Má notícia para os chimpanzés. Seus humildes primos da América do Sul, os macacos-pregos, estão cada vez mais perto de empatar com eles na arte de usar ferramentas. Nova tecnologia dos bichos brasileiros: pescar cupins com galhinhos.
E não estamos falando de qualquer macaco-prego, mas do macaco-prego-galego (Cebus flavius), espécie criticamente ameaçada de extinção que hoje só existe num punhado de fragmentos de mata atlântica do Nordeste.
Os macacos-pregos já carregam há tempos a fama de “chimpanzés das Américas”, graças à inteligência, vida social complexa e habilidade com ferramentas. A espécie mais comum, a Cebus apella, tem como truque famoso quebrar coquinhos usando pedras como “martelo” – coisa que os grandes macacos africanos também fazem.
Alguns especialistas propunham, porém, que o uso de ferramentas entre os bichos seria típico de ambientes abertos e secos, como o cerrado e a caatinga.
Nesses locais, a relativa falta de comida forçaria os bichos a quebrar mais a cabeça para seu sustento. E, com menos árvores, os macacos passariam mais tempo no chão, usando a postura bípede para manipular objetos.
“O que a gente viu é que isso não faz tanto sentido, uma vez que a pesca de cupins acontece numa área de floresta”, disse à Folha Antonio Souto, etólogo (especialista em comportamento animal) da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e coordenador da pesquisa.
Chupando cana – Os cientistas acompanharam um grupo de seis macacos-pregos-galegos num fragmento de mata atlântica em meio aos canaviais de Mamanguape (PB) – a cana ali é tão presente que os bichos aprenderam a chupá-la.
Camila Bione e Monique Bastos, alunas de Souto, flagraram três dos bichos praticando a pescaria de cupins. A técnica envolve dar tapinhas no cupinzeiro, localizado no tronco da árvore, escolher um galho apropriado, enfiá-lo no ninho e girá-lo.
Os tapinhas são importantes porque os cupins “respondem a esse tipo de perturbação ficando em alerta e acabam mordendo o galho”, explica Souto. Os pesquisadores chegaram a testar por si mesmos a técnica e viram que o ritual seguido pelos macacos torna a captura de cupins mais eficiente.
“É muito interessante porque é um comportamento considerado emblemático dos chimpanzés”, diz Souto. Resta saber se haverá tempo de entender melhor a tecnologia dos macacos-pregos-galegos. Estima-se que haja menos de 200 indivíduos da espécie na natureza.
A pesquisa acaba de sair na revista científica “Biology Letters” e teve apoio financeiro do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
(Fonte: Reinaldo José Lopes/ Folha.com)
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