"Exemplo de Portugal merece ser estudado"
Carlos Roberto Moura é presidente do Clube de Engenharia de Brasília. Artigo publicado no "Correio Braziliense":
Embora descendente de portugueses, meu pai, como bom brasileiro, gostava de contar piadas ironizando nossos colonizadores. Entretanto, nunca acreditou na alardeada burrice lusitana. Da mesma forma, sempre admirei a competência dos colegas engenheiros lusos.
Assim, logo que me formei na Escola Nacional de Engenharia, no Rio, em dezembro de 1960, tratei de embarcar para Lisboa, em 3 de janeiro de 1961, rumo ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o famoso LNEC. Tive, então, a oportunidade de conhecer um pouco da tecnologia portuguesa em barragens, especialmente de concreto, e na engenharia hidráulica em geral.
Não por acaso, é português o projeto da barragem em abóboda delgada de concreto da Usina de Funil, no Rio Paraíba do Sul, perto de Resende (RJ). Também o alargamento da praia de Copacabana, realizado nos anos 60 (governo Lacerda), contou com a supervisão do estimado professor Lajinha, do LNEC.
Essas antigas lembranças vieram-me à mente quando tomei conhecimento da notável expansão da geração de energia eólica ocorrida em Portugal, após 2008. Hoje, 36% da eletricidade consumida é proveniente dos ventos ou diretamente do sol. Assim, houve significativa redução na dependência da importação de combustíveis fósseis, com evidentes vantagens econômicas e ambientais.
Atualmente, são europeus os países líderes na participação eólica em suas matrizes energéticas: Dinamarca, com 20%; Portugal, 15%; e Espanha, alcançando pouco mais de 14%. O segundo lugar lusitano foi obtido em 2009, graças a um incremento de 31,6% em relação a 2008. Uma das estratégias utilizadas para o aumento da geração eólica foi a promoção do uso privado, incentivando o uso de pequenos aerogeradores.
A situação brasileira é bastante diferente, pois temos mais de 45% da energia (como um todo) oriunda de fontes renováveis. Na área de eletricidade, temos posição invejável com a predominância absoluta da energia hidráulica. Porém, são enormes os desafios. Não há desenvolvimento econômico sem aumento do consumo de energia. Se a demanda por eletricidade crescer mais rapidamente que a capacidade de ofertar energia ocorrerá desequilíbrio que precisa ser evitado. O apagão de 2001 mostrou-nos a necessidade imperiosa da diversificação das fontes energéticas.
É de fundamental importância o investimento em diferentes fontes de geração para que o Brasil possa se desenvolver de forma sustentável. Em termos mundiais, o uso de petróleo continua a crescer em decorrência do padrão de consumo ainda predominante nos Estados Unidos e da explosão desenvolvimentista na China e na Índia. O Brasil ocupa posição de liderança na tecnologia de fabricação do etanol e na sua produção industrial. Graças aos avanços tecnológicos e à evolução do processo produtivo, o álcool tornou-se competitivo.
Embora sejam grandes as dificuldades para o licenciamento ambiental, a energia hidrelétrica ainda é primordial ao atendimento do sistema elétrico brasileiro. Assim, temos o desafio de construir Belo Monte e as usinas do Rio Madeira - Jirau e Santo Antônio, e mais outros aproveitamentos na Amazônia. Além disso, há a necessidade de investimento em linhas de transmissão, como o linhão Tucuruí-Manaus e a LT Porto Velho-Manaus, em corrente contínua.
Apesar de 70% do seu território não ter sido prospectado, o Brasil possui reserva de 310 mil toneladas de urânio (sexta maior do mundo). Por isso, a construção da usina nuclear Angra 3 e de outra no Nordeste é altamente recomendável com o objetivo de diversificar a base da curva de carga do sistema.
Com referência à energia complementar, estamos também em condições de vencer o desafio de incrementar o uso de fontes renováveis, pois temos as dádivas do sol tropical, ventos abundantes e terras férteis, que favorecem o uso do álcool, bagaço de cana, carvão vegetal e até lenha, de forma sustentável.
Certamente teremos aumento da utilização da energia solar de forma direta para aquecimento de água. Mas é a energia eólica que se apresenta com grande potencial de crescimento, desde que vencido o desafio de reduzir os custos das usinas, como ocorreu no setor sucroalcooleiro. No caso da geração eólica, os equipamentos ainda são muito caros, o que dificulta sua competitividade.
No entanto, investimentos para incentivar o uso maior dos ventos na nossa matriz energética podem vir a ser rentáveis futuramente, muito embora a participação maior ou menor de uma fonte não seja apenas um ato de vontade política. No momento presente, o exemplo de Portugal merece ser estudado, pois mais uma vez a experiência dos portugueses pode vir a ser útil ao Brasil.
