Afiado até o fim


Pesquisas concluídas recentemente – e outras ainda em andamento – no Brasil e no exterior vêm permitindo conhecer em detalhes alguns dos fenômenos químicos e biológicos característicos do envelhecimento, em especial do cérebro e de outros órgãos do sistema nervoso central que controlam a forma como percebemos o mundo e interagimos com ele. Realizados com pessoas e animais saudáveis, vários desses trabalhos devem contribuir para que nos próximos anos se consiga definir com mais precisão a fronteira que separa as alterações típicas do envelhecimento natural daquelas que caracterizam o princípio de enfermidades neurodegenerativas aniquiladoras como o mal de Alzheimer, que atinge cerca de 5% das pessoas com mais de 60 anos e se torna mais e mais comum à medida que a idade avança. Segundo alguns especialistas, hoje essa fronteira estaria mais para uma larga faixa do que uma linha.

“Estabelecer o que é parte do envelhecimento saudável e estreitar essa fronteira talvez permita identificar mais cedo as pessoas vulneráveis a desenvolver essas doenças e tomar medidas para tentar frear o seu progresso”, afirma o psiquiatra Geraldo Busatto, coordenador do Laboratório de Neuroimagem Psiquiátrica da Universidade de São Paulo (USP), que vem investigando o processo natural de envelhecimento do cérebro.

Esse conhecimento, aliás, torna-se cada vez mais fundamental à medida que a população humana envelhece, a galope, nas diferentes regiões do planeta. A proporção de adultos com mais de 60 anos deve crescer continuamente ao longo deste século – de modo mais acelerado em sua primeira metade, segundo uma projeção publicada na revista Nature no início de 2008 – e passar de 10% da população mundial em 2000 para 22% em 2050 e 32% em 2100. No início do próximo século o Japão será praticamente uma nação de idosos: metade dos japoneses terá mais de 60 anos. No Brasil não será diferente. O índice de pessoas com mais de 60 anos deve triplicar até 2050, passando dos atuais 9% para 29%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em paralelo ao aumento da expectativa de vida, gastos públicos e privados devem crescer, uma vez que os idosos consomem mais recursos de saúde do que os mais jovens. Estimativas apresentadas anos atrás por James Lubitz em dois artigos no New England Journal of Medicine dão uma ideia de quanto custam alguns anos a mais de vida nos Estados Unidos. Uma pessoa que morre aos 65 anos gasta com saúde no último ano de vida cerca de US$ 31,2 mil. Quem vive mais 25 anos e chega aos 90 desembolsa US$ 235,4 mil, a maior parte com atendimento médico e cuidados de enfermagem.

http://www.revistapesquisa.fapesp.br:80/index.php?art=3891&bd=1&pg=1

(Fapesp - Ricardo Zorzetto)

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