Amendoim: excelente potencial para biodiesel

Ele rende 50% de óleo, mas é pouco lembrado no setor bioenergético. A não ser pela pesquisa, que busca cultivares propícias

Da soja, pode-se extrair 20% de óleo para fabricação de biodiesel. Do amendoim, algumas variedades produzem até 50% de óleo para a mesma finalidade. A diferença é que, hoje, a soja é o principal vegetal utilizado no país para fabricação de biodiesel. O amendoim, por sua vez, continua de escanteio comercialmente, quando o assunto é bioenergia.

Para alguns pesquisadores, porém, o amendoim tem potencial para desbancar a soja. O agrônomo da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), Dilson Cáceres, especialista em oleaginosas, diz que "quando o mercado deixar de focar o volume de produção e se voltar para a qualidade, o óleo de amendoim poderá ser uma das principais fontes de biodiesel".

Ainda falta um longo caminho até que o amendoim alcance este status. Primeiro porque as áreas de cultivo são pequenas e limitam-se praticamente a São Paulo, que concentra 90% das lavouras da oleaginosa, cultivada em regime de rotação com a cana-de-açúcar.

Segundo, porque a maior parte da produção é destinada ao setor de confeitaria, o que diminui ainda mais o volume de matéria-prima destinado ao óleo, que atualmente também vai para fins culinários.

Um dos caminhos para tornar o amendoim a principal fonte de biodiesel no Brasil é investir no melhoramento genético, defende o pesquisador Ignácio José de Godoy, do Instituto Agronômico (IAC-Apta). Segundo ele, o alto custo de produção do óleo de amendoim não estimula as empresas a produzir biodiesel, já que o que se paga pelo combustível é menos do que pelo óleo puro, com alto valor agregado.

Ponto crítico

"O custo de produção é alto, de R$ 2.200 por hectare, o que torna inviável um projeto exclusivo para biodiesel", diz. A estratégia, para ele, é investir no desenvolvimento de variedades com alto teor de óleo e resistentes a pragas e doenças. Segundo Godoy, este ponto é crítico, porque no amendoim os gastos com defensivos representam 25% do custo de produção.

Para o pesquisador, o desenvolvimento de variedades resistentes e produtivas tanto em óleo quanto por hectare pode estimular o surgimento de um sistema de produção dirigido especificamente para o setor energético, o que hoje não ocorre. "Atualmente o que abastece as empresas produtoras de óleo é o amendoim descartado nas empresas de confeitaria."

No ano passado, o IAC-Apta lançou o IAC caiapó, variedade de amendoim resistente a múltiplas doenças e que possui cerca de 50% de óleo na semente.

Segundo Godoy, a cultivar, de porte rasteiro, já despertou o interesse da indústria de óleo, que está testando seu cultivo fora do Estado. É o caso da Brumau Comércio de Óleos Vegetais, uma das maiores esmagadoras de amendoim do Brasil. A empresa plantou recentemente 1.250 hectares no Estado do Tocantins.

Conforme com o gerente de Desenvolvimento da Brumal, Claudio Rocha, o objetivo da empresa é, no médio prazo, entrar definitivamente no mercado de biodiesel (hoje o foco da empresa é a exportação de óleo comestível). "Mas, para tanto, é preciso tornar viável o plantio em larga escala",diz Rocha. O próximo passo é calcular a redução de custos com o plantio da variedade melhorada, "questão vital para o cultivo em larga escala".

Mais uma

Godoy adianta que o IAC-Apta está desenvolvendo outra variedade, chamada de IAC 505. "A expectativa é lançá-la até o fim do ano. Assim como a IAC caiapó, essa variedade tem alto teor de óleo, 49%, e resiste bem a doenças."

A Embrapa é outra entidade que tem investido no melhoramento genético do amendoim voltado à produção de biodiesel. Desde 2005 a empresa formou uma frente de pesquisa em biodiesel que busca desenvolver variedades propícias para o semiárido brasileiro, diz a responsável pelo programa, Roseane Cavalcante dos Santos.

Ela diz que já existe uma variedade sendo testada em Petrolina (PE) e no Rio Grande do Norte: o amendoim branco, que recebeu esse nome por causa da cor clara da casca da semente. "A próxima fase é a divulgação e o incentivo ao plantio", diz Roseane. Segundo ela, a variedade possui 50% de óleo e suas características fazem com que não concorra com as cultivares utilizadas no setor alimentício.
(Leandro Costa)

Indústria de óleo é novo mercado para produtor

Acostumada a comprar amendoim de qualidade inferior, a indústria de óleo está mudando seu padrão de exigência. Se antes o valor pago pelo amendoim para óleo era pouco atrativo, hoje ele se equipara ao pago pela indústria alimentícia. "No ano passado o valor foi o mesmo, entre R$ 14 e R$ 18 a saca", diz o gerente comercial de uma exportadora de óleo de Pompeia (SP), Oscar Matsubara.

"Antes, ficávamos com o resíduo. Agora, só compramos amendoim de primeira." Só quatro empresas, três em São Paulo e uma em Minas, exportam óleo de amendoim. "É um mercado com boa demanda."

No ano passado Matsubara calcula que a indústria de óleo absorveu 47% da produção. "A cada ano, esse volume vai aumentar." Europa e Ásia, os principais mercados, são exigentes e o óleo exportado pelo Brasil, obtido de matéria-prima de baixa qualidade, estava perdendo competitividade. O óleo de amendoim é nobre e de valor bem acima do de soja. O preço internacional do óleo bruto está em US$ 1.250 a tonelada.

Início de safra

No campo, produtores estão animados com a safra de amendoim que começou a ser colhida. Além da boa qualidade dos grãos, o preço da saca está maior em comparação ao ano passado. Segundo o produtor José Nilton dos Santos, que possui 500 hectares em Paraguaçu Paulista (SP), a saca de 25 quilos do amendoim rasteiro está entre R$ 20 e R$ 22; no ano passado, variou de R$ 14 a R$ 16. "Pretendo colher 32 mil sacas, mas tenho de esperar, pois a colheita vai até abril."

O aumento do preço é atribuído à menor oferta. No ano passado a indústria de óleo absorveu boa parte da safra. "Também houve redução de 20% da área plantada, por causa do atraso na colheita da cana e baixo preço da saca na safra passada", diz o vice-presidente do setor de amendoim da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), Renato Fechino. "A expectativa este ano é positiva. O amendoim é um dos snacks preferidos em eventos festivos, como a Copa do Mundo", diz Fechino.

O produtor Nilton Luiz de Souza, de Jaboticabal (SP), diz que o excesso de chuvas não comprometeu o rendimento. "A produtividade aumentou e está entre 230, 235 sacas por hectare. No ano passado a média foi de 225 sacas por hectare", diz Souza, que possui 200 hectares de amendoim. "A qualidade também está boa, com grãos bem formados. Numa saca de 25 quilos, tiro 20 quilos só de grãos." Se essa média de rendimento se mantiver, Santos deve colher 47 mil sacas de amendoim.

"A produtividade no ano passado foi de 165 sacas por hectare; este ano deve chegar a 185 sacas/hectare", diz o agrônomo Paulo Henn, da Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona do Guariba. Há dois anos, a cooperativa exporta para a Europa amendoim branco, inteiro e sem película. "Isso gera um valor agregado de US$ 100 por tonelada", diz Henn. A filial em Jaboticabal da cooperativa é a maior processadora e exportadora de amendoim do país, com 2,1 milhões de sacas recebidas/ano.

(Fernanda Yoneya)(O Estado de SP, 3/3)

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