Pesquisadores da USP conseguem frear o avanço da forma crônica da doença em camundongos. Estudo traz esperança de novos tratamentos para quem sofre do mal
Silvia Pacheco escreve para o "Correio Braziliense":
O tratamento de insuficiência renal ainda é bastante sofrido para os pacientes. Dependendo da gravidade da doença, que pode ser aguda ou crônica, a pessoa precisa ser submetida a sessões periódicas de diálise, que além de dolorosa, deixa o paciente dependente de uma máquina ou bolsa para sobreviver. Algumas pessoas sofrem anos enquanto esperam por um transplante de órgãos.
Daí a importância de um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que conseguiu recuperar a função renal de camundongos a partir da aplicação de injeção de células-tronco. A pesquisa, publicada na revista especializada Stem Cells, traz esperanças de que um tratamento menos penoso surja no futuro.
Os cientistas retiraram células-tronco da medula óssea de ratos saudáveis e as introduziram em roedores com insuficiência renal crônica - o modelo experimental usado reproduz as fases intermediária e final da doença. No fim do estudo, a função dos rins nesses animais, que era de 20% de sua capacidade, passou a 50%.
"Esses resultados são inéditos na literatura médica e extremamente importantes, porque as células foram capazes de diminuir a progressão da doença renal", diz a coordenadora da pesquisa, Lúcia Andrade, do Laboratório de Pesquisa Básica da Disciplina de Nefrologia da FMUSP.
Ela ressalta que as células-tronco não acabaram completamente com o problema. Mas os resultados impressionam. Em humanos, se os rins funcionam com apenas 20% da capacidade, o paciente precisa se submeter à diálise periodicamente. Já com 50% de funcionamento, é possível levar uma vida normal, desde que a pessoa siga uma dieta adequada e receba acompanhamento médico.
Contudo, o método ainda é experimental, usado apenas em animais. Não há previsão de quando será possível ser aplicado em seres humanos. Segundo Lúcia, ainda é preciso estudar se as células-tronco podem se transformar em tumores. "Apesar de os estudos com células-tronco ocorrerem no mundo todo, eles ainda são recentes. Não sabemos quais podem ser os efeitos colaterais em humanos", explica.
Entusiasmo
A pesquisa ajuda ainda no entendimento do mecanismo de ação das células-tronco e da doença renal crônica. Os resultados sugerem que essas células, provenientes de animais adultos, são capazes de prevenir e até mesmo de regenerar a função e o tecido renal. "Isso é algo entusiasmante", comemora Lúcia.
O coordenador do Laboratório de Imunologia Clínica Experimental da USP, Niels Olsen Saraiva Camara, também se mostra animado com os resultados alcançados no experimento. Ele acha possível que os resultados encontrados nos ratos possam ser obtidos em humanos, mas num futuro ainda distante.
"Em seres humanos, o diagnóstico de insuficiência renal crônica é tardio. Já o tempo de observação em animais experimentais é curto. Precisamos de mais tempo para demonstrar os benefícios e a segurança de um tratamento com terapia celular em humanos com patologias renais, mas estamos caminhando rápido", afirma.
O presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Emmanuel de Almeida Burdmann, compartilha o entusiasmo. "Em termos clínicos, isso significaria o potencial de paralisar a doença, impedindo sua progressão para as formas que exigem diálise ou transplante", analisa.
Depois do sucesso do experimento em ratos, os pesquisadores querem testar o tratamento em cães no próximo ano. A equipe trabalhará com o grupo da doutora Márcia Neri, pesquisadora da disciplina de clínica veterinária da USP.
"Vamos fazer um estudo terapêutico nesses animais com insuficiência renal crônica para ver se teremos o mesmo resultado que alcançamos no modelo experimental com ratos", explica Lúcia.
(Correio Braziliense, 17/9)
Silvia Pacheco escreve para o "Correio Braziliense":
O tratamento de insuficiência renal ainda é bastante sofrido para os pacientes. Dependendo da gravidade da doença, que pode ser aguda ou crônica, a pessoa precisa ser submetida a sessões periódicas de diálise, que além de dolorosa, deixa o paciente dependente de uma máquina ou bolsa para sobreviver. Algumas pessoas sofrem anos enquanto esperam por um transplante de órgãos.
Daí a importância de um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que conseguiu recuperar a função renal de camundongos a partir da aplicação de injeção de células-tronco. A pesquisa, publicada na revista especializada Stem Cells, traz esperanças de que um tratamento menos penoso surja no futuro.
Os cientistas retiraram células-tronco da medula óssea de ratos saudáveis e as introduziram em roedores com insuficiência renal crônica - o modelo experimental usado reproduz as fases intermediária e final da doença. No fim do estudo, a função dos rins nesses animais, que era de 20% de sua capacidade, passou a 50%.
"Esses resultados são inéditos na literatura médica e extremamente importantes, porque as células foram capazes de diminuir a progressão da doença renal", diz a coordenadora da pesquisa, Lúcia Andrade, do Laboratório de Pesquisa Básica da Disciplina de Nefrologia da FMUSP.
Ela ressalta que as células-tronco não acabaram completamente com o problema. Mas os resultados impressionam. Em humanos, se os rins funcionam com apenas 20% da capacidade, o paciente precisa se submeter à diálise periodicamente. Já com 50% de funcionamento, é possível levar uma vida normal, desde que a pessoa siga uma dieta adequada e receba acompanhamento médico.
Contudo, o método ainda é experimental, usado apenas em animais. Não há previsão de quando será possível ser aplicado em seres humanos. Segundo Lúcia, ainda é preciso estudar se as células-tronco podem se transformar em tumores. "Apesar de os estudos com células-tronco ocorrerem no mundo todo, eles ainda são recentes. Não sabemos quais podem ser os efeitos colaterais em humanos", explica.
Entusiasmo
A pesquisa ajuda ainda no entendimento do mecanismo de ação das células-tronco e da doença renal crônica. Os resultados sugerem que essas células, provenientes de animais adultos, são capazes de prevenir e até mesmo de regenerar a função e o tecido renal. "Isso é algo entusiasmante", comemora Lúcia.
O coordenador do Laboratório de Imunologia Clínica Experimental da USP, Niels Olsen Saraiva Camara, também se mostra animado com os resultados alcançados no experimento. Ele acha possível que os resultados encontrados nos ratos possam ser obtidos em humanos, mas num futuro ainda distante.
"Em seres humanos, o diagnóstico de insuficiência renal crônica é tardio. Já o tempo de observação em animais experimentais é curto. Precisamos de mais tempo para demonstrar os benefícios e a segurança de um tratamento com terapia celular em humanos com patologias renais, mas estamos caminhando rápido", afirma.
O presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Emmanuel de Almeida Burdmann, compartilha o entusiasmo. "Em termos clínicos, isso significaria o potencial de paralisar a doença, impedindo sua progressão para as formas que exigem diálise ou transplante", analisa.
Depois do sucesso do experimento em ratos, os pesquisadores querem testar o tratamento em cães no próximo ano. A equipe trabalhará com o grupo da doutora Márcia Neri, pesquisadora da disciplina de clínica veterinária da USP.
"Vamos fazer um estudo terapêutico nesses animais com insuficiência renal crônica para ver se teremos o mesmo resultado que alcançamos no modelo experimental com ratos", explica Lúcia.
(Correio Braziliense, 17/9)
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