliar o conhecimento sobre a riqueza biológica da região. Denise Cândido, bióloga do Instituto Butantan, entregou em dezembro para Chalkidis um aparelho portátil de extração de venenos construído por estudantes de engenharia elétrica e professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Os venenos alimentarão pesquisas de novas toxinas, em uma das vertentes de um amplo programa de trabalho que há quatro anos tem aproximado especialistas do instituto paulista e os de centros científicos e médicos do Pará.
Com sorte Chalkidis e sua equipe coletarão vários exemplares do escorpião-preto do Pará, o Tityus obscurus. Todo negro, com até nove centímetros de comprimento, ele causa a maioria dos 1.300 casos anuais notificados de picadas de escorpiões na Região Norte. Com mais bichos à mão, a equipe do Butantan poderá trabalhar mais rapidamente para resolver o que ainda é um mistério: o soro do instituto paulista, feito contra o veneno do Tityus serrulatus, parece não ser capaz de neutralizar os efeitos do veneno do escorpião-preto de Santarém sobre o sistema nervoso, embora seja eficaz contra a ação neurotóxica do escorpião-preto de Belém, capital do Pará. “Podem ser espécies diferentes, ainda que morfologicamente idênticas”, cogita o biólogo do Butantan Antonio Brescovit. Na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, Pedro Pardal estuda a genética dos escorpiões para saber o que de fato os diferencia.
Competências dispersas - Pardal já havia mostrado em um artigo publicado em 2003 na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical que os acidentes causados por picadas de escorpiões apresentavam características únicas em Santarém, com sintomas predominantemente neurológicos – provavelmente porque, de acordo com os estudos de Lourival Possani, pesquisador brasileiro que trabalha no México, uma das cerca de 60 toxinas do veneno, a Tc1, é bem pequena, e por essa razão poderia atravessar as barreiras que protegem o cérebro. As picadas do escorpião-preto causam intensas contrações musculares – ou espasmos –, além da dificuldade de falar, taquicardia e hipertensão arterial. No hospital municipal de Santarém, a médica Mariana Quiroga e o médico Paulo Abati verificaram que o diazepam, usado para aplacar ansiedade e convulsões, pode ajudar a controlar os espasmos das pessoas picadas por escorpiões-pretos. “Foi o único jeito que encontramos”, diz ela, argumentando que os espasmos causados pela picada do escorpião-preto assemelhavam-se aos sintomas neurológicos causados por quadros graves de tétano que podem ser tratados com diazepam.
A equipe que reúne os mais experientes pesquisadores do Butantan está identificando, reunindo e mobilizando especialistas antes dispersos nos centros de pesquisa do Pará como Chalkidis, Pardal e Mariana. Ou como Rosa Mourão, à frente de um grupo da UFPA em Santarém que encontrou compostos químicos capazes de deter a hemorragia causada por venenos de serpentes em extratos de 18 plantas da região que os moradores usam normalmente. “Os caboclos tomam um xarope de plantas antiofídicas antes de ir para a mata”, diz ela. “Ou aplicam a planta macerada sobre a picada para tirar a dor ou reduzir a inflamação.” Segundo ela, os extratos vegetais podem conter inibidores de enzimas como fosfolipases e proteases, que, se devidamente investigadas, poderiam embasar novas drogas antiofídicas ou contra outras doenças marcadas por processos inflamatórios intensos, como a artrite.
“Não teria sentido fazer nada em paralelo, sem aproveitar as competências locais”, comentou Otávio Mercadante, diretor do instituto paulista, ao abrir o quarto encontro anual que expôs os avanços e os planos das equipes dos dois estados em um auditório das Faculdades Integradas do Tapajós, no final de outubro. “O Butantan nunca vai substituir ou concorrer com as instituições locais. Nosso trabalho será complementar.” Desde que começou a visitar o Pará em busca de espaços favoráveis à pesquisa, Mercadante aliou-se a quatro universidades (a estadual, a federal, as FIT e o Instituto Esperança de Ensino Superior, Iespes), o Museu Paraense Emilio Goeldi, de Belém, e uma organização social, o Projeto Saúde e Alegria (PSA), que atende comunidades ribeirinhas.
http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=4025&bd=1&pg=1&lg=
Fasesp - Carlos Fioravanti, de Santarém e Belterra
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