Carlos Roberto Moura é presidente do Clube de Engenharia de Brasília. Artigo publicado no "Correio Braziliense":
Embora descendente de portugueses, meu pai, como bom brasileiro, gostava de contar piadas ironizando nossos colonizadores. Entretanto, nunca acreditou na alardeada burrice lusitana. Da mesma forma, sempre admirei a competência dos colegas engenheiros lusos.
Assim, logo que me formei na Escola Nacional de Engenharia, no Rio, em dezembro de 1960, tratei de embarcar para Lisboa, em 3 de janeiro de 1961, rumo ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o famoso LNEC. Tive, então, a oportunidade de conhecer um pouco da tecnologia portuguesa em barragens, especialmente de concreto, e na engenharia hidráulica em geral.
Não por acaso, é português o projeto da barragem em abóboda delgada de concreto da Usina de Funil, no Rio Paraíba do Sul, perto de Resende (RJ). Também o alargamento da praia de Copacabana, realizado nos anos 60 (governo Lacerda), contou com a supervisão do estimado professor Lajinha, do LNEC.
Essas antigas lembranças vieram-me à mente quando tomei conhecimento da notável expansão da geração de energia eólica ocorrida em Portugal, após 2008. Hoje, 36% da eletricidade consumida é proveniente dos ventos ou diretamente do sol. Assim, houve significativa redução na dependência da importação de combustíveis fósseis, com evidentes vantagens econômicas e ambientais.
Atualmente, são europeus os países líderes na participação eólica em suas matrizes energéticas: Dinamarca, com 20%; Portugal, 15%; e Espanha, alcançando pouco mais de 14%. O segundo lugar lusitano foi obtido em 2009, graças a um incremento de 31,6% em relação a 2008. Uma das estratégias utilizadas para o aumento da geração eólica foi a promoção do uso privado, incentivando o uso de pequenos aerogeradores.
A situação brasileira é bastante diferente, pois temos mais de 45% da energia (como um todo) oriunda de fontes renováveis. Na área de eletricidade, temos posição invejável com a predominância absoluta da energia hidráulica. Porém, são enormes os desafios. Não há desenvolvimento econômico sem aumento do consumo de energia. Se a demanda por eletricidade crescer mais rapidamente que a capacidade de ofertar energia ocorrerá desequilíbrio que precisa ser evitado. O apagão de 2001 mostrou-nos a necessidade imperiosa da diversificação das fontes energéticas.
É de fundamental importância o investimento em diferentes fontes de geração para que o Brasil possa se desenvolver de forma sustentável. Em termos mundiais, o uso de petróleo continua a crescer em decorrência do padrão de consumo ainda predominante nos Estados Unidos e da explosão desenvolvimentista na China e na Índia. O Brasil ocupa posição de liderança na tecnologia de fabricação do etanol e na sua produção industrial. Graças aos avanços tecnológicos e à evolução do processo produtivo, o álcool tornou-se competitivo.
Embora sejam grandes as dificuldades para o licenciamento ambiental, a energia hidrelétrica ainda é primordial ao atendimento do sistema elétrico brasileiro. Assim, temos o desafio de construir Belo Monte e as usinas do Rio Madeira - Jirau e Santo Antônio, e mais outros aproveitamentos na Amazônia. Além disso, há a necessidade de investimento em linhas de transmissão, como o linhão Tucuruí-Manaus e a LT Porto Velho-Manaus, em corrente contínua.
Apesar de 70% do seu território não ter sido prospectado, o Brasil possui reserva de 310 mil toneladas de urânio (sexta maior do mundo). Por isso, a construção da usina nuclear Angra 3 e de outra no Nordeste é altamente recomendável com o objetivo de diversificar a base da curva de carga do sistema.
Com referência à energia complementar, estamos também em condições de vencer o desafio de incrementar o uso de fontes renováveis, pois temos as dádivas do sol tropical, ventos abundantes e terras férteis, que favorecem o uso do álcool, bagaço de cana, carvão vegetal e até lenha, de forma sustentável.
Certamente teremos aumento da utilização da energia solar de forma direta para aquecimento de água. Mas é a energia eólica que se apresenta com grande potencial de crescimento, desde que vencido o desafio de reduzir os custos das usinas, como ocorreu no setor sucroalcooleiro. No caso da geração eólica, os equipamentos ainda são muito caros, o que dificulta sua competitividade.
No entanto, investimentos para incentivar o uso maior dos ventos na nossa matriz energética podem vir a ser rentáveis futuramente, muito embora a participação maior ou menor de uma fonte não seja apenas um ato de vontade política. No momento presente, o exemplo de Portugal merece ser estudado, pois mais uma vez a experiência dos portugueses pode vir a ser útil ao Brasil.
(Correio Braziliense, 22/2) - Carlos Roberto Moura

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