Mais raros e mais intensos

Aquecimento produzirá menos furacões, mas com poder de destruição 60% maior
Mais intensos, ainda que menos frequentes. Assim serão os furacões até o fim do século, segundo a avaliação de dez cientistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM). As mudanças climáticas aumentarão a velocidade dos ventos e as tempestades.

Até a área das catástrofes pode crescer. O litoral brasileiro, nas regiões Sul e Sudeste, por exemplo, passa por uma fase especialmente propensa a este fenômeno climático.

Embora os cálculos da OMM concluam que o número de furacões pode diminuir em 34%, o corte seria observado principalmente entre os fenômenos de média e baixa profundidade. Os tufões remanescentes seriam encorpados: sua potência, medida pela velocidade do vento, aumentaria até 11%. O percentual parece tímido, mas já é o bastante para aumentar os estragos em 60%.

O levantamento da OMM veio apenas um mês depois de uma pesquisa sobre o mesmo tema coordenada pelo Instituto de Estudos Oceânicos e Atmosféricos Americanos.

De acordo com o órgão dos EUA, os furacões de categoria 4 e 5 (as mais altas) praticamente dobrariam até o fim do século.

Estes furacões têm ventos superiores a 211 km/h e acontecem, em média, uma vez a cada sete anos naquele país. O último foi o Katrina, em 2005, que devastou a cidade de Nova Orleans e deixou mais de 1.800 mortos.

- Aquele ano foi repleto de eventos climáticos significativos, mas, desde então, não registramos furacões semelhantes - avalia Augusto José Pereira Filho, professor do Instituto Astronômico e Geofísico da USP. - Foi, portanto, um período de poucos furacões, embora de intensidade maior. Mas é cedo para afirmar se este padrão será repetido até o fim do século.

Segundo Pereira Filho, o comportamento seguido pelos furacões nos últimos anos é o mesmo observado com as chuvas. Na grande São Paulo, as precipitações ocorreram menos vezes nas últimas décadas, embora tenham ganhado em intensidade.

Cauteloso, o cientista prefere não atribuir estas alterações ao aquecimento global.

- Quando o furacão Catarina passou pelo sul do país, em 2004, pensamos que ele seria o sinal de uma mudança significativa, mas não houve qualquer outro evento depois - lembra. - As transformações, portanto, podem ser isoladas. Prova disso é que só agora reunimos condições um pouco mais propícias para a ocorrência de um furacão em nosso litoral. Ainda assim, nada deve acontecer.

A água está muito aquecida, uma condição fundamental, mas as correntes marítimas do El Niño atrapalham a formação de furacões.

Tempestades até 20% maiores

O estudo da OMM, divulgado domingo (21/2) na revista "Nature Geocience", considerou como cenário um planeta cuja temperatura global, no fim do século, será 2,8 graus Celsius maior do que hoje. Para ambientalistas, trata-se de uma hipótese conservadora, já que muitos acreditam que este aumento chegue a 4 graus.

As tempestades serão 20% maiores a até 100 quilômetros do olho do furacão. Segundo o artigo publicado no fim de semana, essas precipitações terão "provavelmente" um impacto maior ao observado hoje.

No artigo, os pesquisadores ressaltam que suas estimativas podem variar de acordo com o local analisado. Os dados seriam mais frágeis no Oceano Atlântico.

Em ambos os hemisférios, a incidência de furacões é mais forte na transição do verão para o outono, quando o oceano atinge sua temperatura máxima e a atmosfera esfria.

Esta é a condição ideal para a formação das tempestades. No Hemisfério Sul, porém, a temperatura da água não é tão alta, e há grande ocorrência de correntes marítimas, o que torna este fenômeno climático menos comum por aqui.

(Renato Grandelle)(O Globo, 23/2)

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