Pesquisadores
alegam que intervenção humana provoca mudanças irreversíveis no planeta. Marcas
da civilização caracterizariam época antropocena, onde homem e natureza são
indivisíveis: uma nova era de responsabilidade.
A
escala de tempo geológico estabelece éons, eras, períodos, épocas e idades que
permitem categorizar diferentes fases desde a formação do planeta. Há
aproximadamente 11,7 mil anos, estudos focam a chamada época holocena. Mas a
comunidade científica propõe uma revisão desse conceito: o novo período,
chamado de Antropoceno, estabelece uma ligação intrínseca entre o ser humano e
a natureza.
Em
outros tempos, as paisagens eram determinadas por rios, vulcões, o movimento da
Terra e mudanças climáticas naturais. Hoje, a interferência humana afeta
diretamente esse processo. Tal visão implica uma mudança radical na ciência,
pois não se pode mais conceber um processo evolutivo natural sem a
interferência do homem e da tecnologia.
A
visão tradicional costuma dividir o mundo entre a – quase sempre – “boa
natureza” e o “homem mau e sua técnica”, explica o geólogo Reinhold Leinfelder,
da Universidade Livre de Berlim, que pesquisa profundamente a teoria do
Antropoceno. Em sua opinião, essa dicotomia não é mais aplicável.
“Chegamos
a um ponto em que o homem alterou tanto a natureza, que esta não existe mais,
no antigo sentido”, explica. Para ele e muitos de seus colegas pesquisadores,
portanto, o ser humano é agora parte dessa nova natureza – a qual se tornou impossível
de separar das marcas impostas pela tecnologia. Do ponto de vista do
antropocenismo, homem e natureza são entendidos como uma coisa só.
Alterações
locais e globais – As características das camadas sedimentares mostram as
particularidades de cada época. O Holoceno, que começou depois da última era
glacial, caracterizou-se por condições ambientais estáveis. Agora, a era
holocena deve ser separada da antropocena – embora não haja ainda um consenso
entre os especialistas sobre quando começou exatamente a nova época.
Já
há cerca de 10 mil anos, a agricultura promovia as primeiras intervenções
sistemáticas na natureza, embora em escala local. No entanto, os cientistas
concordam que a partir da revolução industrial, o mais tardar, se dá uma
influência ambiental em escala global. “Já no final do século 18 e início do 19
começamos um experimento em escala planetária”, diz Jürgen Renn, diretor do
Instituto Max Planck de História da Ciência, em Berlim.
O
geólogo Leinfelder está seguro: “Aquilo que teremos no futuro, em termos de
depósitos, de camadas geológicas, trará fortemente a nossa assinatura”. Ou
seja: os depósitos sedimentares exibirão a marca das atuais intervenções no
meio ambiente, arqueólogos encontrarão restos de nossos animais domésticos, da
mesma forma que resquícios de plantas cultivadas e partículas de plástico.
Era
da responsabilidade – O professor de História da Tecnologia Helmuth
Trischler também acredita que o ser humano e sua técnica estão inseparavelmente
ligados, e que as intervenções humanas mudaram o mundo de forma irreversível.
“Não é possível retornar a um estado primitivo chamado Holoceno.”
Deste
modo, os problemas acarretados pelas intervenções humanas – como pesca
predatória, drenagem dos solos, as montanhas de lixo – não poderão ser
enfrentados sem a técnica e sem mais outras intervenções na natureza.
Segundo
o historiador da ciência Jürgen Renn, está claro que para os seres humanos não
poderá haver um “pós-Antropoceno”. Portanto o desafio é configurar a época
atual com senso responsabilidade. Assim, a discussão quanto ao conceito de
Antropoceno visaria, sobretudo, uma coisa: despertar a consciência de que
vivemos numa época geológica determinada pelo humano, e que é preciso moldá-la
de forma responsável e sustentável.
(Fonte: Terra)
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