Titanossauro recém-descoberto no país se chamará "Petrobrasaurus". Animais "patrocinados" estão ficando comuns, e mesmo pessoas podem pagar para colocar seu nome em espécies.
Sinal dos tempos: hoje em dia até dinossauro tem "naming rights" - o termo que se usa quando uma empresa coloca o seu nome em um estádio de futebol ou em uma sala de cinema, por exemplo.
O caso de merchandising paleontológico mais recente é o de um titanossauro argentino herbívoro e quadrúpede com 85 milhões de anos de idade, 22 metros e até 35 toneladas que ganhou o nome da Petrobras, descoberto por pesquisadores de lá.
Casos parecidos aconteceram recentemente com outras empresas do ramo da Petrobras. O dino Futalognkosaurus dukei, de 2007, por exemplo, tem esse nome por causa da Duke Energy. O Panamericansaurus, de 2010, refere-se à Pan American Energy.
A homenagem dos hermanos não é, claro, só um gesto de camaradagem latino-americana: a Petrobras, que hoje tem vários poços pelo país, dá suporte logístico (como alojamento e alimentação) a paleontólogos do país que tentam encontrar fósseis perto das perfurações.
Segundo Leonardo Filippi, paleontólogo do Museo Municipal Argentino Urquiza e autor do artigo científico, não é bem, então, que a Petrobras tenha "comprado" o nome do bicho. Nas palavras dele, é um "reconhecimento da colaboração constante" da empresa brasileira.
Involuntariamente, os argentinos acabaram revivendo a crítica de que a Petrobras, supostamente gigante e lenta, seria um dinossauro. Ao menos não deram ao bicho o famigerado apelido de "Petrossauro", mas sim o nome de Petrobrasaurus puestohernandezi - o segundo nome por causa de Puesto Hernández, na Patagônia, local onde o animal foi achado.
"De um tempo para cá, dar a empresas e instituições que financiam pesquisas os animais recém-descobertos tem se tornado muito comum. Nos EUA, é prática. A National Geographic, por exemplo, é bastante lembrada", diz Mario Cozzuol, paleontólogo da Universidade Federal de Minas Gerais.
Espécies grandes e chamativas como dinossauros, claro, são consideradas mais valiosas. Quem não é uma gigante do setor petrolífero, porém, pode se contentar em nomear espécies de menor destaque - e há um vasto mercado de nomenclatura científica se consolidando.
Uma ONG europeia chamada Biopat se especializou em intermediar a venda de nomes de espécies recém-descobertas. Qualquer um pode colocar o nome que quiser em um bicho ou planta, basta pagar. É caro: eternizar o seu nome em um beija-flor, por exemplo, chega a custar mais de R$ 20 mil.
O problema é que empresas e pessoas só querem mesmo nomear espécies carismáticas como beija-flores ou orquídeas - mesmo que o pessoal da Biopat faça um bom desconto, ninguém se interessa por uma coitada de uma baratinha, digamos.
O fato de ninguém querer dar nome para insetos é tão sério que a empresa achou estranho quando um cliente alemão quis pagar para isso. Entrou em contato com ele e descobriu que o nome que ele queria colocar no bicho era... bom, era o da sua sogra.
O caso da sogra-inseto chegou a ser assunto nas páginas da normalmente sisuda revista acadêmica Science em março de 2005, em um texto que desejava justamente chamar a atenção para a grave desigualdade que a preferência por bichos e plantas fofas estava criando.
Tinha-se receio que os milhares de dólares estimulando a descoberta de espécies bonitas acabassem minando a busca por espécies na ala desprezada que natureza -vamos lá, não é porque os bichos são feios que não tem o seu valor científico.
No Brasil, esse capitalismo todo ainda não chegou à nomeação de espécies.
Homenagens são mais comuns. Foi assim que o jornalista José Hamilton Ribeiro, por votação na internet, passou a nomear um antúrio-mirim, planta ornamental de nome científico Aceae anthurium hamiltoni, encontrada em uma reserva da Vale no Espírito Santo.
(Folha de São Paulo)
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